‘Vou tocar músicas que considero fundamentais na minha vida’. Este é o conceito do recital’ André Mehmari, compositor e pianista.
Lucas Lanna Rezende, Estado de Minas, 16/05/2023
O pianista e compositor André Mehmari é lacônico ao falar sobre quantas peças vai tocar no recital desta terça-feira (16/5), no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, como parte da programação do Festival de Maio. “Minha intenção é apresentar uma música. Só uma”, diz.
Mas onde já se viu recital com apenas um tema? “Na verdade, costumo juntar as músicas que sempre toquei, as minhas composições e improvisos, para fazer com que elas soem como uma única grande música”, explica o compositor.
Dessa forma, ele promete reunir hoje obras dos mais diferentes estilos – do barroco francês, com “Pavane em F# minor”, de Louis Couperin (1626-1661), ao maxixe de Ernesto Nazareth (1863-1934) e o samba de Noel Rosa (1910-1937).
“Vou tocar músicas que considero fundamentais na minha vida. Este é o conceito do recital”, afirma Mehmari. Por isso, o arco temporal tão longo, abarcando a multiplicidade de estilos.
Do Brasil para o mundo
Aos 46 anos, Mehmari é um dos principais pianistas do Brasil. Lançou cerca de 50 discos, acompanhou nomes de peso da MPB, como Maria Bethânia, Milton Nascimento, Guinga, Mônica Salmaso, Toninho Horta, Flávio Venturini e Alaíde Costa.
Também firmou parcerias internacionais que lhe garantiram apresentações como solista nos Estados Unidos, Japão, França, Itália, China, Argentina, Canadá e Noruega.
Mehmari, contudo, não se vê apenas como pianista. É compositor. Afinal de contas, desde os 12 anos, ele cria harmonias e melodias diariamente.
Dos 13 aos 15 anos, inclusive, desenvolveu as “21 peças líricas”, série de obras tecnicamente simples, trazendo conteúdo melódico harmônico interessante para os jovens estudantes. As obras foram encomendadas por uma escola de música de Ribeirão Preto (SP) e se tornaram o principal método de Mehmari para ensinar piano.
“Minha renda vem das encomendas”, revela. “Há mais de 15 anos, vivo no Brasil por meio das minhas composições. Então, para além da necessidade metafísica de compor, porque, de fato, sinto a necessidade poética de criar, estou, sem parar, com encomendas novas na mesa”, revela.
No momento, ele desenvolve o concerto “Antonio Meneses e Orquestra Filarmônica de Minas Gerais”, em homenagem ao violoncelista aclamado mundialmente, que vai estrear em dezembro na capital mineira.
Choros & Pianos
Paralelamente às encomendas, compõe canções para seus projetos autorais. Em 5 de maio, lançou o álbum “Choros & Pianos”, com 14 faixas inéditas que exploram as sonoridades de pianos elétricos e sintetizadores analógicos.
A proposta do disco é associar a gêneros populares instrumentos com os quais eles não têm intimidade, caso do choro, baião, choro canção e bossa nova. Gravaram com Mehmari os músicos Edu Ribeiro (bateria), Thiago Espírito Santo (contrabaixo elétrico), Alê Ribeiro (clarinete) e Fábio Peron (bandolim).
Desde que aprendeu piano com a mãe, Cacilda Mehmari – “nasci num banquinho de piano; quando a bolsa da minha mãe estourou, ela estava tocando piano”, brinca –, André percebeu que tocar música ia além de executar corretamente as notas com técnica perfeita.
“Na verdade, não me vejo como pianista que toca um instrumento, mas como compositor que tem no piano seu principal instrumento. Para mim, isso é o que diferencia o fazer musical, a poética musical. Ou seja, estou muito mais preocupado em nutrir a minha inventividade com informações do que manter a técnica impecável”, ressalta.
“O que importa é manter a criatividade fresca e estimulante, porque isso vai ser estimulante para quem escuta”, conta.
O improviso, aliás, é a marca registrada do pianista, constantemente explorado em seus recitais. Conforme o próprio Mehmari diz, para “desespero” de quem acompanha o programa oferecido neles, o repertório nunca é executado na íntegra. A ordem das canções sempre muda. Ele acaba adicionando uma ou outra música que lhe vem à mente, de acordo com seu estado de espírito no momento do show.
Bach à la Mehmari
Mehmari cria improvisos até mesmo sobre as peças que toca há muito tempo. É o caso da partita para violino “Chaconne”, de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Há pelo menos 20 anos ele a apresenta, tendo sempre à vista a partitura original, sem marcações ou indicações. No entanto, a cada execução, “Chaconne” surge diferente.
Outra característica de Mehmari é o costume de encerrar recitais com improvisos. Pede ao público sugestões de temas e cria suítes com base no que foi proposto. Nesse momento, público e artista se encontram de verdade, acredita.
“Meus recitais geralmente são muito dinâmicos. Improviso não é você concatenar ideias pré-fabricadas, mas justamente você estar presente no tempo presente. Então, muitas vezes mudo o repertório ou a ordem das canções em função do discurso que desejo passar, ou da emoção que quero transmitir. O fundamental, para mim, é transmitir um discurso sensível ao público”, ressalta.
Embora a diversidade do repertório se explique pelo desejo de Mehmari de executar músicas que marcaram sua vida, há outra explicação para o ecletismo. “A diversidade é um reflexo do nosso tempo, pois a gente recebe grande quantidade de informações.”
Além disso, a multiplicidade é fruto das referências que ele traz de casa, sobretudo influências da mãe. “Era um ambiente musical bem diversificado – de Vivaldi a Milton Nascimento no mesmo dia. Sempre ouvia minha mãe tocar no piano repertório muito variado, de Scott Joplin a Tom Jobim. Isso teve impacto na minha personalidade musical”, conclui.
FESTIVAL DE MAIO 2023
Recital do pianista André Mehmari.
Nesta terça-feira (16/5), às 20h30.
Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas: Rua da Bahia, 2.244, Lourdes.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), na bilheteria do teatro ou no site www..eventim.com.br
Informações: (31) 3516-1360.