A oitava e mais bem cuidada edição do Festival de Paraty
SEXTA – 20/05
Na abertura do Palco Matriz, o guitarrista Romero Lubambo e a cantora Diane Reeves excederam as minhas expectativas e fizeram um set de arrepiar. Impressionou-me a facilidade com que Diane em interpretar a música brasileira, apresentando muito suingue e entrosamento com Romero. Depois, foi a vez da orquestra capixaba Brasilidade Geral e sua convidada de luxo, a cantora Rosa Passos. Fizeram ótima apresentação, composta por clássicos da MPB, que também foram cantados pela plateia. Rosa Passos aproveitou para meter a marreta na atual música brasileira e agradeceu a presença dos que decidiram ouvir música de qualidade vindo a Paraty. Foi ovacionada.
Seguindo a tradição deste festival de sempre encerrar a noite com uma atração dançante, subiu ao palco o cantor britânico Zalon Thompson, que simplesmente estraçalhou com sua mistura de soul com rhytym’n blues e pop music. Escudado por seu currículo junto a Amy Winehouse de quem foi backing vocal, o showman desfilou clássicos dos anos 60 e 70, com destaque para Sex Machine, Let Stay Together e a costumeira homenagem a sua mentora Winehouse. Zalon tocou com banda brasileira e fizeram um set memorável. Toda a cidade comentou essa apresentação no dia seguinte.
SÁBADO – 21/05
Na tarde de sábado, cheguei cedo ao palco Santa Rita para o show do baixista Thiago do Espírito Santo, que veio com seu ótimo quarteto, do qual destaco a harmonia presente no bandolim de Fábio Perón e na guitarra de Vinicius Gomes, além dos belos solos de JP Barbosa no sax e a costumeira excelência do Thiago no baixo elétrico, um dos melhores do país. Fizeram bela apresentação, com direito a homenagem a Dominguinhos, para quem Thiago compôs o tema “Vamo Simbora!”.
A seguir, foi a vez do tradicional Grupo Pau Brasil, formação instrumental de muito prestígio e que já conta com mais de 30 anos de carreira. Começaram com sensível homenagem a Villa Lobos e depois tocaram temas de diversas épocas da carreira do grupo, sempre com muito bom gosto nos arranjos e execuções. Ótimo momento do festival. Fechou este palco a primeira apresentação do trio Bad Plus, que tem se apresentado com ninguém menos que Joshua Redman, um dos maiores saxofonistas do jazz contemporâneo, presente em muitos projetos nessas últimas três décadas. Tocaram temas compostos por todos os músicos, inclusive Redman, sempre com enorme cumplicidade. O jazz assinou presença no festival em grande estilo.
À noite, no palco Matriz, cheguei em cima da hora para a entrada de Eumir Deodato e como previa, estava completamente lotado, os espaços adjacentes bem cheios e foi complicado encontrar um cantinho. Em seguida, o espaço inteiro logo decolou com a famosa versão funkeada de Also Sprach Zarathustra, sua marca registrada desde os anos 70, tema que soa atemporal onde quer que Eumir se apresente.
Também não faltou a sua versão de Rhapsody in Blue, clássico dos irmãos Gershwin. Sua ótima banda teve como destaques Renato Massa na bateria e o excelente guitarrista Webster Santos. Depois o primeiro grande nome de blues internacional, o americano Walter Wolfman Washington e seu grupo The Roadmasters. Este é da linha bluseira de New Orleans, com uma tradicional levada meio jazzista, meio soul music, uma beleza de set. O destaque deste grupo é o chefe, o lobo Wolfman, com sua refinada guitarra e o canto de soulman que enfatiza entre algumas baladas e blues tradicional, com deliciosa base alternada pelo sax de Tom Fitzpatrick e o insinuante hammond de Steve De Troy. Excelente show, puseram fogo na praça da Matriz. Para encerrar a noite subiu ao palco o grupo arregimentado pelo baterista americano Anthony King, com músicos brasileiros e a presença de dois cantores de prestígio: Tony Lindsay, cantor de Santana com o qual detém vários premios Grammy, e a maravilhosa Ms Monet. O set girou muito na onda da disco music , o pessoal se esbaldou de dançar, e eu fui para o sono dos justos.
DOMINGO – 22/05
Na tarde de domingo resolvi conferir o palco Blues e vi o maravilhoso set de Flávio Guimarães com sua nova banda, projeto que divide com o ótimo guitarrista Neto Rockfeller, músico que dá uma levada bem anos 50 ao som do grupo. Além da incendiária harmônica do mestre Flavio, o show teve ainda a participação da gaitista argentina Ximena Monzon, convidada de luxo que já tinha feito ótimo show no dia anterior naquele palco. Incendiaram a tarde de Paraty.
Dali saí correndo pois já estava começando no palco Santa Rita a aguardada apresentação do guitarrista Chico Pinheiro e seu ótimo quarteto reforçado pelo baterista Rafael Barata. Fizeram brilhante apresentação: Chico é um grande músico e foi ótima sacada do festival escalar seu talento. Muito feeling e execuções primorosas, foi um maravilhoso set. Em seguida o Ricardo Silveira Organ Trio deu seu recado, um grupo que já está bem azeitado por várias apresentações em diversos palcos do Rio e outras cidades. De novo a presença estelar do batera Rafael Barata. A organista canadense Vanessa Rodrigues já está bem brasileira pelos quatro anos vivendo aqui e se sai muito bem no repertorio local. Ricardo é um dos maiores guitarristas da atualidade e escolheu belo set list, do qual destaco uma versão emocionante de Canto de Ossanha, de Baden. Tocaram também temas do Ricardo e da Vanessa.
À noite a segunda apresentação do quarteto Bad Plus + Joshua Redman, outro show arrasante, mas com muita, muita barulheira e falatório dos milhares presentes, a praça estava cheia mesmo. Redman arrasou de novo, é mesmo um dos maiores saxofonistas do jazz moderno. Os músicos ficaram extasiados com o público e com o festival. E aí chegou a vez de mais um petardo de blues internacional, a fantástica banda do premiado guitarrista santista Igor Prado, que conta com muito respeito nos USA, escalada para acompanhar o cantor Willie Walker, gig que não é inédita, já fazem sucesso há alguns anos quando se reúnem. Esse bluesman nascido no Mississippi forjou seu estilo em vários lugares onde viveu, se tornou uma lenda do blues estando em atividade desde os anos 60. A junção das duas escolas foi como um terremoto na histórica Paraty. Assim como Igor, Willie Walker também canta soul music e alguns clássicos foram ouvidos dentro do repertorio bluseiro. Um arraso.
O fechamento ficou com a Banda do Síndico, formação montada em homenagem a Tim Maia, com o cantor Bruno Maia comandando a festa. Vários músicos que tocaram com o maestro Tim na banda Vitoria Régia estavam no palco e o público não arredou pé e o bailão incendiou o local na madrugada de segunda feira. Famílias, casais e muitos grupos de amigos felizes cantando e dançando os hits de Tim, foi um belo encerramento.