Uma noite no TribOz
Paulo Cesar Nunes, especial para o site Clube de Jazz
Todos já estamos acostumados. No Rio, as primeiras semanas do ano concentram uma profusão de folia e blocos carnavalescos pelas ruas da cidade, a oferta musical para jazzófilos fica restrita a algumas ilhas, como é o caso do Triboz. Passado o Carnaval e depois das férias de muitos, o público começa a buscar sua rotina de música mais elaborada.
É comum a alta qualidade da programação do Triboz nas noites de quinta a sábado. A tradicional casa da Lapa, comandada pelo trompetista australiano Myke Ryan, tem reservado surpresas de muito bom gosto nesta agenda semanal, como sempre destaca o site Clube de Jazz na Agenda-Rio. Na sexta, 06 de março, estive por lá para conferir o programa duplo. Segue a resenha…
SEXTA – 06/03
18h00 – CELLO BOSSA DUO: Aleska Chediak e Márcio Hallack
Esse é um projeto da jovem violoncelista Aleska Chediak e vem causando repercussão na cena de música de qualidade no Rio. Aleska tem repertorio amplo dentro da MPB, bossa nova e chorinho, e tem feito duo com vários musicos convidados. Nesta sexta tivemos o privilégio de assistir o pianista Márcio Hallack. Radicado em Juiz de Fora, Hallack trabalhou com Hermeto, Toninho Horta, Mauro Senise, Robertinho Silva, Marcos Suzano…é longa a lista. O repertório da noite foi abrangente, começoando com Tom Jobim (Chega de Saudade, Luisa), passando por Edu Lobo (Pra Dizer Adeus) e pelo tema de Almir Chediak e Moraes Moreira, Bom de Viver, o único em que Aleska canta.
A participação especial ficou por conta da cantora Thaís Fraga, com belas interpretações de Fotografia, de Jobim e Pra Dizer Adeus. Mais tarde, Márcio Hallack chamou ao palco Ivan Azevedo, que cantou Beijo Partido, de Toninho Horta. O show seguiu apresentando músicas de Sergio Mendes (So Many Stars), Caetano (Sampa e Luz do Sol), voltando a Jobim (Chovendo na Roseira e Modinha) e terminando com Influência do Jazz, de Carlos Lyra. Nos dois sets tivemos um desfilar de beleza, bom gosto, virtuosismo, elegância, uma dança, ou quem sabe, uma conversa entre violoncelo e piano de embalar a noite! Um encontro empolgante e já vislumbro a próxima edição.
PAPO COM ALESKA CHEDIAK
PCN – Como foi que, ao enveredar pela música, escolheu o violoncelo?
AC – Minha mãe é pianista clássica, meu irmão mais velho é musico e eu, aos 8 anos, ganhei um violoncelo. Comecei a estudar na Escola de Música Villa Lobos e me apaixonei pelo instrumento, pelo seu som aveludado… é o que mais se aproxima da voz humana. Nunca mais larguei!
PCN – Quais são suas influências no mundo da música?
AC – No caso da MPB, da bossa nova, eu me identifico com Leny Andrade, Nana Caymmi, Alcione, Beth Carvalho e Elis Regina, todas cantoras, uma forma de interpretação das gravações delas, como influência no instrumento. Também tive influência dos violoncelistas, principalmente quando estava estudando o erudito, hoje posso mencionar Yo Yo Ma, Antonio Menezes, e também Jaques Morelenbaum, que faz todo um trabalho na MPB. Também posso mencionar o britânico David Chew, que vive no Brasil, foi meu professor, e através de seu projeto Rio Cello Encounter fui estudar na Universidade de Manitoba, no Canadá.
PCN – Você tem feito projetos para fora do Rio?
AC – Estou com uma proposta pra tocar em São Paulo, ainda em definição. No ano passado, toquei em Juiz de Fora com o Márcio Hallack. O projeto Cello Bossa Duo estreou em novembro de 2018, é relativamente recente, e a cada encontro eu convido um músico diferente. Já o Cello Bossa Trio é mais novo, de outubro 2019, eu faço com o pianista americano Cliff Korman e com o baterista Márcio Bahia. Com esta formação já fizemos alguns shows.
PCN – Quais são os seus próximos projetos?
AC – Com o Cello Bossa Trio estou planejando tocar em outras cidades do Brasil, e seguir ma apresentando com o Cello Bossa Duo. Também pretendo preparar um disco, que ainda não tenho. Tenho feito gravações em projetos de outros artistas.
Vamos seguir acompanhando essa maravilhosa artista e aguardando o seu primeiro disco.
21h00 – HANS MATHISEN QUARTETO
O show principal da noite reuniu um ícone do jazz norueguês, o guitarrista Hans Mathisen, e músicos destacados do jazz no Brasil o baterista Lourenço Vasconcelos, o contrabaixista Augusto Mattoso e o pianista americano Cliff Korman.
Hans Mathisen vem de uma família de músicos; seus irmãos também militam no jazz e frequentemente tocam ou gravam com ele. Ao longo das últimas três décadas, Mathisen alcançou enorme prestígio no jazz europeu, tendo desenvolvido seu estilo, que tem referências de Pat Metheny e Wes Montgomery. Mathisen tocou em formações como o Quaternion e em big bands e também apresentou-se com inúmeros artistas de seu país.
Ele compõe músicas para trilhas sonoras e para eventos, leciona música na Sandefjord High School, faz arranjos para a Norwegian Radio Orchestra e várias outras big bands. Enfim, ele está completamente mergulhado na tarefa de levar sua música no mais alto patamar. Seus esforços lhe renderam um prêmio Spellemann na Noruega – equivalente ao Grammy – na categoria jazz, pelo disco Quiet Songs. Ele tem seis discos lançados e inúmeras participações com outros artistas.
O repertório da sua apresentação no Triboz foi baseada em suas composições e o resultado foi fantástico. Foi a primeira vez deste quarteto, mas parecia que já tocavam juntos há 20 anos! As composições de Mathisen foram a estrela, mas também tivemos virtuosismo e muito bom gosto nos improvisos. Desfilaram os temas Away, Beirach, Spanish Hearts, Silver Woman, The Island, Exploring, A Quiet Moment, The Lake, Restless e Alone Together, temas que também estão em seus discos. O terceiro set, mais curto, começou com uma bela execução Corcovado e terminou com mais um tema de Hans Mathisen. Muita compenetração dos músicos e ao mesmo tempo tocando com leveza e entusiasmo, tivemos um grande encontro de jazz internacional no Triboz.
DISCOGRAFIA
Good Bait (2003)
Quiet Songs (2005)
Timeless Tales (2011)
The Island ( 2014)
Oschestral Works (2017)
Moving Forward (2019)
TribOz
Rua Conde de Lages, 19 – Lapa
Tel: (21) 2210-0366 e 99291-5942
www.triboz-rio.com
