A Amazônia que Felipe e Regis criaram
Felipe é desses amigos generosos que fiz durante a minha trajetória como crítico musical. Acompanho a sua carreira que ele vai construindo com muita qualidade, como um verdadeiro mestre de artes que é. Agora ele me apresenta ‘Amazônia’, projeto gravado há dez anos, que ele e seu companheiro de armas, Regis Gontijo, acabam de lançar. Essa entrevista está de um certa maneira cinematográfica, já que Felipe conta de uma forma saborosa, seus causos amazônicos…
Felipe Avila – Em 1986, Regis, então com 15 anos à época, decidiu ‘fugir‘ de casa onde morava com a família em Manaus, para vir estudar música aqui em São Paulo comigo. Foram seis anos ininterruptos de muitas aulas, conversas e bons momentos. Lembro que a mãe, Dona Diolinda, me telefonava sempre pra saber do Regis. Em 1992 ele foi morar na Austrália e perdemos contato. Muitos anos depois, morando na Amazônia, com a internet disponível, em 2010 ele me procura e diz que gostaria de gravar um CD e que passaria o ano dedicado a este projeto.
Aí eu disse pra ele: “Pô, que legal, quero dar uma canja!”. E, ele diz: “Não. Você fará tudo, as músicas, os arranjos e, também quero tocar com os músicos que tocam com você.” Meus amigos-músicos, também eram ídolos para o Regis. E, sugeriu que eu fosse para a Amazônia para ter as inspirações da floresta, dos rios, dos bichos e tudo o que tinha a ver com a vida dele e que ele queria ver presente nos sons. Foram 3 viagens, muitos passeios e aventuras por lá e muito som tocando junto com o Regis.
FA – Penso que foi um momento de muitos relacionamentos profissionais novos e de novas oportunidades de trabalhos também, o que talvez tenha me mantido motivado e estimulado a criar e a compor. Estava no embalo e, feliz. O CD Amazônia nos proporcionou, durante as sessões de gravação, muitos momentos mágicos de muita alegria, risadas, histórias contadas e, muita música. Às vezes outras prioridades da vida nos obrigam a adiar projetos mesmo que tão desejados e importantes para nós. E, felizmente, em tempo e contratempo, e aqui estamos Regis e eu com o CD sendo lançado.
WG – O repertório do CD por nove músicas de sua autoria. Elas foram compostas em São Paulo e/ou Amazonas? Conte-nos um pouco sobre o processo de criação de cada uma delas.
FA – As músicas seguem na ordem do disco:
Amazônia
A ideia desta música veio a partir de uma viagem que fizemos de carro para Roraima, indo para a fazenda da família do Regis. Quando ele me disse que íamos pra lá, me pediu pra avisar minha mulher que eu ficaria uma semana sem sinal de celular, incomunicável e completamente fora do ar. Praticamente em outro planeta rsrs. Foi uma viagem cheia de aventuras, paisagens únicas, muitas araras e pântanos. Estradas com pouco de asfalto e trechos de só areia. Cruzávamos um carro ou caminhão e passávamos horas sem ver nada e ninguém. Tínhamos que chegar num determinado ponto da estrada até as 18h00 daquele dia, pois os índios da reserva Waimiri Atroari, fecham a estrada, para evitar o atropelamento dos animais durante a noite, que são a fonte de caça e alimento deles. Se você não passar até as 18h00, só passará às seis horas da manhã do dia seguinte. E, dormir ali, dentro do carro, no meio do nada, não seria uma boa idéia rsrs.
Pitoco
A música é um Baião, com um formato mais tradicional, com a improvisação aberta. E o nome da música ‘Pitoco‘ foi inspirado no cachorro do Regis da raça Pit Bull, muito companheiro e o segurança da casa; pegava muitos escorpiões na varanda e atacava as Mucuras de madrugada rsrs. (Mucura, pra quem não sabe, é uma espécie de Ratão da floresta.)
