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Hamilton de Holanda lança disco gravado ao vivo em Nova York

Lucas Lanna Rezende, Estado de Minas, 21/05/2025

Hamilton de Holanda estava em um hotel em South Kingstown, nos EUA, quando o alarme de incêndio começou a tocar no meio da madrugada. “Meu irmão, todo mundo que estava lá saiu correndo.

De pijama, roupão e tudo! Teve até caminhão de bombeiro”, lembra ele. Passado o susto, descobriu-se que não era nada grave. “Foi só um homem que resolveu fumar e ativou o alarme”, conta o músico carioca, antes de soltar uma gargalhada aliviada.

O episódio ocorreu em outubro do ano passado, durante turnê pelos Estados Unidos, na companhia de Thiago “Big” Rabello (bateria) e Salomão Soares (teclado e Moog), que formam com ele o Hamilton de Holanda Trio. Em aproximadamente 20 dias na estrada, o alarme de incêndio foi apenas um dos imprevistos que o grupo enfrentou, mas que serviram para fortalecer – ainda mais – a conexão entre os músicos.

“A estrada tem essa coisa de fazer com que a gente ganhe confiança e admiração pelo trabalho do outro. É um convívio diário, em que fazemos praticamente tudo juntos. Isso nos aproxima muito”, afirma Hamilton.

Dessa admiração mútua nasceu “Hamilton de Holanda Trio – Live in NYC (feat. Chris Potter)”, disco que chegou ontem (20/5) às plataformas digitais, pela Sony Music Brasil, em parceria com o selo Brasilianos. O álbum foi gravado no último show da turnê, em Nova York, e, como o nome indica, conta com a participação do saxofonista Chris Potter.

A gravação, realizada no tradicional Dizzy’s Club, não estava nos planos de Hamilton, que pretendia registrar um novo disco em estúdio ao retornar ao Brasil. No entanto, o produtor da turnê, Marcos Portinari, fez a proposta.

A sugestão foi recebida com certa desconfiança por Hamilton. Gravar um show ao vivo está longe de ser simples. É necessário reunir equipe especializada, garantir equipamentos de qualidade, microfonação estratégica. Tudo isso, nesse caso específico, em pouquíssimos dias.

 

 

Casco afiado

Hamilton acabou convencido. E, para a gravação do disco, não fez nenhuma alteração no show. “Desde o início da turnê, gravávamos os shows e íamos escutando durante as viagens. Reparávamos cada detalhe do repertório e da execução das músicas. Chegamos a alterar o repertório algumas vezes e até mesmo retirar algumas músicas por achar que elas não combinavam com a estética do show”, conta.

Quando o trio chegou a Nova York, já estava com o “casco afiado”, conforme define o artista: “Sem nenhum problema técnico, nem de estrutura, forma ou ordem. Estava tudo decorado, tudo praticado muitas e muitas vezes”.

Em 11 das 15 faixas (três são vinhetas de apresentação ou introdução dos músicos e agradecimentos; e a última é um bis de “Todo dia é um recomeço”), o trio exibe seu virtuosismo instrumental. Com domínio absoluto do bandolim de 10 cordas, Hamilton transforma passagens técnicas complexas em gestos naturais, combinando com maestria velocidade, precisão rítmica, harmonia e improvisação criativa.

Thiago “Big” e Salomão mantêm o pulso firme do trio, com leveza e potência nos momentos certos, dando corpo a um repertório que percorre diferentes fases da carreira de Hamilton de Holanda.

A primeira música, “Saudade do Rio”, por exemplo, é do disco “Brasilianos 3”. Na sequência, outras faixas passam pelos álbuns “Harmonize” (“Deus é amor pra tudo que é fé”), “Flying chicken” (representado pela faixa homônima) e “01 byte 10 cordas” (também com a faixa-título). Inclui ainda singles lançados por Hamilton ao longo do ano passado, como “Afro choro” e “Todo dia é um recomeço”, ambos com a participação de Chris Potter.

A parceria entre os dois começou em 2019, quando se conheceram virtualmente. Por causa da pandemia, só se encontraram pessoalmente dois anos mais tarde. Hamilton trouxe o saxofonista norte-americano para uma série de apresentações no Brasil – incluindo uma em Belo Horizonte, no Teatro Feluma, a única registrada em vídeo.

 

 

 

Chris Potter também passou por perrengues ao lado do brasileiro, o que fortaleceu a amizade entre eles. “Antes do show em BH, tocamos em Ilhabela com o Mestrinho. Dali a alguns dias, iríamos para Minas. De repente, Mestrinho me liga dizendo que estava com COVID. Ficamos atordoados. Mas, no final, deu tudo certo. Só ele que se contaminou”, lembra Hamilton.

“Em outro show, aqui no Brasil, nos hospedamos num hotel que estava sem água. E, quando fomos para o Rio, ficamos parados na Ponte Rio-Niterói por causa de uma operação policial. Para o Chris, ver todos aqueles policiais armados com metralhadoras foi assustador, mas ele conseguiu ficar sereno”, comenta.

Com o lançamento de “Hamilton de Holanda Trio – Live in NYC (feat. Chris Potter)”, a ideia do músico carioca é fazer uma nova turnê para divulgar o trabalho. “Vai ser a turnê da turnê”, brinca. Desta vez, espera ele, sem ameaça de contaminação por COVID, hotel sem água e alarme de incêndio no meio da noite.

 

“HAMILTON DE HOLANDA TRIO – LIVE IN NYC (FEAT. CHRIS POTTER)”

• Disco de Hamilton de Holanda Trio
• Sony Music
• 15 faixas
• Disponível nas plataformas digitais