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O Jazz e a Bossa do Santa Jazz 2019

 

Nessa edição, ralei como qualquer turista: sai de BH para Vitória num bus que devia ser leito e na realidade virou executivo; peguei um ônibus parador até Santa Teresa e terminei compensado na escolha de uma pousada de luxo, próxima ao Festival. Passei o evento fazendo novos contatos, revendo músicos e amigos e principalmente postando clips dos shows ao vivo. Agora,apesar de quase duas semanas se passarem, a memória continua fresca e tomei a decisão de coerência com o site e foquei a matéria no jazz, na bossa e no instrumental brasileiro.

 

Leila Pinheiro e Daniel Dias, Zel, Wilson in action, Wanderson Lopez, Fabiano Araújo e Edu Szajnbrum (fotos de Corélio Rodrigues).

Essa foi a terceira edição do Santa Jazz em que participo. A cidade de Santa Teresa, fincada na serra capixaba, é uma joia rara fundada por italianos no começo do século 19. Conhecida como a cidade dos colibris, tem o Museu dedicado ao trabalho de Augusto Ruschi. Sem falar da sua alta gastronomia e das vinícolas. O grande inconveniente para quem quer ir ao Festival é conseguir a hospedagem. Porisso, convoquei o meu amigo e nativo local Victor Humberto para conseguir um espaço numa pousada; só consegui aos 45 do segundo tempo, graças à uma desistência…

Nessa expedição fui acompanhado por Corélio Rodrigues, meu brother fotógrafo; depois de uma estadia de dois dias em Vitória, na sexta, partimos para Santa Teresa. Essa perna da viagem foi atribulada devido à greve decretada para o dia 14, fato esse que nos custou duas horas só para sair da capital e mais duas até o destino. Mas tudo isso foi atenuando-se à medida que fomos entrando na cidade. Então, chegamos na charmosa pousada Valle di Trento, dirigida pelo simpático casal, Jurema e Ronaldo Rezende. Lá tivemos um atendimento vip por anfitriões de primeira classe, com direito a um capelete de frango antes de ir para o Parque de Exposições curtir o Festival.

14/06 – Sexta: Primeira Noite

Primeiro, lá pelas quatro da tarde fomos pegar as crachás do Clube de Jazz com o produtor do evento José Olavo, que estava superanimado com essa edição do Festival e havia feito oportunas mudanças estéticas no design dos espaços, tanto musicais quanto gastronômicos. E como era ainda cedo, partimos em direção à Rua do Lazer, muito prazer…degustar umas artesanais e uns embutidos locais.

Na volta e pontualmente, o Santa Jazz abriu suas portas com um super show: Leila Pinheiro e a Fames Big Band. O repertório privilegiou a bossa nova, entre elas, “Amor em Paz”, “Ela é Carioca” e “Insensatez”. De Guinga, pinçou a obra-prima “Catavento e Girassol”. A Fames Jazz Band, magistralmente dirigida pelo também trompetista Daniel Dias, que também nos brindou com poderosos solos, está de parabéns com o projeto de abrir o festival sempre com um grande convidado. Leila Pinheiro, foi uma ótima escolha para esse ano, pois além de esbanjar suas qualidades no palco, fez com que a plateia contasse junto, de uma forma emocionada.

A segunda atração do Santa Jazz foi o Dudu Lima Trio que trouxe um convidado de peso. Depois de Toninho Horta em 2017, o escolhido foi nada menos que João Bosco. Como de praxe, Dudu abriu a caixa de ferramentas de seu contrabaixo e decolou em poderosos improvisos, tendo ao lado, seus parceiros Ricardo Itaborahy nos teclados e Leandro Scio na bateria. João abriu com a música que pensava no momento: iniciar com “Incompatibilidade de Gênios”. Depois, como era esperado por todos, vieram ‘O Bebado e a Equilibrista’, ‘O Corsário’, ‘Papel Machê, ‘Mestre Sala dos Mares’ e ‘Rancho da Goiabada’, entre outras pérolas bosquianas. Depois desses dois grandes eventos de muita arte e emoção, retirei-me para um justo repouso, pois o dia seguinte teria dois turnos e muitos shows a cobrir.

