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O toque de classe de Louise Wooley

 

Louise Wooley, só e com Michel Leme, Alex Buck, Paulo Malheiros, Bruno Migotto, JP Barbosa, Louise, Malheiros e Daniel de Paula.
Louise Wooley, só e com Michel Leme, Alex Buck, Paulo Malheiros, Bruno Migotto, JP Barbosa, Louise, Malheiros e Daniel de Paula.

Sem dúvida, Louise Woolley já ultrapassou a barreira de novidade e hoje é reconhecida com um dos grandes talentos do piano na música instrumental brasileira. Nessa entrevista, ela nos conta sobre a família, formação, gigs na naite e sobre seu cd lançado em 2013 e também sobre as gravações de seu mas novo trabalho.

 

WG – Que músicos foram importantes para o seu desenvolvimento como pianista?
LW – Não sei rotular o som que toco, mas posso dizer que é instrumental brasileiro (com todas as influências que isso carrega); mas o jazz sempre esteve presente em casa. Eu sei a letra de um monte de standards ao me lembrar do meu pai cantando, porque era o que tocava no rádio quando ele era pequeno. Muitos músicos foram (e ainda são) muito importantes na minha formação: Meus professores – Lilu, Silvia, Edmundo Cassis, Evaldo Soares-, Michel Leme, Arismar, Alex Buck, Thiago Alves e todos os que participaram do primeiro disco e desse também. Tem vários outros músicos com que toco e aprendo muito com eles todos, ta faltando gente na lista.

WG – Aos dezoito anos você começa a tocar pelos jazzclubs de Sampa. Que grupos e espaços você destacaria como os mais relevantes nessa sua trajetória?
LW – Comecei a tocar com meu pai em casas que nem existem mais… Lembro-me do “Garoa”, “Mojave”, “Saracura”, “Villagio”… Mas um lugar que foi muito marcante pra mim é o “Mancini”. Eu tinha uns 22 anos, meu pai tinha acabado de falecer e lá foi meu primeiro “emprego”. Tocava todos os dias da semana, 5 entradas por dia… No Mancini tem cerca de 20 músicos, todos se revezando a noite inteira em 3 espaços diferentes. Lito, que é o diretor musical, Evaldo (pianista do trio do Lito e que foi meu professor), Karlaum, Jorge Saavedra e Fernando Mota, entre outros que tocam lá até hoje; são todos figuras importantíssimas na música brasileira. Lá aprendi muito. Lembro de que quando tocava, o Evaldo (na hora de seu intervalo) ia até onde eu estava tocando e ficava da janela falando: “aí faz bloco, agora dá tal acorde” rs. E também tive, várias vezes, a oportunidade de fazer “sub” pra ele ou pro Fernando e tocar com os “véio”. A gente tomava umas xingadas de vez em quando, mas a escola era essa rsrs.

WG – Em 2013, você lança seu primeiro cd. Ele tem um conceito musical definido? Como foram feitas as gravações? E a escolha dos músicos?
LW – Acho que o conceito do primeiro disco foi se formando ao longo do processo. Em 2013, ganhei um edital do Proac pra gravar minhas composições e comecei a pensar como faria isso. Tanto a escolha dos músicos quanto a formação foi algo muito natural e não muito pensado. Eu já vinha tocando minhas músicas em bares no formato de quinteto. Quando pintou esse patrocínio, conversei com o Alex Buck (baterista e compositor) e com o Paulinho Malheiros (trombone e arranjador) e eles escolheram as composições que gostariam de arranjar. Os arranjos deles acabaram sendo no formato de septeto e outros de quinteto. Nesse primeiro disco também tem um arranjo do Evaldo, que começamos a fazer durante as aulas.

