Entrevistas

Luísa Lacerda: uma artista de raro talento

Há tempos acompanho a carreira da cantora e violonista carioca Luísa Lacerda  pelos palcos  Rio, BH e São Paulo e em festivais, onde já era percebido o grande talento desta jovem artista. Ano passado, recebi elogios a Luísa vindo do pianista e compositor Paulo Francisco Paes, com quem estava desenvolvendo  em conjunto. Como se fosse um misto de presente e premonição, acabei recebendo seus últimos trabalhos para divulgá-los. Portanto, resolvi abrir esse espaço no site, no formato de entrevista, para que vocês conheçam um pouco da sua história e música.  (Foto: Pat Duarte)

Wilson Garzon – Como surgiu o violão na sua vida: família, amigos ou outras influências? E quando foi que decidiu por uma carreira voltada para a música popular ao invés da erudita? Essa opção teve a ver também com a sua escolha para ser cantora?
Luísa Lacerda – O violão sempre esteve presente em casa, pois meu pai tocava e cantava suas músicas e músicas de outros compositores, que inclusive me influenciaram muito dentro do universo da canção brasileira. Mais ou menos aos 12 anos, pedi pra ele começar a me ensinar, e por aí fui indo: primeiro com quatro acordes, até eu decidir que queria estudar mais profundamente aquele instrumento e procurar por aulas formais de harmonia e de violão. O repertório de violão erudito chegou como uma maneira de eu me aprofundar e descobrir mil possibilidades para esse instrumento, mas minha vontade de me profissionalizar sempre teve mais a ver com o canto do que com o violão solo.

 


WG –
Entre 2017 e 2019, você lançou 3 trabalhos em parceria: ‘Meia Volta’ com Miguel Rabello, ‘Beira do Mundo‘ com Maria Clara Valle e ‘Cantiga do Breu‘ com Renato Frazão. Conte-nos um pouco sobre o conceito de cada um deles.
LL – Meia Volta‘ e o ‘Cantiga do Breu‘ são álbuns de músicas de um só compositor, Miguel e Renato, respectivamente. No primeiro, meu trabalho de estreia como cantora, sou porta-voz das músicas de Miguel e no segundo, eu e Renato participamos juntos da concepção dos arranjos (ele no violão de corda de aço e eu no violão de nylon). No ‘Beira do Mundo‘ também participo, junto com minha parceira Maria, da construção completa das quatro músicas gravadas. Nesse trabalho em duo com Maria Clara, nós apresentamos um repertório com maior variedade de compositores(as) e de gêneros musicais.

WG – ‘ em parceria com Giovanni Iasi segue a mesma linha dos anteriores ou já visava avançar um degrau acima dentro da sua carreira?
LL – O ‘‘ segue a linha do ‘Meia Volta‘, onde sou porta-voz das músicas do Giovanni. Acho que a diferença é que, do meu primeiro trabalho gravado em 2017 para este, percebo meu amadurecimento como intérprete, e espero que esse amadurecimento seja sempre perceptível à medida que os anos passam. Outra coisa é que no ‘‘ eu pude participar mais ativamente de todo o processo de gravação junto ao Elísio Freitas que gravou, mixou e masterizou o disco. Elísio me deu muita liberdade para escolhermos juntos a sonoridade deste álbum.

 

WG – Zigue-Zague‘, EP lançado em fev/21, projeto desenvolvido em plena pandemia, remete a um sonho mais antigo, o de apresentar um trabalho solo. Desde quando pensava em gravar um disco solo?
LL – Tenho essa vontade desde 2018, quando comecei a intensificar a frequência das minhas apresentações solo. Acho que o tempo que demorei pra gravar este projeto foi essencial para amadurecer o repertório e desenvolver mais técnica ao violão e penso que o disco completo, com mais músicas, ainda está por vir, pois quero contar com mais participações e aglomerações, somando aos arranjos do meu violão. Aproveito para dizer que este trabalho é dedicado ao grande artista Marcelo Pretto, que me incentivou muito para que eu registrasse meu repertório solo.

WG – Foi demorado a escolha das cinco músicas do EP? Nela há referências à Amazônia, Nordeste e poesia contemporânea. Houve um conceito ou a escolha caiu dentro do território da emoção?
LL – A escolha das canções teve muito a ver com os arranjos de violão. Eu não queria gravar músicas para as quais tenho vontade de ter outras participações, arranjos mais “cheios”. Então primeiro pensei nas músicas nas quais o violão sozinho já dava conta do recado e depois, fui escolhendo as que eu achava que “casavam” melhor uma com a outra, no sentido de trazer sim uma multiplicidade de assuntos e paisagens sonoras.
A canção ‘Êxodo‘, em especial, eu quis gravar este ano em homenagem póstuma ao letrista Marcelo Biar, que foi vítima da covid-19 em 2020.

 

WG – Assim como os parceiros musicais, você tem vários parceiros poetas, como Mauro Aguiar, Rogério Santos e André Lacerda. São todos contemporâneos? Fazem parte da nova onda de poetas que se enveredam pela música?
LL – Sim, todos contemporâneos. André Lacerda é meu pai, meu poeta-amigo e me ensinou a me apaixonar pelas palavras e valorizar letras de canções tanto quanto belas melodias. Além dos poetas citados, gostaria de mencionar aqui a Iara Ferreira e o Renato Frazão, que, apesar de não terem músicas gravadas por mim neste último trabalho solo, estão muito presentes no meu repertório e por quem tenho muita admiração.

WG – Você tem interesse de apresentar um trabalho autoral como compositora ou pretende se dedicar à sua carreira como vocalista, sendo porta-voz de uma geração ou trabalhar nas duas frentes?
LL – Não tenho vontade de compor, apesar de acreditar que sou capaz (risos). Quando pego o violão, geralmente já tenho na cabeça uma música que já existe e que quero interpretar. Me sinto completa podendo arranjar músicas de outros compositores(as), principalmente quando estes são grandes e talentosos amigos(as).

WG – Quais são seus futuros projetos? Está louca para entrar em contato com a plateia?
LL – Claro que estou muito ansiosa pela volta aos palcos, com público e de poder tocar junto com meus parceiros (isso também faz muita falta). Mas estou tentando manter a calma, pois infelizmente acredito que esse momento ainda vai demorar um pouco. Quando essa situação melhorar, quero retomar meus ensaios com meus parceiros e preparar meu disco solo completo também (com mais músicas e mais participações).
Além disso, tenho vontade de gravar um disco inteiro com Maria Clara e de fazer um especial Iara Ferreira.

 


CD ‘Zigue-Zague’

https://ps.onerpm.com/7218014405

CD “Nó” 
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