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Alfredo Dias Gomes lança ‘Metrópole’

Um dos profícuos e talentosos bateristas da cena jazzística brasileira, Alfredo Dias Gomes, está lançando ‘Metrópole’, seu 13º trabalho solo. Nessa entrevista ao Clube de Jazz, ele nos conta um pouco sobre sua formação musical, conta detalhes sobre a criação e a produção de ‘Metrópole, além de apontar a rota de seus próximos trabalhos.

Wilson Garzon – A bateria foi o seu primeiro instrumento? Seu irmão, Guilherme, foi decisivo para a sua opção pela música?

Alfredo Dias Gomes – Meu primeiro contato com a música foi no piano, com cinco anos de idade. Minha avó fazia questão que todos os netos estudassem o instrumento. Mas a minha decisão de estudar a sério um instrumento foi aos 11 anos, com a bateria.
Não só meu irmão Guilherme, mas também minha irmã Denise foram fundamentais para a minha decisão de ser músico.

WG – A sua carreira como instrumentista começa aos 18 anos e a partir daí você participou dos grupos de Hermeto, Montarroyos, Ricardo Silveira e Arthur Maia, entre outros. Podemos dizer que foi nesse período que o seu estilo e a sua técnica de execução foram forjados?

ADG – Com certeza. Tocar na banda do Hermeto Pascoal aos 18 anos foi uma grande escola para mim. Foi meu primeiro contato mais profundo com ritmos brasileiros e de como tocar livre na bateria.
O Marcio Montarroyos eu conheci aos 14 anos, ele era professor de trompete do meu irmão e foi meu grande incentivador. Foi ele quem me apresentou ao Hermeto. Se tenho uma concepção de música e de composição eu devo ao Marcio.
O Ricardo Silveira me chamou para fazer uma banda quando eu tinha 13 anos. Eu era baterista de rock e foi o Ricardo que me iniciou no jazz. Anos depois toquei e gravei em trabalhos solo dele, junto com Nico Assumpção, Arthur Maia e Luizão Maia.
Sem dúvida essa fase instrumental foi fundamental para a minha formação musical.

 

 

WG – Em 1991, já com 30 anos você lança o seu primeiro trabalho, que leva o seu nome. Esse início tem a ver com o início de seu lado compositor?

ADG – Na verdade eu componho desde os 16 anos. Minha primeira gravação profissional como baterista foi com uma composição minha em parceria com o Marcio Montarroyos: a música “Vivendo Perigosamente”. Foi gravada para a trilha sonora da novela “Pai Herói” (1979) da minha mãe Janete Clair.
Meu primeiro trabalho solo foi em 1985: o single “Serviço Secreto”, gravado no estúdio da Transamerica no Rio.
Em 1991 eu lancei meu primeiro álbum “Alfredo Dias Gomes”, esse já gravado no meu estúdio.
O meu sonho sempre foi ter a minha carreira solo, hoje eu posso me dedicar integralmente ao meu trabalho.

WG – Entre seus últimos cds, dois deles, ‘Solar’ e ‘Jazz Standards’ estão voltados para o jazz. Seria um misto de maturidade com um projeto antigo de gravar que só foi realizá-lo agora?

ADG – Acho que sim, o projeto de gravar o disco “Jazz Standards” eu realmente já tinha há algum tempo e com certeza veio com a maturidade. Cheguei a flertar com o jazz algumas vezes na minha trajetória, mas gravar um disco com clássicos do jazz, somente agora me senti seguro para isso.

 

 

WG – Metrópole‘, trabalho que está lançando agora, é autoral. Você já o tinha planejado antes ou foi concebido em tempos de pandemia? As músicas já tinham sido compostas antes ou foram criadas especialmente para esse projeto?

ADG – Eu compus as músicas especialmente para esse projeto no final do ano passado. Venho gravando um disco por ano desde 2015 e esse foi uma consequência do último trabalho, “Jazz Standards”. Como tinha feito um disco com clássicos do jazz, mantive a concepção jazzística, mas desta vez com músicas autorais.

WG – Gostaria que você nos contasse um pouco sobre o processo de criação de cada uma de suas composições.

ADG – Na maioria das vezes minhas composições partem do teclado. Primeiro componho livremente, depois gravo a ideia e vou pra bateria. Aí eu defino a levada, andamento, convenções etc… Então regravo o teclado com um clique, já com o arranjo pronto.
Mas algumas vezes eu parto de uma célula rítmica na bateria e só depois componho no teclado. No caso do álbum ‘Metrópole’, todas as composições partiram do teclado.

 

 

WG – Em razão da pandemia, como foram realizadas as gravações? E a mixagem?

ADG – Primeiro gravei os meus teclados, já com os arranjos definidos. Em fevereiro deste ano, chamei o engenheiro de som Thiago Kropf e o baixista Jefferson Lescowich e gravamos as bases no meu estúdio.
Tivemos todos os cuidados de distanciamento, máscaras, testagem de temperatura, álcool gel… Com a piora da pandemia, optei por gravar os metais remotamente, o trompetista Jessé Sadoc e o saxofonista Widor Santiago gravaram suas participações de suas casas e mandaram os áudios prontos pela internet.
Depois eu e Thiago mixamos tudo no meu estúdio e mandei a mixagem para ser masterizada no Abbey Road Studios pelo engenheiro de som Andy Walter.

WG – Você também tem se dedicado à carreira de professor? Participa de Warkshops e Lives?

ADG – Em 1998 gravei um vídeo aula de bateria chamado “Exercícios e Ritmos”. Pela repercussão do vídeo, fiquei envolvido com aulas de bateria durante muito tempo. Mas hoje estou me dedicando totalmente às minhas composições e aos meus discos. Não leciono mais.

WG – Que projetos você tem em mente para os próximos anos? Pretende gravar um vídeo? Continuará dentro da linha acústica?

ADG – Eu tenho um novo projeto ainda para este ano: estou produzindo um vídeo clipe em animação para a música “Saudade”, com roteiro escrito por mim.
Quanto à linha dos próximos discos, não sei dizer ao certo, ainda estou envolvido com a divulgação do “Metrópole”. Mas muito provavelmente continuarei na linha jazzística.