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Breno Sauer: de Curitiba para o Mundo

 

Marília Giller, eBreno Sauer-montspecial para o site Clube de Jazz

Durante meados dos anos 1950 alguns músicos em Curitiba experimentaram um processo de modernização no meio musical, no sentido estético harmônico e sonoro, semelhante e paralelo ao que vinha acontecendo em outras localidades do Brasil e do Mundo. A música inundava os eventos em sociedades, bailes, boates e bares de uma Curitiba enriquecida pela prosperidade do café no Paraná. Na Capital, muitos encontros aconteciam, principalmente no fim da noite, com uma plateia em transito disposta a comemorar suas recentes fortunas, formada por empresários e comerciantes, fomentada por jornalistas, artistas e músicos em jam-sessions com alma do jazz. Foi neste panorama que a música tramou a vida de músicos da cidade de Curitiba e de outros que chegavam de várias regiões do Brasil.

Um deles foi o pioneiro Breno Sauer, vindo de Porto Alegre, foi um dos primeiros músicos do Brasil a utilizar o acordeom em outras linguagens, as quais estava predestinado, ao conhecer a modernidade de Art Van Damme e também a introduzir o vibrafone na música brasileira inspirado no Modern Jazz Quartet. Chegou em Curitiba e após uma temporada foi para São Paulo, voltou para Porto Alegre seguiu para o México por mais um tempo em seguida para os Estados Unidos, na cidade de Niles, em Chicago, onde viveu com a família, até nos deixar no dia 12 de março de 2017.

Em 1957, Breno Sauer e os músicos Olmir ‘Alemão’ Stocker na guitarra, Gabriel ‘Turco’ Bahlis (contrabaixo) e Fernando Collares (crooner) chegaram na Capital paranaense e encontraram um panorama sonoro agitado e estabelecido por músicos que de uma maneira em geral foram pioneiros em suas atitudes como Gebran Sabbag, Waltel Branco, Darío Gaúcho, Efígênio Goulart, Janguito, Wilson e Ivo Branco, Marcos Ritzmann, Bertoldo Beppi, Genésio Ramalho, Fernando Montanari, Airto Moreira, Guarani Nogueira.
È importante assinalar que Guarani Nogueira, é apontado como um dos responsáveis pela batida da bossa nova no disco ‘Chega de Saudade’ de João Gilberto. Airto Guimorvan Moreira cantava boleros e durante anos acompanhou dezenas de artistas internacionais que transitavam pela cidade, antes de ir tocar percussão com Miles Davis em Nova York.

Genésio Ramalho era possuidor da melhor Big Band da cidade, Waltel Branco, um dos compositores e arranjadores mais criativos do nosso estado. É importante lembrar que neste ano também foi criada em Curitiba a banda de música da Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáutica e Infantaria de Guarda – EOEIG, com alguns músicos de gabarito como: Geraldo Elias, Dario Livino Torres, José Ribeiro de Brito, Hildofredo Alves Correa, João Bento de Lacerda, Dalgio Nagele, Antônio Barbosa de Moura, Ari Lunardon, Raul de Souza, um dos maiores trombonistas do Jazz, e que era assíduo nas noites da cidade.

Todos estes músicos com o tempo foram se familiarizando com a cidade, sendo contratados pelas orquestras e rádios, agitando os bailes, boates e bares, e introduzindo no repertório habitual da noite, alguns temas modernos. As casas noturnas já haviam se estabelecido principalmente na região central da cidade, como na Praça Osório em outros endereços próximos, onde se podia encontrar a “Boate Gracefull”, o “Luigi’s” e o “Jane 1”, e ainda, o “La Vie en Rose”, “Manhattan”, “Cadiz”, “Paris”, “Dakar”, “Marrocos”, “Oásis’, ‘Tropical’, ‘La Ronde”, entre outros.

E foi na boate “La vie en Rose” que o grupo de Breno Sauer se consolidou, em 1957, a casa noturna era badalada na época e devido ao grande êxito, logo abriu uma filial em São Paulo. Para onde o grupo seguiu por um tempo. Neste período o vibrafonista ‘Garoto’ deixou o grupo e entrou um pianista chamado José Carlos da Nobrega que também acordeonista, dai então Breno também foi tocar o vibrafone. No final de 1959 voltam a Curitiba, para atuarem na “Boate Marrocos’ do próspero “Rei da Noite”, o empresário curitibano Paulo Wendt (1918 – 1964), o grupo permaneceu por dois anos neste local.

Ao buscar informações em jornais de Curitiba daquele tempo, nota-se que as atividades de Breno e seu grupo foram aumentando conforme o sucesso do grupo e a recepção dos ouvintes. Aos poucos aparecem na Rádio Colombo como ‘o melhor conjunto melódico do sul do País’, e também Breno surge com seu ‘harmonioso conjunto melódico’ na Galeria Hermes Macedo apresentando ‘o único vibrafone em conjuntos sulinos’.

A partir fevereiro 1961, Breno Sauer Quarteto é contratado da ‘TV Paraná’ para três audições semanais, sempre às 20 horas. Em julho do mesmo ano, apresenta-se no programa ‘Musical TV’ com o Breno Sauer Sexteto. Em abril de 1962 Breno Sauer se apresentou no Teatro Guaíra durante a ‘Noite da Musica Popular Brasileira no Paraná’.

As primeiras gravações foram para o selo Columbia do Brasil com ‘Viva o Samba’ (1959), ‘Viva a Música’ (1960), ‘Viva a Bossa’ (1961) e ‘Viva o Ritmo’ (1962). Para a Musidisc gravaram ‘4 Na Bossa’ (1965)  e em São Paulo,  recebem o prêmio de Grupo Instrumental do Ano de 1965, no ano seguinte gravam ‘4 No Sucesso’ (1966). Depois de Curitiba, alguns músicos voltaram para Porto Alegre, e lá Breno formou um novo grupo com a cantora Neusa Teresinha da Rádio Gaúcha, premiada em 1963 no concurso da Voz de Ouro ABC. Em 1967 partiu para uma turnê no México com o grupo ‘Breno Sauer Quarteto’.

Em 1972 foi para Chicago (EUA) onde formou o grupo ‘Made in Brasil’ com Ron DeWar (sax tenor, americano), Akio Sasajima (guitarra, japonês), Paulinho Garcia (baixo, brasileiro), Phil Gratteau (bateria, americano), Neusa Sauer (voz, brasileira), Roberto Sanchez (conga, cubano) e Breno ao piano. O grupo depois trocou o nome para ‘Som Brasil’ com David Urban, Art Davis (trompete), Peter O’Neill ou (saxofone), Paulinho Garcia, Kurt Bley(baixo), Luiz Ewerling (bateria), Neusa (voz) e Breno ao piano.

Breno Sauer nasceu em São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul em 1929, em uma família de músicos que se revezavam entre a gaita, a bateria e o violão, foi aprendendo por si a tocar os instrumentos e seguiu sua história tocando em clubes, rádios e televisão. Com sua alma inquieta e pioneira seguiu para o mundo, formou grupos precursores, tramou harmonias contemporâneas, configurou um som moderno e diferente, com a música brasileira na mochila, seguiu para a vida ao lado de suas paixões: a família e a musica. Curitiba agradece o tempo em que esteve na cidade.