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Homenagem a Jobim na Itália chega ao Brasil

Raphael Vidigal, jornal ‘O Tempo’, 04/09/2017

 

 

O Brasil é um país sem memória”, não foi Tom Jobim (1927-1994) quem disse, mas poderia. Afinal de contas, nas palavras do maestro, “sucesso é ofensa pessoal” no país que não está aí “para principiantes”. Pois até o futuro demora a chegar quando não se olha para o passado. Três anos após a gravação do álbum “Live in Italia – Omaggio a Jobim”, o disco ganha lançamento no Brasil, em edição da Biscoito Fino, com o registro  da apresentação que o casal Paula e Jaques Morelenbaum, acompanhado pelo Cello Sam3a Trio, realizou na cidade de Pádua, na Itália, no palco do emblemático teatro Verdi.

Foi um convite que recebemos para homenagear o Tom, no Padova Jazz Festival, um festival de muito prestígio na Itália, e que teve também exposição de fotos e lançamento do livro ‘Antônio Carlos Jobim: Uma Biografia’, do Sérgio Cabral, traduzido para o italiano pelo Salvatore Solimeno”, recorda Paula.

Na ocasião, além de músicas muito conhecidas do repertório do Maestro Soberano, a dupla optou por oferecer à plateia um cardápio musical mais abrangente. “Pensamos que a seleção deveria conter músicas famosas, para que o público italiano reconhecesse algumas, mas que também deveríamos contribuir mostrando obras menos conhecidas”, sustenta a cantora.

É esse o caso de “Modinha” (parceria com Vinicius de Moraes), música que abre o disco em inspirado arranjo de Jaques, com execução afiada de seus instrumentistas, capaz de preservar as qualidades essenciais da obra sem, com isso, soar como mera repetição ou cópia, característica, aliás, presente na maior parte dos trabalhos do violoncelista carioca. Outra canção que se destaca é uma das prediletas da entrevistada.

Foi a primeira vez que voltei a cantar ‘Gabriela’ desde a época em que me apresentava com o Tom. É uma música de que sempre gostei, e tem ainda uma ligação com a Itália, pois o Tom a criou especialmente para o filme do Bruno Barreto que tinha a Sônia Braga no papel principal e ninguém menos que o grande ator Marcello Mastroianni como seu par”, observa Paula.

Quando eu conto isso antes de cantar a canção, percebo que o fato causa uma curiosidade especial e uma certa comoção na plateia. Naturalmente, eu também fico emocionada”. Para completar o que já parece pleno, ainda comparecem clássicos do porte de “Corcovado”, “Desafinado”, “Águas de Março”, “Água de Beber”, “Retrato em Branco e Preto”, “Samba do Avião”, “Samba de uma Nota Só” e “A Felicidade”. Haja fôlego para tanta beleza contida.

Reconhecimento. “Tom é reconhecido e muito aplaudido na Itália, mas não só lá; em toda a Europa e também nos Estados Unidos e Japão, sem falar no Brasil, claro”, afirma Paula. Outro atrativo da edição em CD é a reprodução das falas de Paula e Jaques para a plateia, no intento de oferecer explicações pontuais, e perceber, dessa maneira, o quanto se emanou calor por ambas as partes naquela noite histórica.

Há, ainda, o número em que Jaques toca “Maracatuesday”, composição de sua autoria para saudar Jobim. “Quanto mais ouvirmos, mais entenderemos o universo de Tom, que retratou seu tempo, mas, sem dúvida, estava à frente dele”, define Paula.