Rio das Ostras 2015: Blues, Jazz e muita qualidade no ar
Entre os dias 20 e 23 de agosto estive em Rio das Ostras para cobrir a 13ª edição do evento. A ideia aqui é passar um pouco da minha rotina entre curtir a cidade e de contar como foram os principais shows do evento.
PRIMEIRO DIA (20/08 – QUINTA)
Já eram oito e meia da manhã quando eu e Márcio saímos de BH pegando a BR 040 em direção a Rio das Ostras. A viagem gira em torno de oito horas, mas como “inauguramos” três novos pedágios (nove ao todo) e hibernamos no engarrafamento no trecho de Magé, só chegamos ao Atlântico Hotel às seis e meia da noite. Depois de tirar a poeira da estrada e de saborear uma IPA (Vishnu da Colorado), vazamos no trecho até o palco Costazul, o grande espaço de shows do festival.
Tão logo entramos, fomos ao reencontro dos velhos amigos e parceiros cariocas, Paulo Cesar, Carlinhos Blues, Nelson e Serginho para afinarmos os instrumentos críticos afim de ficarmos up-to-date sobre o que iria rolar durante o evento.
Quem abriu a programação, como nas outras edições foi a Orquestra Kuarup, formado por jovens em sua maioria e dirigida pelo Maestro Nando Carneiro (foi um dos fundadores do grupo A Barca do Sol). Em que pese um apagão de vinte minutos, a Orquestra foi valente e tocou a sua programação, na maioria clássicos da bossa nova, com competência e qualidade técnica. Destaque para o naipe de flautas que foi fundamental para manter o clima do repertório.
A segunda atração, foi o guitarrista gaúcho radicado no Rio Cristiano Crochemore acompanhado pelo Blues Groovers, formado por Beto Werther (bateria), Otávio Rocha (guitarra) e Ugo Perrota (baixo elétrico). A maioria das músicas apresentadas pertenciam ao último cd da banda, “Freeman Blues”, “Stranger Town”, “Medicine Man”, “Good gone love” e “25 Years”, entre outras. No terço final do show entrou no palco Lúcia Casé, um misto de cantora com dançarina e atleta. Como pulava no palco em excesso, acabava destoando da banda que permanecia mais estática e segura.O show perdeu a mão e a maioria da plateia se dispersou e a atenção ficou mais voltada para a aeróbica do que a música.
O grande nome de quinta, conforme esperado, foi o guitarrista britânico Matt Schonfield que entrou no palco à meia-noite, escoltado por Jonny Henderson no órgão e por Kevin Hayes na bateria. O repertório foi baseado em seu último cd “Far as I can see (2014) e dele Matt apresentou “From far away”, “Breaking Up Somebody’s Home” uma homenagem a Albert King, “Tell Me Some Lies” da lavra de Jimmy Vaughan e “Red Dragon”, em tributo a Jimi Hendrix, entre outras. Quem ganhou três vezes (2010 a 2012) o prêmio de melhor guitarrista pela British Blues Awards não iria decepcionar essa grande plateia, por volta de cinco mil pessoas, que aplaudiu intensamente Matt Schonfield ao final de uma hora e meia de espetáculo.
RIO DAS OSTRAS JAZZ e BLUES – SEGUNDO DIA (SEXTA – 21/08)
Na sexta, como não houve show no palco Iriry, o dia ficou livre para “veranear” pela cidade. O palco foi a Praia Costazul. De papo com os bluzeiros cariocas fiquei sabendo que no Bourbon Street (SP) o guitarrista Robben Ford deu um catiripapo num iphone 6 de um imprevidente amigo do grupo. Mas bom mesmo, foi almoçar um linguado com legumes no Moon. A noite começaria mais cedo no Costazul, já que estavam programados cincos shows, sendo dois preliminares e três de primeira divisão. Portanto só irei comentar esse segundo bloco.
Já eram depois das dez quando começou o show do o baterista Omar Hakim e sua banda que tinha dois teclados (Rachel Z e Scott Tibbs), Nick Moroch na guitarra, Bob Franceschini no sax-tenor e flauta e Jerry Brooks no baixo. O repertório foi baseado no último cd de Hakim: “The Omar Hakim Experience”, do qual foram executadas “Transmigration”, “Remember to Remember”, “Molasses Run”, “Listen Up!” e “We are One”, entre outras. Hakim deu espaço para os músicos, mas coube a ele, como protagonista os grandes solos do seu set. Junto com os críticos Paulo César e Gustavo Cunha, também achei que a sua namorada, Rachel Z, de longe a melhor instrumentista da banda, deveria ter mais espaços para solos. Cortesia da casa….
