Carlos Malta lança “Pimentinha sessions” em homenagem a Elis Regina
Augusto Pio, jornal Estado de Minas,23/06/2024
Com a intenção de homenagear Elis Regina (1945-1982), o flautista, saxofonista e arranjador Carlos Malta lança “Pimentinha sessions” (Mills Records), com quatro canções imortalizadas na voz da cantora. O repertório reúne “Vivendo e aprendendo a jogar” (Guilherme Arantes), “O trem azul” (Lô Borges e Ronaldo Bastos), “Alô, alô, marciano” (Rita Lee e Roberto de Carvalho) e “Se eu quiser falar com Deus” (Gilberto Gil).
Malta já havia dedicado a Elis o disco ‘Pimenta‘ lançado em 2000. O flautista lamenta nunca ter tocado com a cantora, apelidada “Pimentinha” por causa do gênio forte.
“Quando entrei para o grupo de Hermeto Pascoal, havia a esperança de que ela pudesse fazer algo com a gente. Infelizmente, Elis partiu logo em seguida, morreu muito nova.”
Os dois álbuns são um tributo ao bom gosto da cantora. “Ela não era compositora, mas toda música que cantava se tornava dela”, afirma Malta. “Pimenta” e “Pimentinha sessions” ressaltam esse talento.
“O repertório é para quem gosta e conhece as interpretações e viagens da Elis, principalmente a viagem do arranjo, da roupagem da música. Ela sempre teve um carinho, um cuidado muito grande com o som que acompanhava sua voz. Isso sempre foi um norte para mim”, diz o flautista.
“O instrumentista de sopro, principalmente de flauta, tem similaridade com o cantor”, explica, referindo-se à emissão e volume do som. “O que tem de estar junto não pode ser muito pesado. Porém, tem de estar pesado no sentido da pegada sonora.”
As bandas de Elis são famosas pela personalidade da pegada sonora, pontua Malta. Para gravar “Pimentinha sessions”, ele buscou músicos que têm originalidade, objetividade e criatividade.
“Nas minhas andanças pelo Rio de Janeiro, conheci a turma que gravou comigo, que é de uma geração mais nova que a minha”, conta, referindo-se a Antonio Fischer-Band (piano), Giordano Gasperin (contrabaixo), Haroldo Eiras (guitarra), Matu Miranda (vocal), Antonio Sechin (saxofone) e Fofo Black (bateria).
“Fui vê-los, dei uma canja e aí pintou a ideia de gravar o ‘Pimentinha’. Montei o repertório com quatro canções do ‘Trem azul’, o último show da Elis”, informa.
“Tivemos o cuidado de não ficar amassando muito a massa para não criar um glúten indesejado depois”, brinca o flautista. “Então, fizemos o reconhecimento dos arranjos, como eles poderiam ser, mas deixando possibilidades em aberto. Entramos no estúdio e foi maravilhoso”, relembra.
“Conseguimos um resultado sensacional, as músicas do álbum foram todas gravadas no primeiro take. Ficou sofisticado, uma coisa jazzística brasileira. Porém, não é cover, mas recriação”.