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João Bosco e Hamilton de Holanda: ‘Eu Vou Pro Samba’

Alex Bessas, Jornal Pampulha, 29/07/2017

 

O mineiro João Bosco e o carioca-brasiliense Hamilton de Holanda têm muito em comum. Mesmo de gerações diferentes – Bosco tem 70 anos e Holanda, 40 –, são artistas que passeiam pela experimentação e pela improvisação característica do choro e do jazz. Ao longo dos anos, os dois têm divido o palco sempre que um convida o outro para participações esporádicas. Agora, este flerte finalmente deságua em uma apresentação única, em que eles dividem não duas ou três músicas, mas todo o repertório.

Já no nome, os músicos dizem a que vieram: em “Eu Vou Pro Samba”, que será apresentado em Belo Horizonte na próxima terça (1), são interpretadas composições do próprio João Bosco, de Ary Barroso e de Chico Buarque, entre outros.

Graças a sintonia explícita entre os dois, muita novidade pode aparecer. “Às vezes, na passagem de som a gente lembra de alguma música, passa sua estrutura e, no show, resolve tocar pela primeira vez”, garante Holanda. O critério para a escolha do repertório é simples: basta que se emocionem. Por isso, “o roteiro é sujeito a alteração”. “Vamos experimentando e isso traz renovação e surpresa… É ótimo dividir esse momento de criação com o público!”.

A música antes da alfabetização

A trajetória de Holanda pela música é curiosa. Antes de ser alfabetizado, o compositor já tinha intimidade com o bandolim. Acontece que, aos 4 anos, seu avô o presenteou com o instrumento. Tal feito “reverbera não só profissionalmente, mas na minha vida como um todo”, examina. Advindo de uma família de músicos, se permitiu ser influenciado por avô, pai e tio. Mas, certamente, foi o presente que selou seu destino. Afinal, de seus 40 anos, lida com as cordas há 36.

Claro, tanta proximidade possibilitou mais liberdade e até invencionices. Holanda se aprofundou no estudo da música e desenvolveu o bandolim de dez cordas – ante as oito originais. “É algo que surgiu como uma necessidade polifônica de executar uma parte maior das notas e ideias que passavam pela minha cabeça”, explica o compositor.

Holanda comenta que foi contato com o violão que o despertou para a experimentação. Além disso, “ouvir o choro, passando pelo samba, bossa nova, música clássica, e o próprio jazz, e conhecer alguns instrumentistas, como Raphael Rabello e Hermeto Pascoal, foi essencial nessa busca por originalidade”, diz.

Parceria

Quando fala de João Bosco, Holanda não poupa elogios. “Um compositor necessário da música brasileira” e “alguém que ajudou e ajuda a construir a tão falada MPB” são as formas que encontra para definir o parceiro de empreitada – que, aliás, encara como diversão.

A amizade entre eles, é verdade, já começou no palco: em 2006, Bosco foi convidado para uma participação em um show de Holanda, em Brasília. Eles trocaram mais alguns convites, até que, em 2009, o bandolinista participou das gravações do DVD “Obrigado Gente!”. “Tenho um carinho especial por esse trabalho do João, é algo que abriu muitas portas para mim”, diz, agradecido.

Os músicos ainda voltaram a trocar participações nos shows um do outro, até que “a gente realmente viu que precisava fazer mais coisas juntos”. O resultado é o show “Eu Vou Pro Samba”, que já passou por Brasília (DF) e que, depois de BH, viaja para Curitiba (PR).

Vale dizer, do que depender da vontade de Holanda, a parceria terá vida longa. “Quem sabe a gente não grava um DVD, um CD, ou faz uma turnê pela Europa...”, sugere, deixando as possibilidades em aberto. Afinal, o que interessa é “continuar tocando sempre com João Bosco!”.