Savassi Festival: a presença de Rafael Martini
Dentro do atual cenário da música mineira, Rafael Martini representa para mim o que há de melhor, não só pelo seu talento como instrumentista e compositor, mas pela capacidade em buscar novos caminhos através de ousadia, experimentação e um grande senso de sintonia em interligar a música que se produz aqui com a que é feita neste vasto mundo. Nessa entrevista, ele nos conta sobre as três apresentações que fará nessa edição de 2016 do Savassi Festival. E de quebra, ele nos atualiza sobre a ‘Suite Onírica’, projeto que apresentou na edição 2014 do Festival e também sobre seus trabalhos com os grupos de Alexandre Andrés e Joana Queiroz.
Wilson Garzon – No dia 26/06, você toca junto com o Guanduo. Já conhecia o trabalho do Guanduo? Como será a sua participação nesse show?
Rafael Martini – Já conhecia e era fã. Adoro duos de violões e o Eduardo e o Juliano formam um grande representante dessa linda formação! Estou “entrando” no meio do duo tocando acordeom e rhodes, em músicas deles, alguns arranjos para músicas dos Beatles e Egberto Gismonti e algumas minhas. Inclusive escrevi um arranjo da minha Com Carinho especialmente pra eles, pra estrear no show. Essa música, inclusive, é um dos movimentos da minha Suíte Onírica, para orquestra, sexteto solista e coro lírico.
WG – No sábado (02/07) vc se apresenta em trio ao lado de Santana e Velasco. O que está pensando em termos de repertório? Qual será a proposta musical desse trio?
RM – A estética principal do Rafael Martini Trio é de música instrumental brasileira com a apropriação e recriação de gêneros típicos como baião e maracatu, em fusão com elementos do rock e da música eletrônica, com uso de timbres e recursos de processamento sonoro mais encontrados nesses universos. O repertório, que em julho estará gravado em disco, trará músicas minhas inéditas e também duas músi
cas do baixista do Trio (Trigo Santana) e dois arranjos que, ao estarem juntos no mesmo álbum, dizem bastante sobre a pluralidade de referências usadas no som desse trabalho: um arranjo bem diferente para Meditação do Tom Jobim e um arranjo (também bem criativo) para The Rain Song, do Led Zeppelin.
No repertório há três canções que interpreto (The Rain Song e duas minhas – uma em parceria com Makely Ka e outra com letra da Leonora Weissmann), mas mesmo as músicas instrumentais, em sua maioria fazem uso da voz como instrumento, inclusive com o uso de processamentos com uma boa dose de audácia no timbre dela. O jazz pode ser um rótulo que abarca tudo isso, pois esse termo há muito tempo não é propriamente referencial a uma estética ou estilo, e sim a uma “atitude” em relação à performance, de tocar com mais liberdade e diálogo entre os músicos. Como o Wayne Shorter diz, “Jazz to me means ‘I dare you‘”. Tento ver por aí também.
WG – No domingo (03/07) vc se apresenta em trio com Durães e Lana. Como definiram o conceito desse experimento vídeo-musical? Pura experimentação?
RM – Muita experimentação sim, mas fruto de um longo convívio em palcos e estúdios com o Pedro Durães, que assina, junto comigo, a produção do meu disco Motivo (2012) e está sempre junto em vários outros trabalhos. Nosso duo de piano e eletrônica já fez algumas apresentações, mas agora com a incorporação da artista Sara Lana, estamos experimentando coisas novas e compondo para o show. Na verdade, em todo show que fazemos sempre trazemos as composições mais recentes e trabalhamos em conjunto nelas, então dessa vez não será diferente: composições antigas e novas se misturam com improvisações livres adicionadas ao vídeo e cenário em diálogo com a música.
WG – Como anda na ‘real’ a Suíte Onírica: quando pensa em finalizá-la? Há perspectiva para o lançamento esse ano?
RM – O disco da Suíte Onírica está em processo de pós-produção (edição, mixagem e masterização) na Venezuela e tem previsão de lançamento para outubro/novembro desse ano, com um concerto em Caracas com a Orquestra Sinfônica Venezuela e o meu sexteto, formado por mim, Trigo Santana (baixo), Joana Queiroz (clarineta), Alexandre Andrés (flauta), Jonas Vitor (sax) e Felipe Continentino (bateria).
WG – Que outros projetos anda tocando em paralelo?
RM – Acabo de gravar um disco sob encomenda de uma gravadora japonesa, a Spiral Records com um trio formado por mim, o guitarrista Bernardo Ramos e a clarinetista Joana Queiroz. É um disco que deve se chamar Gesto, destinado ao público japonês, sem previsão de lançamento no Brasil, e tem composições dos três e um arranjo para O Farol que nos guia, do Hermeto Pascoal.
Além disso, dois trabalhos de que faço parte como se fossem meus, “Alexandre Andrés Quarteto” e “Joana Queiroz Sexteto”, estão para lançar seus mais novos discos em breve. Enquanto isso, como disse, o Rafael Martini Trio entra em estúdio daqui a poucos dias e deve lançar o disco em 2017. E por fim, sigo realizando uma pesquisa de pós-graduação em música com o foco nos arranjos de Letieres Leite, Moacir Santos e Pixinguinha.
SAVASSI FESTIVAL
26 de junho
20h00-21h30 – Guanduo convida Rafael Martini no Palco BDMG Instrumental. Teatro da Biblioteca Pública Luis de Bessa. Entrada: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia).
02 de julho
17h15-18h30 – Rafael Martini Trio. Palco Skol – Praça Santa Tereza
03 de julho
17h15-18h30 – Durães e Martini + Lana. Palco Oi Jazzy – Café com Letras