Quinteto Astor Piazzolla traz a BH tributo dedicado ao renovador do tango
Augusto Pio, Estado de Minas, 31/08/2023
Em turnê para lançar o disco “Operation tango”, o Quinteto Astor Piazzolla se apresenta nesta quinta-feira (31/8), no Sesc Palladium, em Belo Horizonte. Depois de tocar na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, México, Costa Rica e Bulgária, o grupo está no Brasil para comemorar os 100 anos do compositor e bandeonista argentino.
“A ideia não é apenas focar nos clássicos de Piazzolla. Parte da nossa missão é focar em peças menos conhecidas que acreditamos que merecem ser ouvidas”, diz o saxofonista e flautista Julián Vat, que se apresentará com Pablo Mainetti (bandoneon), Nicolás Guerschberg (piano), Serdar Geldymuradov (violino), Armando de la Vega (guitarra), Daniel Falasca (contrabaixo).
Vinculado à Fundação Astor Piazzolla, o grupo priorizou também peças escritas pelo compositor para quinteto. Julián Vat está consciente de que o público quer ouvir “Libertango” e “Adiós nonino”, clássicos do consagrado autor, mas pondera: “É importante dar ao espectador a oportunidade de ouvir músicas que ele não tem costume de escutar”.
O grupo argentino se atribuiu a missão de levar à frente o trabalho de Piazzolla, nome fundamental da renovação do tango. “Nosso trabalho é baseado nas obras dele. Embora façamos adaptações devido à quantidade de músicos, pois somos um quinteto, a plateia consegue entender, em qualquer parte da execução, que se trata de Piazzolla”, afirma. Nesta quinta-feira, o grupo vai tocar “Thriller” e “Fuga y misterio”, gravadas no álbum do quinteto.
Respeito ao mestre
O repertório da noite terá 12 músicas, com diferentes durações. “A música de Piazzolla não é tão longa, mas algumas podem se prolongar. Nunca criamos arranjos nessa ocasião. Somos compositores e fazemos arranjos, claro, mas em se tratando de Piazzolla, não fazemos isso. Ele foi um maravilhoso compositor e arranjador. Então, respeitamos a forma e as ideias dele na hora de interpretá-lo. Por isso, não incorporamos novas ideias à sua obra”, explica.
O argentino garante: é impossível tocar Piazzolla todas as vezes do mesmo jeito. “Piazzolla é como Maradona, Messi e Pelé, personalidades que aparecem a cada 100 anos. É um protagonista especial, então devemos honrar sua música.”
O tango está em alta na Argentina, comemora Julián Vat. “Os jovens se interessam em tocar e estudar o ritmo. E também em encontrar formas diferentes de compor, talvez com influências do rock ou de outros estilos. Os tempos mudam e o acesso à música mundial está disponível para todos. Penso que o tango precisa mudar e entender a globalização”, defende o saxofonista.
De acordo com ele, não há necessidade de os novos compositores separarem “o que é tango e o que não é”. Eles devem compor o que sentem, acredita. “Tango não é música de 50 ou 60 anos atrás”, enfatiza. “A música de Piazzolla começa com tango, mas não se resume apenas a isso, pois também está presente o jazz, a música da academia, além, claro, da popular. Por isso, muitos artistas do mundo querem tocá-lo, pois ele é especial”, observa.
Paixão de infância
O saxofonista conta que ama Piazzolla desde pequeno. “Ele foi grande influência na minha formação como flautista e diretor musical. Antes dos 20 anos, tive a oportunidade de conhecê-lo, realmente uma honra. Acredito que Piazzolla foi bastante importante na vida de outros músicos de Buenos Aires”, diz.
Aos 20 anos, Julián Vat gravou “Histoire du tango”, composta por seu ídolo para flauta e violão. “Ele me deu esta música e foi uma grande honra para mim”, orgulha-se.
“Recentemente, gravei-a novamente em duo com um violonista. Amo a obra dele, é música atemporal. A música de Piazzolla ainda está viva”, garante.
O argentino diz também que adora música brasileira.
“Quando comecei a aprender música, estudava Villa-Lobos, mas hoje gosto de tocar e escutar Chico Buarque, Milton Nascimento e Caetano Veloso, entre outros.”