WG – O repertório é composto por sete peças de sua autoria. Conte-nos um pouco de cada uma de suas composições.
LW – Todas as músicas do primeiro disco são dedicadas a alguém. A primeira (Bedido) é dedicada ao Richard Metairon, baixista do disco. A “Pro Migotto” é pro Bruno Migotto, que acabou de gravar o disco novo. A “Jotinha” é pro João Paulo Barbosa, que gravou os dois discos. “Pro Alex” é em homenagem ao Alex Buck (baterista do primeiro) e “Pro Ed” ao Edmundo Cassis (que foi meu professor). Ah, também tem o “Pitera”, pro meu pai. Essa é a mais antiga; fiz por volta de 2003, ele ainda estava vivo e a tocávamos juntos. Já deu pra ver que não fujo muito do tema, né? rsrs. Eu tento fugir dessa coisa emocional, mas o disco novo é a mesma coisa… Tem “Pro Michel” (Leme), Pra Livia (Nestrovski, que cantou na faixa), “A caminho” (pra Marina Beraldo, Leticia Borges e Carol Bezerra), e por aí vai… Para mim sempre foi tudo misturado: amigos, família, música, profissão…E minhas composições são meu o “diário”. Soou meio brega, mas é isso rsrs.

WG – Como foi a repercussão crítica e o lançamento do CD?
LW – Foi muito mais do que esperava. Fui convidada a tocar em vários festivais e circulei bastante com esse primeiro disco. Apareceram matérias e críticas muito boas, o que me fez feliz, é claro, mas não acho que isso seja o mais importante. Isso é uma coisa que tenho em mim e que muito vem do aprendizado com o Michel Leme. O Michel é um músico que admiro muito e é muito generoso com os que querem tocar (aí é o ponto: tocar, nada a ver com reconhecimento, carreira ou qualquer outra coisa). Muitas vezes, ele me convida pra tocar em locais “fora do circuito” (rs como se existisse um vasto circuito), enfim, quero dizer, locais fora do “centro”, como a Escola Virtuose, na Zona Leste de São Paulo, ou na Luthieria, em Santo Amaro). Esses “sons” são tão prazerosos quanto (ou mais) tocar em algum ambiente que vá te dar uma “moral”. Em 2014, ganhei um edital prêmio da Funarte e fomos pro sertão do Pernambuco tocar o som do disco. Nessas horas, eu lembro o sentido de tudo. É claro que uma coisa não exclui a outra, todo mundo gosta de tocar em teatro com um som ótimo, ser reconhecido e tal, só acho que não podemos esquecer da essência da coisa e ficar em busca de um aceitação sem sentido, nos moldes da música comercial.

WG – Nesse momento, você está no estúdio realizando as gravações de seu segundo trabalho. Em que “Ressonâncias” se difere do primeiro?
LW – Acabamos de gravar o disco novo, ontem, no estúdio Soundfinger. Acho que esse disco é mais “cru” que o primeiro, no sentido de não ter tanto arranjo pré definido. Não tem a sonoridade de combo como o primeiro, apesar de muitas faixas terem o mesmo formato, de quinteto. Acho que nesse, eu me apropriei mais das composições; os poucos arranjos foram de minha autoria (no primeiro disco teve mais 3 arranjadores), o que aproxima a sonoridade à maneira que as músicas foram compostas originalmente. Nesse também tem três músicas com voz, duas com participação da Lívia Nestrovski e uma com minha filha Julia.

WG – Os músicos presentes nessas gravações serão os mesmos?
LW – A formação é parecida, mas não são todos os músicos do disco anterior. Nesse estão: João Paulo Barbosa (sax e flauta), Paulo Malheiros (trombone), Bruno Migotto (baixo acústico), Daniel de Paula (bateria), mais as participações especiais: Diego Garbin (flugelhorn), Livia Nestrovski (voz) e Julia Woolley (voz). Agora a gente parte pra aquela parte de mix, master, finalizar a arte do cd, etc… Acho que daqui a dois meses o disco já foi e voltou da fábrica. Temos algumas cidades confirmadas para o lançamento (SP, São Carlos, Ourinhos, São Luiz do Paraitinga, Garça), mas ainda não temos as datas definidas. Confirmo assim que souber por facebook, email, telegrama e afins!

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Louise Woolley – Programa Instrumental Sesc Brasil
Reduto do Jazz – Michel Leme & Louise Wolley
Louise Woolley – Programa Passagem de Som