O penúltimo e mais surpreendente show de todo o festival teve como protagonista a guitarrista e cantora de blues texana Carolyn Wonderland. Por ser sua primeira participação em shows pelo Brasil, soube irradiar simpatia e competência por quase uma hora e meia, com direito a dois bis; o único artista a conseguir essa proeza. Ela entrou no palco com seu trio formado pelo baterista Kevin Lance e pelo tecladista Cole El-Saleh. O repertório, como de praxe estava baseado no seu último cd, “Live Texas Trio (2015)”. Os destaques foram as canções: “”Money in the Game”, “At the Crossroads”, “Only God knows when”, “Palace of the King” e “Nobody’s Fault but mine”. No final, foi correr para comprar seus cds e ter paciência na fila de autógrafos.
O prodigioso guitarrista cearense Artur Menezes fechou a noite de sexta acompanhado por Wladimir Catunda na bateria, Nino Nascimento no baixo e Mateus “Leon Russel” Schanoski. Depois do show catártico de Carolyn, Artur entrou bem de leve executando músicas de seu último cd “Drive me”. Como o público não estava muito empolgado, ele não se fez de rogado. Pegou a sua guitarra e foi de encontro com a plateia, criando um fator motivacional para que fosse um sucesso o seu blues set. Os destaques ficaram com “More than You know”, “Too soon”, “Bitterness” “Nosso Shuffle” e é claro, “Drive me’. Já passava das três da manhã quando fomos dispensados de nossa “difícil tarefa’ para o justo repouso.
TERCEIRO DIA (SÁBADO – 21/08)
Com um pouco de atraso, às nove da noite, subiu no palco o grande representante do jazz acustico. Trata-se do talentoso harmonicista Gabriel Grossi e seu quarteto formado por Caio Marcio no violão, Bruno Aguilar no baixo e Cassius Theperson na bateria. Nessa primeira parte do set foram executadas a suíte “Norte, Sul, Leste, Oeste” de Hermeto Pascoal, o clássico “Trenzinho Caipira” de Villa Lobos e outras da sua lavra com destaque para “Toca Raul”, dupla homenagem a Raul Seixas e Raul de Souza.
A segunda parte do set foi dominada pelo genial e genioso muti instrumentista santista Arismar do Espírito Santo que fez da guitarra e do teclado instrumentos lúdicos para desenvolver a sua arte. Formou com Gabriel Grossi um duo à parte para desenvolver temas da sua autoria: “Chutando o Coco” e “Cadê a Marreca”. Para fechar com as devidas honras, a obra-prima de Gil & Dominguinhos, “Lamento Sertanejo”.
A grande atração do Rio das Ostras 2015, o guitarrista de blues Robben Ford entrou no palco com o seu power trio formado pelo baixista Brian Allen e o baterista Wes Little. O repertório foi baseado no seu último cd “Into the Sun (2015)”, do qual foram executadas as peças “Justified”, “Rose Of Sharon”, “Howlin’ At The Moon” e “Same Train”. Parte de seu show foi dedicado às justas homenagens que pretou a seus mestres: Freddie King (Cannonball Shuffle) e BB King (Indianola). Sua apresentação justificou o seu talento de solista, sem dúvida o melhor dentro do cenário do blues.
Para mim, o festival se encerrou já que agora começava a fase dançante que encerra o festival aos sábados. Com todo respeito à competência dos dois grupos que se apresentaram, fui para a casa mais cedo já que oito horas nos aguardava, a mim e a Márcio, nesse longo trecho de 600 km entre RdO e BH.
DUAS OU TRÊS COISAS
Gostaria de finalizar trocando umas duas ou três palavras sobre esse festival. A minha ida não se deveu à programação, uma vez que o jazz ficou desfalcado com a súbita doença do trompetista Roy Hargrove e não houve tempo hábil para contratação de Wallace Rooney. Era a possibilidade de ser a última edição do festival em Rio das Ostras. Parte dessa desconfiança se devia às dificuldades no financiamento que o Festival encontrou em 2015, em razão da queda dos royalties da Petrobrás, que ocasionou a não participação da Prefeitura com a sua habitual injeção de recursos. O grosso ficou por conta da V&M e com essa grana na mão, o produtor Stenio Matos fez milagres para manter o evento em alto nível.
Nos bastidores discutiu-se se essa poderia ser ou não a última edição em Rio das Ostras. Especulava-se sobre Cabo Frio, Búzios ou Macaé, mas o importante era o festival permaneça no estado do Rio de Janeiro. Seja onde for, vou estar presente juntos com meus amigos de beagá e ao lado da troupe da imprensa, Antônio Amaral, Gustavo Cunha e Carlos Calado, estarei presente com a missão de servir bem esse evento que sem dúvida, é o maior no Brasil dentro do cenário Jazz & Blues. Um grande abraço para o Stenio Matos BJ Manfra, Jefferson Gonçalves, Ugo Perrota e à sempre muito querida Andrea Loureiro, meu anjo da guarda nessas bandas de RdO.