DestaqueJazz News

Bernardo Rodrigues lança ‘Impressão’ no Savassi Festival

Bernardo Rodrigues, com Rafael Pansica, Felipe Villas-Boas e Marcos Rufatto, Vagner Faria e Renato Saldanha.
Bernardo Rodrigues, com Rafael Pansica, Felipe Villas-Boas e Marcos Rufatto, Vagner Faria e Renato Saldanha.

O pianista autodidata e compositor Bernardo Rodrigues nasceu em Divinópolis, Minas Gerais. São de lá as influências de Milton Nascimento, entre outros artistas mineiros. Outra referência é o maestro Tom Jobim. A cidade sempre teve uma cena instrumental muito forte, de onde saíram o pianista Túlio Mourão e o saxofonista Jairo de Lara. Hoje, além de seu trabalho musical, ele também exerce a função de secretário de Cultura da cidade, o que não impedirá a sua vinda à BH para lançar esse grande trabalho, fruto de uma história de vida dedicada à arte de qualidade: ‘Impressão’.

Wilson Garzon – Como foi sua história com o piano? Houve uma influência da família ou foi uma opção só sua?
Bernardo Rodrigues – A música na minha vida é uma sequência de várias gerações de músicos. Meu pai (Lou Petrus) é músico, era do grupo AdCanto, tova violino, é ótimo arranjador. Quando nasci ele estava por conta da música. Foi para o Rio, gravou com o AdCanto, Túlio Mourão, Belchior… então cresci nesse meio. A mãe dele cantava, o pai, meu avô, tocava clarinete. Só aí já dava um músico. Mas, na família da minha mãe, a música também sempre esteve muito presente. Minha avó era cantora lírica, cantava ópera em BH na década de 50. Meu bisavô tocava trombone e conheceu minha bisavó, que tocava piano, no cinema, fazendo trilha para cinema mudo. Foi no piano deles que eu dedilhei as primeiras notas, angustiado por não conseguir tirar música daquela coisa. Muito tempo depois, esse meu bisavô deu o piano de presente para a minha avó, que também arranhava alguma coisa nas teclas. Quando vinham a Divinópolis, minha bisavó trazia os métodos que utilizava para dar aulas de piano havia muito tempo para eu estudar. E ela tomava, cobrava leitura fluente, boa digitação etc.

Mas ter um piano em casa foi fundamental. Meu pai comprou o piano quando eu tinha sete anos de idade. Eu via ele sentado lá, compondo, escrevendo arranjos, e isso me aproximou muito dessa experiência de construção e criação musical, entendendo as inúmeras possibilidades de variações harmônicas, invenções melódicas etc. O fato é que cresci em ambiente musical e com o piano ali disponível para mim 24 horas por dia. Lembro bem quando meu pai me ensinou as notas, de dó a si. Minha mãe também sentava para tocar de vez em quando. Mas acabou que fui eu que, literalmente, destruí o Fritz Dobbert, que hoje já não funciona bem. Mas eu era “vira-lata”, gostava mesmo era de brincar com a harmonia, inventar melodias etc. Nunca fui estudioso e hoje me considero mais compositor do que instrumentista.

WG – Você pertence à mesma geração do Vagner Faria, Edvaldo Ilzo e Renato Saldanha? As presenças de Túlio Mourão e Jairo de Lara foram importantes para você dentro da cena de Divinópolis?
BR – Foram muito importantes. Eu ficava deslumbrado quando o Túlio ia lá em casa e sentava no piano. Isso quando eu já tinha meus 14 anos e ele tocava com o Milton. Eu tocava (ou tentava tocar) tudo dele, conhecia os discos todos. E era mesmo um privilégio poder conviver com eles assim tão de perto. Lembro de uma vez, já com 16 para 17 anos, que eu e o Renato Saldanha, que também foi e é um grande professor que eu tenho, estávamos tirando a Caçada, música que está no disco Teia de Renda, do Túlio Mourão. Passamos a tarde quebrando a cabeça com uma parte da música. Quando desistimos e saímos para comer alguma coisa, encontramos o Túlio a 50 m da minha casa. Era inevitável: “o que que você faz nessa parte aqui de Caçada?” Ele, na maior paciência, explicou, e caímos na real de que era bem mais simples do que parecia.