Neste dia, saímos cedo, num barco grande e lento para o passeio. Fiquei muito impressionado com a grandeza de tudo aquilo. O rio Amazonas, é a junção do rio Solimões com o rio Negro. Tem lugares ali que você não consegue ver a outra margem do rio, parece que se está no meio do oceano. Silêncio absoluto…Quando chegamos ao Encontro das Águas, é de tirar o fôlego – muito lindo! As águas não se misturam: o rio Solimões de água barrenta, mais selvagem e fria, com o rio Negro que parece um chá preto e quente. Na volta, já no fim de tarde, fomos obrigados a ficar vendo um Por do Sol maravilhoso, brindando-nos com a chegada da noite.
Pensei numa introdução com um solo de Cello e pedi pra amiga Silvia de Lucca compor e escrever este solo especial com sabor meio Erudito/Contemporâneo. Tenho muita admiração pelo trabalho da Silvia como compositora. E, acrescente a isso, o Lelo Nazario que arrasou no arranjo e participação. Para fechar, o solo do Regis de guitarra foi a cereja do bolo, já estava na veia dele este clima todo.
Fazenda
Um lugar no meio do nada, uma viagem cansativa e um pouco tensa que nos levou pra outro planeta. Mas, ao chegar, desfrutamos de muita paz. A intradução do poema feita pelo Augusto de Campos e, na voz da Zezé Freitas, com um timbre e afinação de voz muito especial.
Vou Vem Xoo
Esta música foi uma encomenda para uma meditação dinâmica que minha mulher aplica em trabalhos corporativos de imersão, ao amanhecer, em ambiente ao ar livre. E, eu achei que tinha tudo a ver, aproveitei o momento no estúdio e gravamos. Trata-se de um groove em 12 tempos com bastante liberdade de cores e sons.
Tambaqui
Acordei cantando esta música de madrugada e me levantei pra escrevê-la. Se eu não tivesse escrito naquele momento, certamente eu teria me esquecido da melodia no dia seguinte. Dá água na boca só de pensar naquele churrasco de tambaqui que fizemos no barco. Eu nunca tinha participado de churrasco dentro de um barco. Um samba sapeca que termina num solo maravilhoso de bateria do Nenê.
Manga
Uma música com o sabor e swing do Caribe e, com solos lindos do Regis e do Lelo Nazario. Esta música é uma homenagem ao Regis, que é um bicho doido rsrs. Imagine a cena, ele dirigindo, nos levando para algum lugar e, de repente, para o carro, sai correndo para pegar uma manga pendurada numa mangueira ou, que estava caída ao seu redor e que só ele viu. Come ali mesmo aquela fruta quente e melada rsrs…
WG – Como você escolheu os músicos e decidiu pela formação de septeto? E quanto as participações especiais?
Regis Gontijo (guitarra e violão), idealizador deste projeto incrível e sou grato que ele se lembrou de mim e me deu todo o espaço para eu fazer música. Músico de muita sensibilidade e um coração do tamanho da Amazônia.
WG – Quanto tempo vocês levaram para finalizar as gravações, já que foram utilizados três estúdios? E, quanto à Mixagem e à Masterização?
FA – Passada a emoção de termos o CD físico em mãos e após colocar tudo em todas as melhores plataformas digitais, passamos ao trabalho de elaborar os contatos com jornalistas, profissionais que ainda trabalham com informação e divulgação para estimular o público a quererem conhecer este CD.Buscamos, pessoas como você, que tenham um espaço de conteúdo e qualidade para a música. É muito importante para os artistas. O Regis participa ativamente de todas as etapas deste projeto idealizado por ele. Recente, ele deu entrevista para um programa na Radio Diário de Manaus – um programa de jazz bastante conceituado e com boa audiência do Humberto Amorim.
E, junto estarei fazendo arranjos de músicas que representem bem este universo do livro. Também estou trabalhando num projeto em paralelo, que é um audiobook que nasceu de uma ideia de uma história, a princípio infantil, mas que eu, como adulto estou curtindo muito rsss, então acho que será uma história para todos sem restrição.
Vendas do CD
submarino.com,
americanas.com
sambastore.com
Rua Teodoro Sampaio, 763, Loja 04 – Jardim América
Fone: (111) 3083-25-64