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Christiano Caldas lança ‘Afinidades’, dedicado à música mineira

Augusto Pio, jornal Estado de Minas, 22/06/2021 

São quase 30 anos de carreira. Ele já acompanhou Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini e 14 Bis, entre muitos outros. É tecladista, pianista, acordeonista, produtor musical, arranjador e engenheiro de áudio. Mas só agora Christiano Caldas lança o primeiro álbum solo, “Afinidades – Série instrumental, volume 1” (Naza Music), com 10 faixas.

As músicas são assinadas por Célio Balona, Juarez Moreira, Thiago Delegado, Celso Moreira, Bob Tostes, Eneias Xavier e Chico Amaral, entre outros. A primeira, “Vida nova outra vez”, é de um jovem talento da cena de Minas: o baixista Frederico Heliodoro, filho do guitarrista Affonsinho.

 

DESEJO

Além de realizar – finalmente – o sonho de gravar o primeiro disco solo, Christiano quis fazer homenagem ao instrumental mineiro.
O roteiro atende ao antigo desejo de reunir jovens compositores que vêm se destacando e nomes que constituíram parte de minha biografia. Eles são referências, forjaram a música instrumental em Minas.

Caldas dialoga com jazz, bossa nova e Clube da Esquina em “Afinidades”. Acompanhado de Léo Pires (bateria), André Godoy (percussão) e Aloizio Horta (baixo), ele se desdobrou nesse projeto. Cuidou da produção musical, mixagem e masterização, fez os arranjos, tocou piano e acordeom. As gravações ocorreram em março, no Stereoutono e Studio 71, sob o comando do próprio Christiano. A pandemia atrapalhou a vida de todos os músicos, mas ele garante:
Tenho trabalhado até demais, apesar de não fazer shows.

 

 

LIVES

Com efeito. Em 2020, ele produziu sete das 12 faixas do disco “Paisagens sonoras”, de Flávio Venturini. Mixou e masterizou “Drão”, canção de Gilberto Gil relançada por Milton Nascimento. Christiano também participou de lives de Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini e 14 Bis. A propósito, a agenda de apresentações dele foi totalmente cancelada. Christiano participaria de duas turnês internacionais de Milton Nascimento, do lançamento do DVD da banda 14 Bis e de vários shows de Flávio Venturini.

De repente, por causa do isolamento social, todos os projetos foram adiados. Fiquei naquela incerteza sobre como retomaria meu trabalho de outra forma. Felizmente, as coisas aconteceram.

Conversando com sua produtora, Íris Prates, Caldas decidiu aproveitar o “momento pandêmico” para gravar o disco de estreia. Comentei a minha ideia e ela disse: ‘Está na hora de você retomar o trabalho que mal começou e não desenvolveu porque estava cuidando da carreira dos outros‘.

Ele até tentou desenvolver outros projetos antes de “Afinidades”, mas abandonou todos. Desta vez, Íris tomou a frente, cuidou das formalidades.

Me empolguei com aquilo. A coisa foi fluindo e veio a Lei Aldir Blanc, que proporcionou ajuda maravilhosa não só para mim, mas para vários artistas.

Em plena pandemia, o produtor e instrumentista de meio mundo assumiu a nova fase de sua carreira. “Estava na hora de começar um trabalho mais artístico”, comenta. No início, Christiano conta que tinha o conceito de seu álbum solo “mais ou menos na cabeça”. Aprovado pela Lei Aldir Blanc, o projeto deu certo.

A coisa aconteceu. Está sendo uma surpresa maravilhosa, acima da minha expectativa. Não trouxe convidados para o disco. Peguei uma canção de cada amigo e regravei. São pessoas com quem tenho envolvimento musical.
Ele faz a lista: gravou uma composição de Juarez Moreira, duas do irmão dele, Celso Moreira, e duas de Frederico Heliodoro, com quem já trabalhou muito.
Também gravei uma do Célio Balona, grande parceiro. E outra do Bob Tostes com o Marcelo Gaz. Foi Bob quem me apresentou a Roberto Menescal, fizemos muitos shows juntos.

Entre as novidades, surgiu o Christiano Caldas acordeonista.

Estou inserindo o instrumento aos poucos em minha carreira. ‘Horizonte’ (de Bob Tostes e Marcelo Gaz) é linda, a gente sempre se emocionava quando tocava essa canção. Fui pianista em algumas faixas do disco do Bob (Tostes) gravado há cerca de 10 anos, além de engenheiro de som.

A ligação com a bossa nova vem de muito tempo, por causa do trabalho de Christiano com Bob Tostes e Roberto Menescal.