WG – Como surgiu o projeto “Impressão”?
BR – O disco ia se chamar Dois Caminhos, pois reunia canções com letra e composições instrumentais. No meio do percurso, acabei mudando o nome. É um projeto que eu vinha pensando desde 2010, mas que só se viabilizou agora, com recursos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Como tenho outras atividades (trabalho há dez anos como professor universitário e há sete como secretário de cultura), o processo de gravação é mais lento. Mas isso foi importante para amadurecer a ideia do disco.

WG – Quem músicos foram escolhidos? Houve participações especiais? Onde foi gravado o CD?
BR – O CD foi gravado em Divinópolis e BH. Convidei os músicos que de alguma forma acompanharam minha carreira. Renato Saldanha, Vagner Faria e Edvaldo Ilzo, meus colegas do Jazz a Zero, já são parte da minha música. Tem coisa que componho já pensando na levada do Edvaldo na bateria ou no solo do Renato na Guitarra. No baixo acústico, convidei o Eneias Xavier, que foi uma figura importante para me apresentar a cena do jazz em BH, quando morei lá, com Magno Alexandre, Írio Júnior etc. Para cantar as canções com letra, fui bem bairrista: convidei o Anthonio, com quem fiz uma turnê em 2012 e 2013 (Água, Pai, Céu), o Dayen Belchior, que cantava na minha primeira banda, junto com o Renato, Luiza Lara, que conheço desde pequena e hoje é casada com o Renato, Jubah, que foi o primeiro cantor que me convidou para acompanhá-lo, quando eu tinha 16 anos.

Também tem a participação da Gláucia Coutinho, grande cantora, que interpreta dois sambas no disco. Nos metais, chamei o Juventino Dias (trompete) e Leonardo Brasilino (trombone), com quem toco de vez em quando numa banda de música latina chamada Rádio Relógio, além do Jonas Vítor (saxofone) e do Paulo Silva (trompete), além do Jairo de Lara, na flauta. Em duas faixas, temos a participação do Arthur Resende, na bateria. Enfim, é um disco com bastante identidade e muita afinidade entre todos os participantes.

WG – Como é um disco autoral, conte-nos um pouco sobre cada uma das músicas do repertório.
BR – Eu não tinha outra opção a não ser gravar um disco autoral. É muita música já guardada que precisava sair. Mas há um conceito ali. São 15 faixas, sendo seis instrumentais. Essas seis, na verdade, integram duas peças: Haicai e Estações:
Haicai é um poema musical com três temas interrelacionados. Quando fechei os arranjos chamei o Leo Cunha para escrever um Haicai que tivesse como segundo verso o título da segunda faixa:
Dois Caminhos, que é interpretada no disco pelo Anthonio.
Daí saiu: Na encruzilhada / Dois caminhos (desafiam) / Cada um é cada. Cada verso se tornou o título das primeiras três faixas do disco, sendo a segunda com letra.
Já Estações são resultado de um momento vivaldesco meu, quando me deu na telha de compor minhas quatro  estações: Tom de Outono, 29 de junho, Outubro e LadeiraLadeira ocupa provisoriamente o lugar do verão, que ainda está sendo construído.
Entre as canções, a Luiza Lara canta Brisa, Bodas de Papel (só com piano e voz) e Cecília, que fiz para a minha filha e em breve vai ganhar uma gravação com o Amaranto, para o site e a segunda tiragem do disco.
Gláucia Coutinho canta os sambas Devo, não nego e Você tinha que ser o meu fã-clube, super bem humoradas.
O Dayen Belchior canta Impressão, que talvez seja o tema com roupagem mais “jazzística” do disco, bem “cool”, e um rock, Pássaro na mão.
Jubah canta Samba pra Ella, uma homenagem que eu e o Leo fazemos para a Ella Fitzgerald.

WG – Como está projetando a divulgação do cd? Outros projetos?
BR – O CD ganhou um presente e tanto com o prêmio BDMG Instrumental, que vai e proporcionar shows em BH e São Paulo, além do Savassi Festival. Vou aproveitar essa calendário para divulgar o disco, além de todo um planejamento mais arrojado de comunicação para a Internet, com novo site, canal no Youtube e outras promoções para o segundo semestre.


SAVASSI FESTIVAL

29/06 – Quarta

20h00-21h00 – Bernardo Rodrigues lança o CD “Impressão”
Teatro de Bolso – Cine Theatro Brasil.
Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia).