As ‘Ressonâncias’ de Louise Woolley
Wilson Garzon – Agora, você está lançando seu segundo trabalho autoral, “Ressonâncias”. Entre ele e “Louise Woolley (2013) se passaram três anos. O que rolou de novidade e que foi desafiante e criativo nesse período ?
Louise Woolley – Primeiro, houve toda a fase de lançamento do primeiro disco. Tive a oportunidade de tocar em muitos festivais e lugares legais, como o “Choro Jazz” em Jericoacoara (linda iniciativa do produtor Capucho), o “Jazz a la Calle” em Mercedes no Uruguai, entre outros. Cito esses dois festivais porque são iniciativas de levar música instrumental para lugares que antes não tinham acesso, e acho isso muito importante. No caso do “Choro Jazz”, o Capucho também criou uma escola de música para as crianças da região de Sambaíba, próximo a Jeri, que é um trabalho muito bonito. No caso do “Jazz a la Calle”, os organizadores contam que antes a cidade não tinha nenhum tipo de atividade cultural, os moradores não interagiam… aí resolveram criar esse festival, com todos trabalhando de forma voluntária. No início os shows aconteciam na rua, por isso o nome. Hoje em dia, o festival cresceu, tem patrocínio… Em janeiro de 2017 será a décima edição e terei o prazer de me apresentar lá novamente.
Outro acontecimento marcante foi em 2014, quando ganhei o prêmio Funarte e viajei junto com o septeto, fazendo shows no sertão do pernambuco. O Cacá Malaquias fez parte deste projeto: ele deu aulas para crianças lá no sertão, outro lindo trabalho. Acho que falta esse tipo de iniciativa. Levar música para lugares antes não pensados, ocupar os lugares, tocar na rua… Espero conseguir fazer mais coisas nessa linha. Com o tempo, aconteceu o processo natural, surgiram novas músicas até chegar a vontade de registrar em um novo disco.
WG – Nesse novo trabalho, ressonância é o que liga todas as suas composições?
LW – “Ressonâncias” é o nome de uma série de desenhos da artista plastica Talita Zaragoza. Ela é uma grande amiga, desde os tempos de escola e sempre admirei o seu trabalho. O tema ‘ressonâncias” e a forma com que ela desenha tem muito a ver com a minha forma de compor. Aí, a convidei para fazer a capa e o encarte do disco. As minhas músicas mostram a ressonância da minha vida no som, e ela por sua vez mostra a ressonância do meu som em seus desenhos.
WG – Exceto “‘Pra Lívia” (Nestrovski) e “Pro Michel” (Leme), qual o significado das outras sete músicas autorais?
LW – Todas foram feitas dedicadas a alguém ou a alguma situação:
“A caminho”, que abre e fecha o disco, fiz no dia em que uma grande amiga me contou que estava grávida de sua primeira filha.
“Manhã de saudade”, fiz no dia do enterro do meu pai.
“Volta bem“ fiz para o amigão e grande baterista Paulo Almeida no dia em que ele fez uma cirurgia no coração. Foi como uma oração para dar tudo certo e ele voltar bem, já que é uma operação em que a pessoa fica desacordada.
Tem outras não tão específicas, mas que retratam um período, como a “receba”, feita em uma época que estava dando tudo errado. Esse “receba” é meio um “toma louise, receba essa m… que está acontecendo”rs.
WG – As telas de Talita Zaragoza presentes no encarte foram criadas para ilustrar as músicas do cd?
LW – Sim! Eu mandei a master do disco e ela foi desenhando enquanto ouvia. Ela fez um desenho para cada música e eles representam exatamente o que o som causou nela, porque a forma de desenho da Talita é muito improvisada, ela não pode parar o traço no meio e ir pensando cada detalhe, é muito orgânico… Acho que ao olhar os desenhos dá pra entender melhor o que estou tentando dizer rs.
WG – Porque a sua opção por quinteto (sete das nove músicas)? Porque a escolha de trio em ‘Manhã de Saudade” e duo em “A caminho“?
LW – O outro disco já tinha algumas faixas de quinteto. As outras eram de septeto e tinham mais aquela sonoridade de comb
o, big band e tal… Nesse eu não queria essa sonoridade, então fiz de quinteto. Os músicos que gravaram o disco são grandes amigos e sou fã de todos eles: Jota P. Barbosa (sax e flauta), Bruno Migotto (contrabaixo), Daniel de Paula (bateria), Paulo Malheiros (trombone) e os convidados especiais Diego Garbin (flugelhorn), Livia Nestrovski (voz) , além da minha filha Julia que fez vocal em “Volta bem”.
“A caminho” eu fiz duas versões, duo e quinteto, e a dediquei à 3 grandes amigas que estavam grávidas na época, Marina Beraldo (flautista), Carol Bezerra (cantora) e Letícia Borges. Essa música pra mim tem a ver com maternidade, um assunto que mexe muito comigo. Entre as incontáveis e incontestáveis alegrias que a maternidade proporciona, também há muita dor, conflitos, julgamentos, solidão, culpa… Muitos desses sentimentos reflexo da sociedade machista e patriarcal que vivemos.
Fui mãe muito nova e muitas vezes guardei para mim todas as dores, na “obrigação” do papel de mãe perfeita e feliz. Lidar com essa pressão logo após o parto, com todas as transformações físicas e psicológicas que ocorrem, é muito pesado. Quem é mãe sabe que – apesar de muitas vezes “velado”- o preconceito está por toda parte e você será julgada se tiver uma depressão pós parto. Você será julgada se amamentar em público (e se não puder amamentar também). Você será julgada se dividir igualmente as tarefas com o pai da criança. (“nossa, mas que mãe é essa que sai pra trabalhar e larga a filha tanto tempo?”) . E por aí vai… Na verdade você também será julgada se não quiser ser mãe. Já que esse assunto não é simples, fiz duas versoes pra tentar expressar alguns dos diferentes sentimentos. Na de duo tem algumas partes mais melancólicas, talvez… Já a de quinteto é mais “pra fora”.
Em “Manhã de Saudade” escolhi essa formação porque representa a intimidade minha e do meu pai. é a única com letra e chamei a incrível Livia Nestrovski pra interpretar, já que não canto. (apesar das pessoas insistirem em dizer sempre “mas você só toca, não canta? “ rs ). Aí entra o baixo acústico na hora do solo, representando a “fala” do meu pai (na gravação tocado pelo grande baixista Bruno Migotto.
WG – Como será a divulgação do CD: tour, programas de rádio, Tv, Net, festivais, shows…?
LW – Por enquanto nós fizemos shows de lançamento no interior de São Paulo: São Luiz do Paraitinga, Ourinhos, São Carlo
s e também em Socorro. O lançamento aqui na capital sera dia 20, quinta feira, as 20h30, no Centro Cultural São Paulo, de graça. Agora estou tentando fechar mais datas e fazendo alguns programas de internet, saíram algumas críticas do cd… e por aí seguimos! Aproveito para mais uma vez agradecer o espaço, Wilson!
WG – E o seu projeto de música no quintal da sua casa, vai voltar?
LW – Vai sim! Eu dei uma parade porque não é fácil tocar, produzir… eu estava sobre carregada, porque ali no “Jazz na casa da Nina” até garçonete eu sou! Rs. Mas em breve marcaremos o próximo e aviso lá pela página do facebook:
facebook.com/casadanina123
facebook.com/louisewoolleypiano