O jazz contemporâneo de Alexandre Carvalho
Conheci a música de Alexandre através do baterista norteamericano Jimmy Duchowny, que me apresentou o cd ‘Central Park West’. Desde então, sempre acompanhei seus trabalhos e os divulguei aqui no site. Agora, ele lança seu trabalho solo ‘Rio Joy’, com peças autorais e outras em homenagem a seus grandes mestres. E nos concedeu, em primeira mão essa oportuna e preciosa entrevista.
Wilson Garzon – Você nasceu dentro de uma família musical? O violão/guitarra foi seu primeiro instrumento?
Alexandre Carvalho – Minha mãe tocava piano e tinha licenciatura em Música mas nunca exerceu a profissão. Tocava muito Bethoven, e desde pequeno eu já me impressionava muito com aqueles acordes da mão esquerda…rs. Meu pai era extremamente musical, adorava jazz, bossa nova, mpb e trilhas de cinema. Cantava as linhas de baixo e os metais das bigbands da época do Swing! Acho que isso tudo me influenciou muito, desde a infância. Eu queria muito tocar piano, mas por influencia de amigos e pela praticidade de meu pai, ele me deu um violão de presente, aí já viu né…rsrs.
WG – Passou pelo rock/mpb antes de fazer sua opção pelo jazz?
AC – Sim, na adolescência ouvi muito rock europeu, principalmente Led Zeppelin e David Bowie que adoro até hoje. O jazz veio alguns anos depois, num show do Hélio Delmiro. Em seguida comecei a beber da fonte, ouvindo Joe Pass, Wes Montgomery, Pat Martino, entre outros.
WG – Quando você foi estudar na Manhattan School? Como foi sua passagem em NY?
AC – Em 2007 passei em 1º lugar na prova pro doutorado em jazz na Manhattan School of Music e fui logo chamado pra dar aulas. Parecia coisa de filme, me senti o próprio Guga depois de ganhar o 1º título em Roland Garros, rsrs. O doutorado era pesado e tinha que dar muitas aulas. Depois que terminei comecei a trabalhar com grandes nomes do jazz. O último trabalho que fiz foi em Boston com Jerry Bergonzi, um dos maiores saxofonistas e educadores de jazz do mundo.
WG – Em 1996, você lança junto com o saxofonista Idriss Boudrioua, “Central Park West“. Conte-nos um pouco sobre esse trabalho e o que representou na época.
AC – Central Park West foi um cd em parceria com Idriss muito elogiado pela crítica, especialmente pelo saudoso JD Raffaelli que o colocou entre os melhores do gênero já lançados no Brasil. Foi uma fase em que gostávamos de revisitar temas “lado B” dos grandes mestres como Coltrane e Benny Golson. Foi um registro das jam sessions que fazíamos regularmente no Gula Bar, point de jazz carioca da época.
WG – Agora, você lança seu trabalho solo, “Rio Joy“. Ele foi sendo desenvolvido aos poucos, foi financiado? Como se deu o processo de gravação?
AC – Rio Joy foi inteiramente produzido por mim. Tive parcerias importantes com o estúdio Audio Rebel e com o Monitor Studios em NY aonde foi gravado e mixado respectivamente. O engenheiro de som André Netto, radicado em NY há 20 anos fez um trabalho de mixagem impecável.
Ao contrário da maioria dos músicos, eu não gosto de ensaiar muito. Confecciono partituras com muito esmero, para que o músico possa fazer seu dever de casa, entrar no estúdio seguro e tocar com prazer. O disco foi gravado em dois dias apenas.
WG – No cd, existem três peças autorais: ‘Nica’s Mood’, ‘Rio Joy’ e ‘Waltz Nova.’ Elas foram criadas para o cd ou já estavam prontas? Que conceito norteou o processo de criação delas?
AC – Rio Joy e Nica’s Mood foram compostas nos EUA anteriormente. Valsa Nova foi composta para o CD. São peças que refletem bem minha personalidade musical. Jazz contemporâneo, com influência de música de concerto europeia e de música brasileira. Elementos da música brasileira transparecem em minhas composições de forma inconsciente, natural.
WG – As escolhas de JT Meirelles, Luis Eça, Astor Piazzolla e Charlie Mingus para integrarem o repertório foi uma homenagem a esses mestres? E quanto à escolha de Henrique Alvim?
AC – Sim, uma homenagem a eles e um deleite nosso. Adoramos tocar boa música, esse é nosso único critério de escolha de repertorio. Dando aulas em Brasilia conheci Henrique Alvim, um rapaz novo que foi meu aluno no curso de verão de 2015. Me mostrou Armadilha, uma música dele que venceu um festival importante de lá. Eu adorei o tema e disse a ele que iria gravá-lo, ele não acreditou até ouvir o cd…rsrs.
WG – Você já tocava com Fernando Trocado (sax), Jimmy Lescowich (baixo) e Vitor Vieira (bateria)? E quanto às participações especiais de Ademir Jr (sax), Daniel Castro (baixo) e Pedro Almeida (bateria)?
AC – Eu posso dizer que tenho um quarteto carioca e outro brasiliense, rsrs. O quarteto de Brasília (Ademir, Pedro e Daniel) participou da faixa título e de Nica’s Mood. O quarteto carioca (Fernando, Jefferson e Vitor) participou em todas as outras faixas.
WG – Como está sendo a divulgação de ‘Rio Joy‘? Tem shows agendados?
AC – Já lançamos Rio Joy em várias casas de shows no Rio de Janeiro, como o Triboz, o Imperator, o Centro Cultural Arthur da Távola, o Pub Panqs, dentre outras. O CD já está nas principais plataformas digitais, e esperamos ainda divulgá-lo e lancá-lo também fora do RJ.
WG – Quais projetos estão sendo pensados para o seu futuro? Irá retomar o ‘João Bosco e o Jazz’ ?
AC – João Bosco e o Jazz é um projeto maior, um septeto, e exige maior estrutura e portanto patrocínio. Já fizemos Belo Horizonte, Uberlândia e Brasília. Esperamos em 2020 conseguir apoio para levá-lo a outras localidades.