As novas sensações do ‘camaleão’ Ademir Junior
Cada vez melhor e com propostas musicais ousadas e criativas, o saxofonista e clarinetista candango Ademir Junior se tornou um dos mais presentes e influentes músicos do atual jazz brasileiro. Nessa entrevista ele fala sobre suas propostas e disseca as suas composições que estão em “Sensações – Camaleão 2”.
Wilson Garzon – Em 27/08/2013 fizemos uma entrevista por ocasião do lançamento de ‘Camaleão I’. O que o ‘camaleão’ andou fazendo nesses dois anos de intervalo entre um cd e outro?
Ademir Junior – Produzindo sempre, algumas coisas vieram a tona, já outras ainda estão por vir. Conseguimos colocar o Camaleão II pra rodar, e estou bem feliz com isso. Um projeto que deu certo e espero que seja tocado bastante aqui e fora do Brasil.
WG – A versão 2 foi gravada em abril desse ano. O que aconteceu para que a banda mudasse o n° de componentes? Houve alteração na composição dos naipes?
AJ – A diferença é que o primeiro não foi projetado, foi uma bela reunião de amigos e uma oportunidade que não deixamos passar, tinha algumas músicas e o Jessé Sadoc também e ai marcamos estúdio. Já o “2” foi um projeto que escrevemos e passei a compor a maioria das peças em Dezembro quando o projeto venceu o Prêmio Cássia Eller. Pensei em uma formação um pouco maior, adicionando Percussão, Trombone e Acordeon. Adicionei também a Clarineta em 3 músicas. Gostei dessas possibilidades porque busca o som regional ligado a modernidade do Jazz.
WG – Quatro músicas de seu repertório (“Nativos”, “Mexidão”, “Coisas de Lá” e “Xote Candango”) mostram que você tem um pé no Nordeste. Seria essa a sua raiz mais forte? Misturar baião com blues é camaleão puro?
AJ – “Andarilho” também, que é mistura de Jazz e Baião. Sem dúvidas a música e os ritmos nordestinos estão em meu DNA, foi percebendo isso que resolvi abraçar essa ideia e valorizar minhas raízes para que os voos pudessem ganhar mais elasticidade. É importante saber e buscar isso. Sou filho de um historiador e músico, ganhei isso comigo e até mesmo minha filha mais velha tem essa veia ligada a história e coisas mais antigas. O Baião e o Blues tem semelhanças, na escala, praticamente a mesma, na prece da melodia, e porque são músicas do povo e que tem raízes profundas quanto suas histórias. Se me perguntasse qual ritmo nordestino eu mais me assemelho, diria o baião, porque percebo nele a mesma liberdade rítmica, harmônica e melódica do Jazz.
WG – Uma outra vertente é o lado sensorial/poético que está presente em “Madrugada” e “Sensações”. Elas foram compostas em momentos de reflexão?
AJ – “Madrugada” é uma canção de simplicidade e singeleza, que tenta expressar a tranquilidade de alguém que vive em paz apesar dos dias corridos. “Sensações” é algo interessante, tem mistura de tala indiana, ritmos compostos, mas enraíza o groove do Samba Rock, com uma levada bem interessante que a guitarra e o baixo fazem por toda a música. Compus o groove inicial no EWI, deixei ele parado uns dias, e depois encaixei a melodia simples nesse groove do compasso 21/16 que é algo bem legal, mais a frente tudo muda e toma o ritmo mais natural. Posso dizer que é algo mais arquitetado e que propõe a diversidade de climas gerados por levadas e ritmos.
WG – “O Andarilho”, está voltado à busca constante por mudanças? Tem algo de retirante nesse andarilho?
AJ – Tem sim, tenho um parente próximo que anda quilômetros todos os dias. Essa peça foi inspirada nele. Ele tem uma vida assim como descrevo, cheio de aventuras, dinâmica com riscos e novidades. “O Andarilho” tenta expressar isso. Ele é inteligente e isso propus no swing do jazz, engraçado, propus no ritmo frenético do baião e imprevisível, propus no tema que só tem um compasso e muda o tempo inteiro de pulsação. É uma obra inquieta, assim como esse meu parente que tanto admiro.
WG – “Saudades do Futuro” e “Fastgroove” é seu olhar sobre o urbano. Um cheio de esperança e o outro muito agitado. Eles se complementam de uma certa maneira?
AJ – Sim, pois a vida urbana e moderna olha e busca o futuro, mas também tenta projetar a comodidade e tranquilidade, embora nem sempre é possível. Mas a utopia é necessária a todos nós. rsrs
WG – Conte um pouco desse tributo que você faz a Michael Brecker.
AJ – O Brecker foi sem dúvidas o grande nome do saxofone nos anos por muito tempo e ainda é. O que ele fez foi trazer muito da técnica do saxofone e popularizar em ritmos atuais dos anos 70, 80 e 90. Trouxe muito do Coltrane pro Jazz que se difundiu em outros ritmos e estilos. Essa balada ao contrário das técnicas conhecidas por velocidade e explosão sonora, propõe algo mais reflexivo sobre o som dele. Uma balada para melhor refletir a alma que ele deixou em todos que o apreciam. Composta um ano antes de sua morte. No improviso preferi não usar o estilo dele, usei algo mais livre, porém a melodia nos leva muito a essência sonora e estilística que ele propunha.
WG – Como andam as programações para o lançamento do “Camaleão 2”?
AJ – O “Camaleão 2” está começando a rodar. Domingos Martins, Brasilia, Rio agora em novembro no Triboz dia 14, Brasília em dezembro no Feitiço Mineiro dia 8 e na Casa Thomas Jeferson dia 11 de março, Paris no inicio do mês de março em Rouen no Festival Portas Abertas. E alguns outros projetos que devem sair para 2016 possivelmente com turnê para o Nordeste, afinal precisamos ir lá para mostrar o Camaleão com chapéu de couro e ao som do Baião.
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Camaleão 2 – Links para compra
Clube de Jazz – Entrevista 2013
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