Conheça o pianista americano que trocou os EUA por BH
Gabriela Matina, jornal ‘Estado de Minas’, 31/03/2025
Blusa polo verde, bermuda rosa salmão, tênis de corrida azul e cabelos bagunçados. O visual de Evan Megaro está longe do que se imagina de um pianista “tradicional”. Além do estilo – ou da falta dele, como ele mesmo brinca –, Evan também chama a atenção pelos altos níveis de expressividade durante suas apresentações.
“Acho que meu jeito de vestir é um reflexo da minha falta de foco no que diz respeito a gêneros musicais. Não me restrinjo a nenhum estilo”, afirma. Nascido em Nova Jersey, na costa Leste dos Estados Unidos, ele cultiva há décadas uma paixão pela música brasileira e vive no país desde 2010.
Desinibido por natureza, Evan rouba a cena com suas caras e bocas no palco. “Desde sempre me lembro de ter esse jeito mais ‘palhaço’ que chama a atenção”, conta.
Os primeiros aprendizados no piano foram ainda na infância, em aulas de música na escola. Além do piano, também teve contato com trompete, violino e bateria. Na faculdade, escolheu cursar contabilidade, mas acabou expulso por “farrear” demais.
Foi então que viu a oportunidade de ingressar no curso de música da Universidade Estadual de Nova Jersey, onde, por vontade própria, cursou cinco vezes a mesma disciplina sobre música brasileira.
Clube da Esquina
“Foi quando passei a ouvir Clube da Esquina, Tom Jobim, Djavan e Dorival Caymmi. Eu escutava todos esses artistas incessantemente”, lembra.
“Além dos clichês de ritmo e do aspecto espiritual, acho que o que mais me atrai na música brasileira é a confraternização que ela instiga.”
Seu lugar favorito é o Clube de Jazz Café com Letras, na Savassi, onde recebeu a reportagem para entrevista. O espaço foi um dos primeiros que conheceu na cidade e, atualmente, ele se apresenta por lá aproximadamente quatro vezes por mês.
“Aqui tem produção, técnico de som, palco, instrumentos. São coisas que, quando o músico vê no lugar, ele se sente valorizado. Não é um espaço para você alugar, montar e fazer seu trabalho”, comenta.
Foi no Clube de Jazz que Evan Megaro teve a chance de conhecer o saxofonista Nivaldo Ornelas, nome associado à história do Clube da Esquina. Em abril, Evan e Nivaldo farão dois shows juntos – os primeiros do norte-americano com um integrante do movimento musical mineiro. “Ele me viu um dia na plateia e me chamou para experimentar a sonoridade da banda dele”, conta, animado.
Atualmente, o artista se dedica a vários projetos, sendo o principal deles o desafio de lançar 15 discos até o final do ano, todos financiados com recursos próprios. Quatro já estão disponíveis nas plataformas digitais, três estão em processo de mixagem e um outro já foi gravado. Os estilos dos álbuns variam da música erudita tradicional ao jazz e ao choro.
“Estou fazendo um pouco de tudo e deixando as coisas acontecerem organicamente. Não pago por patrocínio nem para ter seguidores. Se você tiver paciência, as pessoas vão querer seguir e ouvir você. Bebo das fontes que estudei e vejo tudo se concretizando naturalmente. Melhor estar no Spotify do que em lugar nenhum”, afirma.
Seu lançamento mais recente –do mês passado – é o álbum “Gatos felizes”. Com oito faixas, o projeto mistura jazz, pop e ritmos brasileiros, como baião, xote e sertanejo. “Não planejei misturar nada. Apenas comecei a compor e a sonoridade surgiu. Quero seguir essa linha de fusão entre diferentes influências até o fim da vida”, afirma.
Entre os destaques do disco estão uma releitura de “Rio”, de Roberto Menescal, e o baião mineiro “Uaião”.
Diferentemente da maioria dos artistas, Megaro diz achar fácil viver de música no Brasil. “Não sei por que tantos músicos reclamam”, diz, embora reconheça que a tarefa se torna mais simples quando se é solteiro e sem filhos. “Acho que a chave é ser versátil”, diz.