Lançamentos

Oleg Tumanov lança o álbum ‘On the way from Brazil’

Mariana Peixoto, jornal “Estado de Minas”, 29/01/2020

A primeira música brasileira que o pianista e compositor russo Oleg Tumanov ouviu na vida nem cantada em português era. Mas a melodia de Não deixe o samba morrer (Edson Conceição e Aloísio Silva) logo o impressionou. Um tempo mais tarde, ao descobrir a gravação de Alcione, ele ficou tão arrebatado que logo resolveu pesquisar mais sobre a produção musical do Brasil.

As 13 faixas que compõem On the way from Brazil – A bossa nova de Oleg Tumanov (Warner) são o resultado concreto desta paixão. Recém-lançado no país, o disco reúne uma série de bambas interpretando composições do músico russo. As músicas são uma parceria dele com o carioca Mauro Aguiar, que escreveu as letras para 11 faixas – há duas instrumentais.

O time de intérpretes reúne Paulinho Moska, Joyce Moreno, Leila Pinheiro, Celso Fonseca, Jane Duboc e Luciana Alves. O álbum foi gravado no estúdio Companhia dos Técnicos, em Copacabana. Da parte gringa, houve a participação do pianista russo Alexey Podymkin e dos franceses Baptiste Herbin e Idriss Boudrioua (ambos saxofonistas) e Emile Saubole (baterista). Da parte brasileira, além do arranjador e diretor musical Rafael Rocha, o álbum coletivo contou com o violão de Bernardo Ramos, o piano de Eduardo Farias, o baixo de Jefferson Lescowich e a percussão de Dada Costa.

Idriss (radicado no Brasil) e Rafael foram fundamentais para reunir a equipe brasileira para o projeto. Na minha opinião, conseguimos criar uma gravação da mais alta qualidade, a partir da performance dos músicos”, comenta Tumanov. O projeto começou a distância – somente quando chegou ao país para a gravação ele conheceu pessoalmente Mauro Aguiar.

On the way from Brazil não é o primeiro álbum que Tumanov dedica ao cancioneiro de um país estrangeiro. Já gravou o disco Last love tango (2009), dedicado ao ritmo argentino, e Rio-Havana (2004), em que promoveu uma conexão entre Brasil (o disco teve a participação de Emílio Santiago, Leny Andrade, Wanda Sá e João Donato) e Cuba (o pianista Chucho Valdez e o cantor Armando Cantero fizeram parte do projeto).


CANTORAS

Como ouço música brasileira há muitos anos, compor uma bossa é, de certa forma, mais fácil do que uma música russa. Não preciso nem me forçar, hoje é como compor em minha própria língua. Quando componho uma bossa ou samba, tento imaginar como grandes cantoras como Alcione, Maria Bethânia ou Elis Regina interpretariam minha música. Isso ajuda a me guiar”, comenta Tumanov.
De acordo com ele, a presença de Rafael Rocha foi essencial também para conseguir fazer uma ponte entre a bossa mais tradicional e suas vertentes mais contemporâneas. “Mauro, por outro lado, desenvolveu as letras como se estivesse escrevendo um livro. Em algumas das músicas, a letra fala de questões caras aos brasileiros de hoje”, diz Tumanov.

Um bom exemplo é Elenova, interpretada por Luciana Alves, que busca inspiração na Rússia para acompanhar a jornada de uma garota de Ipanema, agora voltada para a militância política.

Ela é brusca/Diz que o país moscou/Mas insiste/Maloca o molotov no meu Gol/E malgrado o tempo que se arriscou/Eu gosto dela/E até na Sibéria por ela eu vou/Presta atenção/Vai durar esta noite/Pega a canção/O martelo e a foice/Pega o que der e vem/E ninguém/Larga a mão/De ninguém.

Para Tumanov, a despeito das diferenças abissais, Rússia e Brasil têm alguns pontos essenciais em comum. “Acho que russos e brasileiros são muito sinceros em suas emoções, mais do que europeus ou norte-americanos. Além disso, as duas nações têm raízes culturais muito profundas e também estão enfrentando grandes desafios na política e na economia.”

Depois de uma rápida passagem pelo Rio, onde fez o show de lançamento, ao lado de Jane Duboc, Leila Pinheiro e Luciana Alves, Tumanov, já de volta à Rússia, está à espera dos brasileiros. Em fevereiro, vai receber alguns músicos para shows de On the way from Brazil por lá.