O baixista Bruno Aguilar faz primeiro voo solo
Augusto Pio, jornal ‘Estado de Minas’, 29/09/2021
Depois de 25 anos apresentando-se com artistas como Edu Lobo, Joyce Moreno, Francis Hime, Hermeto Pascoal, Hamilton de Holanda, Maria Bethânia, Dori Caymmi e Ney Matogrosso, entre outros, Bruno Aguilar decidiu lançar seu primeiro álbum solo. O disco ‘anso gocun ferregoná sou tê’, inspirado em leituras sobre a colonização da América Latina e em pesquisas sobre a história de sua família. Independente, o disco traz 10 faixas, sendo três de sua autoria.
“Toquei por muitos anos como baixista com gente que admiro, mas sempre com aquela vontade de fazer um trabalho meu. Mas, na correria de viagens, tocando, ensaiando e (criando) filho, acabou que nunca tive esse tempo. Ia compondo, fazendo arranjos, mas jogando tudo na gaveta, até que a pandemia, com toda essa coisa horrorosa que está acontecendo, teve para mim um lado positivo naqueles primeiros seis meses”, diz Aguilar.
“Com todo mundo em casa, assustado, pensando no que poderia acontecer, foi quando tive a ideia de mexer naquele material. Então fui procurando os arranjos que tinha feito, comecei a compor, a finalizar ideias e também projetar esse primeiro CD.”
Quando a pandemia começou a ceder um pouco, nos meses de outubro e novembro do ano passado, ele resolveu levar adiante a ideia de gravar o disco solo.
“Pensei, vai ser agora ou nunca. Acabou que gravei sozinho muita coisa. É um disco que poderia e gostaria de ter contado com vários musicistas, mas acabou que, em função da pandemia, gravei o contrabaixo, o violão, que foi o meu primeiro instrumento, cantei, fiz umas percussões. Vou gravar o máximo que puder e chamar o mínimo de músicos’, porque também não queria fazer remoto.”
E Aguilar convidou Joana Queiroz, sua parceira desde o projeto Itiberê Orquestra Família, e Adriano Souza, que é seu amigo desde o primeiro trabalho profissional, quando acompanhava a cantora, violonista e percussionista Lucina.
“Em cima da hora, apareceu o pandeirista Serginho Krakowski, que estava morando em Nova York. Convidei também o meu filho Joaquim Gonzaga Aguilar para gravar ‘Pau de arara’, em um arranjo que fiz, desconstruindo a música. E nessa canção há também um depoimento da dona Marlene, aluna de um projeto social que tenho no Rio de Janeiro, que fez um depoimento sobre a vida dela. Ela que é nordestina e se radicou na Cidade Maravilhosa.”
NOME
O álbum ganhou o curioso nome “anso gocun ferregoná sou tê”. O músico conta que o nome do disco surgiu de uma brincadeira que se originou de um jogo de palavras que ele mesmo fez.
“Quando entrou a pandemia, tinha acabado de ler ‘As veias abertas da América Latina’ (Paz e Terra), do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015). É um livro forte, pois foi impressionante o massacre dos europeus aqui e na América Latina, os negros, aquele terror todo. Aquilo me impactou e, junto com isso, já estava pesquisando a história da minha família, buscando meus sobrenomes, de onde vim, e descobri que 99% dos sobrenomes eram europeus, como Gonçalves, Ferreira, Aguilar, Teixeira, Souza.”
Ele conta que aquilo começou a incomodá-lo.
“E foi aí que passei a pesquisar mais, até que descobri uma bisavó que era cabocla, mistura com índio, mas nenhum sobrenome dela ficou, veio, mulher, cabocla, década de 1950, imagina? E fiz uma junção dessa história da América Latina, do Brasil, do que estava lendo sobre a colonização violenta com a minha própria história pessoal. Aí nasceu o mote para o disco e fiz essa brincadeira, esse jogo de palavras, com as iniciais desses sobrenomes. É legal que a gente pode fazer várias leituras. Há uma coisa meio mantra, meio indígena… Então é quase uma provocação para cada um ler e interpretar da forma que for o nome.”
“Além das plataformas digitais, o álbum pode ser encontrado no formato CD e, em breve, também sairá em vinil”, avisa Aguilar.