Lançamentos

Carlos Malta e a banda Pife Muderno lançam disco em homenagem a Edu Lobo

Daniel Barbosa, Estado Minas, 11/02/2025

Depois de dedicar um álbum à obra de Gilberto Gil em 2022, o multi-instrumentista, compositor e arranjador Carlos Malta homenageia, acompanhado por sua banda Pife Muderno, outro grande expoente da MPB: Edu Lobo. O disco Edu Pife chega nesta terça-feira (11/2) às plataformas com releituras de 12 temas do compositor, executados pela formação de flautas e percussão com sonoridade calcada nos ritmos nordestinos.

Entre as faixas estão “Viola fora de moda”, “Vento bravo”, “Lero-lero”, “Casa forte”, “A história de Lily Braun” e “Frevo diabo”. O álbum conta com as participações especiais de Hermeto Pascoal (“Vento bravo” e “Casa forte”), Jaques Morelembaun (“Repente”) e do próprio Edu Lobo, que, ao lado do jovem talento Matu Miranda, enteado de Malta, faz vocalises em “Zanzibar”, “Água verde” e “Casa forte”.

Com essas participações, “Edu Pife” acaba se configurando numa espécie de confraria, encontro de compadres. Malta se encantou com a música de Edu Lobo aos 7 anos, quando viu o músico executando “Ponteio” no festival da Record, em 1967, acompanhado pela flauta de Hermeto Pascoal.

 

 

Posteriormente, o criador do Pife Muderno viria a trabalhar com ambos. Com Hermeto, a parceria cobriu um ciclo de 12 anos. Com Edu, ela vem desde 1997 em diversos projetos, incluindo a comemoração de seus 70 anos.

Outra data redonda ensejou a realização do álbum: os 80 anos do homenageado.

“Edu sempre esteve no meu radar, sempre foi um artista que me chamava a atenção, desde muito novo, pela variedade de temas e de estilos presente em sua obra”, diz Malta. Ele gravou “Ponteio” no disco de estreia do Pife Muderno, em 1999. Com outra banda, registrou “Upa, neguinho”, no disco “Pimenta”, tributo a Elis Regina.

Durante todo o período em que toquei com Edu, imaginava como aquela música ficaria com a roupagem do Pife Muderno. Isso orbitava meu imaginário. Quando veio a coisa dos 80 anos dele, pensei que era uma data muito festiva para passar em branco e idealizei o álbum”, conta.

Para chegar às 12 músicas de “Edu Pife”, Malta fez extensa pesquisa, que abarcou toda a discografia do homenageado, desde o primeiro compacto, lançado em 1962. Também foi atrás de canções gravadas por outros intérpretes. Ele ressalta a importância de Edu Lobo nas carreiras de Elis Regina, Zimbo Trio, Chico Buarque e Hermeto Pascoal, entre outros.

Todo esse caldo é das coisas mais ricas da música brasileira de todos os tempos, passando pelo popular e pelo clássico, porque para Edu não existe diferença. Ele está ao lado de Tom Jobim e de Villa-Lobos. Fico muito feliz e honrado de termos admiração mútua. Ele costuma falar que o Pife Muderno é das coisas mais bem inventadas da MPB, uma obra-prima. Edu é um dos maiores e mais sofisticados compositores brasileiros, um compositor sinfônico”, elogia Malta.

A seleção do repertório foi orientada pelo entendimento de quais músicas caberiam melhor na roupagem do Pife Muderno. Malta observa que as influências nordestinas de Edu são claras em “Zanzibar”, “Repente” e “Frevo diabo”, mas “A história de Lily Braun”, por exemplo, não tem nada de Nordeste no registro original. Porém, aqui a canção ganhou a levada de xote.

“Ficamos atentos à verve nordestina de Edu Lobo, mas também à carioca. Incluímos ‘Lero-lero’, que virou um samba de partido-alto, e ‘Bate-boca’, que é um choro”, ressalta.

 

 

Jovens

Malta acredita que esse leque diversificado pode contribuir para aproximar Edu das novas gerações.

“A garotada, muitas vezes, nem sabe quem é Edu Lobo. Já ouviu ‘Upa, neguinho’, mas pensa que é da Elis Regina. Ajustar as músicas dele à sonoridade do Pife Muderno é uma forma de trazer essa obra para as novas gerações, porque a gente percebe que há aderência grande dos jovens ao tipo de som que fazemos, que é alegre, dançante”, diz.

Edu Lobo não esconde a admiração por Carlos Malta e Pife Muderno.
“Eu os conheço há muitos anos e sempre fui encantado pelo trabalho que fazem. O Malta e eu atuamos juntos muitas vezes em diversos projetos, trilhas de teatro, cinema e televisão, álbuns. Então, como fã que sou do Pife, é lógico que fiquei muito contente com o carinho que recebi deles e muito orgulhoso ao ouvir os arranjos que foram feitos com as minhas canções”, diz.

Trinta anos do Pife

O álbum marca também os 30 anos do Pife Muderno, fundado em 1994 com o intuito de alinhar elementos da tradição da música popular brasileira – especialmente nordestina – à linguagem contemporânea, que passa pelo jazz e por diferentes fontes rítmicas.

A formação atual reúne Andrea Ernest Dias nas flautas e pífanos. Malta toca sax-soprano e triângulo. O naipe de percussão conta com Marcos Suzano, Bernardo Aguiar, Durval Pereira e Fofo Black.
“Gosto sempre de ressaltar a qualidade artística e a performance da banda, que praticamente gravou tudo em um take”, diz Carlos Malta.

 

“EDU PIFE – TRIBUTO A EDU LOBO”

• Álbum de Carlos Malta e Pife Muderno
• Maltavento Produções Artísticas
• 12 faixas
• Lançamento nesta terça (11/2) nas plataformas de streaming