O Clube da Esquina também está muito presente na minha vida. E tenho a influência jazzística brasileira, pois sempre participei de trabalhos dos irmãos Juarez e Celso Moreira e do Nivaldo Ornelas, diz, ressaltando também a importância de Thiago Nunnes, Chico Amaral e Enéias Xavier, presentes em seu disco.

 

 

FAMÍLIA 

Orgulhoso, Christiano revela que o filho Thiago, de 18 anos, toca guitarra com ele no álbum. “Está seguindo a mesma vertente do avô, Adilson Caldas, e do pai”, comenta. O piano acústico marca forte presença em “Afinidades”.

“Só usei o Fender Rhodes na faixa ‘Carioca’. Gravei com esse piano porque ela tem algo do César Camargo Mariano com a Elis Regina, aquela vibe de samba carioca, meio samba-jazz, meio Beco das Garrafas”, explica. Christiano destaca a ajuda de Marcelinho Guerra, do Stereoutono, que lhe emprestou o piano acústico, e da percussão “singela e sutil” do baterista André Godoy.

O nome do disco, “Afinidades – Série instrumental, volume 1”, não é à toa. A ideia dele é chegar ao volume 3, no mínimo.
Aliás, o repertório do volume 2 está decidido. Terá músicas de Nivaldo Ornelas, Flávio Venturini, Cleber Alves e Túlio Mourão, adianta Christiano.

O número 3 virá com temática voltada para o Clube da Esquina. Quero colocar alguma coisa de Bituca, Toninho Horta e Tavinho Moura, entre outros. Depois, penso em fazer um ‘Afinidades’ vocal, mais voltado para intérpretes.”

AMIGOS

Célio Balona, músico:  
Célio Balona também destaca a sensibilidade de Christiano, que gravou a sua “Mistura fina”. Ele tem enorme talento, é supergeneroso.

Bob Tostes garante:
não há um músico, cantor ou intérprete de BH que não tenha trabalhado com Christiano Caldas ou não queira fazê-lo. “O piano dele é rico, muito bonito, tocado com o maior bom gosto e sensibilidade.
Bob conhece Caldas desde pequeno.
Há muito tempo ele nos devia esse disco solo. Agora criou vergonha e está pagando a dívida.

Thiago Delegado
que tem a sua “A camisa do Donato” no disco “Afinidades”, afirma que “passou da hora” de Christiano Caldas gravar seu próprio álbum. Os dois se conhecem há 10 anos.
Sempre o tive nos meus projetos musicais e na minha vida. É amigo, companheiro, desses práticos que desembolam o pepino.
O compositor diz ter ficado sem fôlego ao ouvir a nova versão de sua “A camisa do Donato” destacando que Caldas é
músico de talento ímpar, brasileiríssimo, generoso.

Autor de “Carioca”, a nona faixa do disco, Juarez Moreira lembra que Belo Horizonte é celeiro de talentos musicais e Christiano é um deles.
Embora jovem, ele tem muita experiência e várias habilidades, atuando como pianista, arranjador e produtor. Tem presença marcante na cena da cidade”.

 

 

AFINIDADES SÉRIE INSTRUMENTAL – VOLUME 1

Disco de Christiano Caldas
Naza Music
10 faixas
Disponível nas plataformas digitais

CARREIRA

Filho do tecladista Adilson Caldas, Christiano Caldas iniciou sua carreira aos 13 anos. Aos 17, já trabalhava como produtor, arranjador e engenheiro de áudio. Pianista e tecladista, acompanhou:

Milton Nascimento, Flávio Venturini, 14 Bis, Sá & Guarabyra, Roberto Menescal, Chico Amaral, Wagner Tiso, Pepeu Gomes, João Donato, Affonsinho, Leo Gandelman, Célio Balona, Beto Guedes, Juarez Moreira, Nivaldo Ornelas, Marku Ribas, Vander Lee e Thiago Delegado. Como arranjador, trabalha com Flávio Venturini, 14 Bis, Orquestra Ouro Preto, Célio Balona e Orquestra Sesiminas Musicoop.

REPERTÓRIO – AUTORES

VIDA NOVA OUTRA VEZ – Frederico Heliodoro
CONTRA O VENTO – Celso Moreira
CHET – Thiago Nunnes
ALEGRIA – Frederico Heliodoro
O MUNDO DAS ARTES – Celso Moreira
MISTURA FINA – Célio Balona
A CAMISA DO DONATO – Thiago Delegado
HORIZONTE – Bob Tostes e Marcelo Gaz
CARIOCA – Juarez Moreira
ESTAÇÃO 104 – Eneias Xavier e Chico Amaral