Quase memória: Edu Lobo, Romero Lubambo e Mauro Senise
Augusto Guimarães Pio, jornal ‘O Estado de Minas’, 30/06/2019
O álbum ‘Quase Memória’ encerra a trilogia que reuniu Edu Lobo, Romero Lubambo e Mauro Senise. O trio já havia lançado Todo sentimento e Dos navegantes, que em 2017 foi premiado com o Grammy Latino de melhor álbum de Música Popular Brasileira (MPB). A canção que dá nome ao CD foi composta por Lobo, ao ler o romance homônimo de Carlos Heitor Cony. Além de Lobo (voz), Senise (sax, piccolo e flautas) e Lubambo (violão e guitarras), o disco traz as participações de Anat Cohen (clarinete), Kiko Horta (acordeon), Bruno Aguillar (baixo), Cristóvão Bastos (piano) e Jurim Moreira (bateria).
“Desde o CD Todo sentimento, meu e do Romero, já tínhamos a ideia de convidar o Edu, que ficou todo entusiasmado com esse formato mais camerístico – um baixo, um violão, sopros e uma percussão leve”, conta Senise.
“Aí ele falou: ‘Vamos fazer um CD!’ Fizemos Dos navegantes, que ganhou o Grammy, e ele disse: ‘Ainda tenho muita música em casa.‘ Ficamos muito empolgados, combinamos e fizemos este terceiro, que saiu naturalmente, na mesma empolgação dos anteriores.”
O instrumentista diz que o repertório de ‘Quase Memória‘ foi escolhido com o mesmo método usado em Dos Navegantes:
“Edu nos mostrou cerca de 18 músicas e nós três, em comum acordo, escolhemos. Romero voltou para os Estados Unidos, onde mora, e de lá se comunicava conosco por e-mail.”
Sobre os critérios para a escolha do repertório, Senise diz que um deles foi optar por músicas pouco conhecidas. “Pensamos em não colocar determinadas canções porque já foram super gravadas. Outro critério foi escolher músicas mais camerísticas, que combinassem melhor com essa formação mais enxuta, embora este CD tenha bateria, piano e acordeon como novidade. O baterista Jurim Moreira tocou bem leve, do jeito que o Edu gosta. Kiko fez harmonias maravilhosas e o Cristóvão também deu aquele toque minimalista.”
Senise observa que 90% das músicas do CD são baladas. “Somente Canudos é mais agitada. Agora, nos shows, colocamos outras mais animadas, para dar uma equilibrada. Mas o disco ficou superelegante, já que buscamos essa concepção de música mais calma.”
EMBRIÃO
A amizade entre os músicos do trio vem de longa data.
“Conheço Romero há mais de 40 anos e, mesmo com ele morando fora, a gente está sempre se falando por telefone. É um grande amigo”, diz Senise.
O músico toca com Lobo há mais de 30 anos, tanto em estúdio como em turnês. “Edu não conhecia o Romero. Ele o conheceu há dois anos, quando Romero e eu gravamos Todo sentimento e do qual Edu participou. Esse foi o embrião dessa trilogia. A gente se admira muito. Ele é um craque na composição, gosto muito dele interpretando, cantando. Eu me inspiro muito para solar um saxofone, principalmente um sax-alto, que se aproxima mais da voz dele, das divisões que ele faz. É um craque. Um dos grandes do mundo. Romero também é um músico fantástico.”
Senise conta que os arranjos dos CDs foram feitos coletivamente. Sobre a possibilidade de gravarem outro disco, diz:
“Estamos sempre felizes por estar juntos. Assim não está descartada essa possibilidade. Agora, isso só o tempo dirá. Música não falta. Edu ainda tem cerca de 100 canções prontas para ser gravadas. Vamos ver o que vai rolar. Ainda está cedo, porque estamos curtindo a nova criança”.
Paralelamente, Senise continua tocando com seu quarteto Cama de Gato.
“Nosso CD mais recente foi dedicado ao Gilberto Gil e se chama Amor até o fim. Já gravamos outro, que pretendo lançar no ano que vem. O disco é dedicado ao grande Johnny Alf (1929-2010) e vai se chamar Ilusão à toa. Tem a participação de muita gente conhecida e traz aquelas composições maravilhosas dele.
Estou lançando também outro CD com o Gilson Peranzzeta, com quem toco há 29 anos”, conta. O duo já gravou 11 CDs e este se chama Cinema a Dois. “São só trilhas de filmes de autores como famosos, como Mancini, Morricone, Jobim e Nino Rota, entre outros.”