15/06 – Sábado: Primeira Tarde

Nada mais confortante do que, na pousada, tomar um lauto café organizado pelo dupla Maria & Jurema, montando assim, uma base alimentar para a longa jornada de sábado. Falando nisso, estreamos o Palco Fames com a experiente cantora Alza Alves e sua poderosa banda que contava com o guitarrista Fábio Calazans, Edu Szajnbrum na batera e Roger Bezerra no teclado, entre outros. Destaque também para a produção e arranjos de Sérgio Benevenuto.

A tarde foi preenchida por um dos dois melhores show do festival: o trio do multi e instrumentista Arismar do Espírito Santo. Apesar de estar apresentando-se com a guitarra, não seria estranho que estivesse arrasando no baixo, no teclado, na bateria; sem falar nos seus dotes histriônicos de divertir e comandar a plateia vespertina. Mas, o melhor ficou com o espaço que dedicou à arte de improvisação. Ele contou com os apoios fabulosos do bandolinista Fábio Perón e do saxofonista Vinícius Chagas. Dois músicos de alta linhagem que também poderiam estar liderando seus grupos no Festival.

Segunda Noite

O início ficou por conta do tributo ao ícone do baixo elétrico brasileiro: Arthur Maia, que nos deixou precocemente em dezembro passado. O luthier e amigo de Arthur, Dan Mendonça abriu os trabalhos num emocionante depoimento sobre o músico e descreveu o projeto que reunia Arthur, sua obra e a Camerata Sesi, que já havia sido apresentado na edição de 2018 do Festival. Quem substituiu Arthur Maia no show e com competência foi o contrabaixista Zéu Moreira. Além da belíssima performance, a plateia pode desfrutar a qualidade das músicas autorais de Arthur e também algumas das que tocou em outras bandas, como o Cama de Gato. É bom frisar que Dan Mendonça disse que disponibilizaria a gravação completa do show gravado em 2018, em breve, numa rede social. Que bela notícia!

A segunda apresentação da noite, que foi a mais jazzística da Santa Jazz, ficou por conta do quarteto do baterista Pascoal Meirelles, que tinha no seu elenco o saxofonista Daniel Garcia, o baixista Alex Rocha e o pianista Natan Gomes. Os improvisos correram soltos, como se a plateia estivesse numa perfeita jam novaiorquina. Do repertório, saíram da lavra de Pascoal, “Tom” e “Pro Helvius“. Belas composições dedicadas a Tom Jobim e Helvius Vilela, pianista mineiro, contemporâneo de Pascoal no Rio. Da lavra dos standards, destaco “Blues March“, obra prima de Benny Golson e um dos hits do Jazz Messengers.

16/06 – Domingo: Segunda Tarde

Às 12:30, em ponto, começaram a tocar no Palco Principal o Baobab Trio, o mais significativo combo instrumental capixaba. Formado pelo pianista Fabiano Araújo, o violonista Wanderson Lopez e pelo baterista Edu Szajnbrum, o trio apresentou músicas do repertório do primeiro álbum, como a “Toccata em Rítmo de Samba II” de Radamés Gnatalli e o “Canto de Ossanha”, de Baden & Vinícius. Também foram apresentadas as obras de Wanderson, “Ladeira São Bento”, “Incompletude” e a maravilhosa “Arabesco”, com direito a solo de viola portuguesa.

O festival encerrou de forma singela e clara, com a presença da cantora Leila Maria, desfiando pérolas de seu repertório, incluindo trilhas de filmes e do repertório de Billie Holiday.

Antes de partir para de volta à Vitória, pude usufruir um pouco da gastronomia da terra de Santa Teresa regada a artesanais locais. Como não posso nem devo vacilar, já é hora de fazer uma reserva para a próxima edição em 2020.