A guitarra criativa de Pablo Passini
Pablo Passini é guitarrista, compositor e arranjador argentino, formado na Universidade de La Plata. Até o ano de 2010 participou de diferentes gravações e shows, apresentou-se nos distintos cenários e ciclos de jazz da cidade de Buenos Aires. Chegou no Brasil como bolsista da UFMG, aonde cursou o Mestrado em improvisação, formando no ano 2013. Nesse mesmo ano lançou seu primeiro trabalho autoral “Niños’, que foi premiado em 2014 como o melhor cd instrumental do ano. Esse entrevista é sobre seu segundo trabalho, “Videotape” e também sobre suas andanças e projetos durante esse período.
Wilson Garzon – Em 2015, depois de lançar ‘Niños”, você ganhou uma bolsa de uma ano para a Longy School of Music em Boston. Qual foi o propósito desse estudo e as metas propostas foram atingidas?
Pablo Passini – Exato. Fui beneficiado com uma bolsa muito boa para fazer programa de performance em Boston, numa escola chamada ‘Longy School of Music of Bard College’. Aí tive a possibilidade de estudar com professores como Joe Morris, John Lockwood, Peter Cassino, George Garzone, entre outros. Foi um experiência no campo da livre improvisação, não ortodoxa, um mundo bem amplo e interessante. Há muito o que se explorar aí. Foi uma experiência muito rica e inspiradora.
WG – Depois de Boston você retorna a Buenos Aires. Quais foram os seus objetivos em termos de trabalho?
PP – Em Buenos Aires, a ideia foi tocar o meu trabalho. Fiz o lançamento do disco novo ‘Videotape‘, já gravado no Brasil antes de ir para Boston; além disso, participei de grupos e projetos de colegas de Buenos Aires, onde a cena musical é muito interessante e criativa. Atualmente estou participando de um novo show com um grupo que gosto muito e começei a tocar recentemente: Tatadios. Há projetos de turnê na Europa e America Latina com esse grupo em breve. A música é de um compositor que admiro muito, o bandeonista Martín Sued. Além dos projetos musicais, também estou trabalhando na área docente e em produção.
WG – Em 2017, você lança seu segundo trabalho autoral, “VideoTape”. Em termos conceituais, o que ele diferenciava de “Niños”?
PP – Os conceitos melódico e harmônico não são muito diferentes, mas em relação à sonoridade, sim. Eu me baseei nisso para fechar o conceito desse disco. Melodias simples, valorizando a dissonância, com grooves bem concretos, mas não fechados; possibilidade única que me oferecem os amigos Frederico Heliodoro no baixo elétrico, Fred Selva no vibrafone e Felipe Continentino na bateria. Também há muito mais elementos eletrônicos. Eu mesmo fiz programações de vários dos sons sintetizados no disco. Resumindo: o conceito sonoro mudou 100%, e de fato, foi essa a minha busca conceitual nesse projeto.
WG – Como foi o processo de produção do CD? Quanto tempo levou das gravações até o lançamento?
PP – Eu já tinha fechado o que nós acostumamos chamar de maqueta, ou seja, pré-produção, já que não tínhamos muito tempo de ensaio nem para gravação (foi justamente uma semana antes de eu ir morar em Boston). ‘Videotape’ foi gravado em pouco menos de dois dias, em Belo Horizonte, ao vivo no formato de quarteto (eu, Continentino, Selva e Heliodoro). Depois dessas sessões, Marcus Abjaud gravou três músicas com seu Rhodes e Joana Queiroz colocou seu clarinete em uma música. No meio desse processo todo, mudei duas vezes de pais, por isso a edição ter sido muito demorada, quase dois anos. Eu consegui editar o disco em Buenos Aires no ano passado. Uma coisa importante que não posso deixar de mencionar é da participação do Fernando Delgado como técnico e mixer do disco. Ele foi quem, em grande parte, deixou o áudio exatamente como eu queria.
WG – O repertório é composto por oito músicas autorais. Conte-nos um pouco sobre esse processo de criação.
PP – O processo de criação foi bastante intuitivo, fazendo gravações caseiras, procurando sons e depois escrevendo as partes. Por exemplo, tem alguma música que foi feita improvisando depois, editando a improvisação, como em Peanuts. Tem música que foi feita basicamente na tela, como Videotape, tem música que não resolvia até último momento, como D90. Nesse sentido, não sou ortodoxo nesse processo, assim como em relação à arte em geral, pois o processo criativo é também infinito.
WG – O cd foi gravado na formação de quarteto, ao lado de Selva, Heliodoro e Continentino. Posso dizer que eles são seus irmãos musicais?
PP – Eu adoro eles. Eles inspiraram o trabalho como um todo; entenderam a proposta como ninguém mais poderia. Eu me sinto ‘em casa’ tocando e criando musica com eles. A gente tem uma conexão estética bem legal.
WG – Como foi o lançamento: primeiro em Buenos Aires (BA) e depois em Belo Horizonte (BH)? E quanto à repercussão crítica?
PP – Os lançamentos foram bem diferentes em BA e em BH. Em BA a gente arrumou o grupo inteiro com músicos incríveis locais, mas a proposta era para que não fosse tocado como no disco, já que e gravação tinha muita coisa própria do Heliodoro e do Continentino. Por isso a proposta foi tocar de mais maneira mais livre as musicas. Acho que Buenos Aires é um excelente local pra ‘abrir’ as coisas, com uma tendência jazzeira e acústica muito mais marcada. Daí, eu não quis contradizer esse fluxo mais natural.
Em BH foi como tocar o disco, do jeito que foi gravado, coisa que me entusiasmava muito, após dois anos depois de tê-lo gravado. A critica é bastante relativa. Em relação à repercussão, só o fato de saber que o pianista Guillermo Klein gostou muito do disco, ou de que meus irmãos musicais também o tenham curtido, já é suficiente; o importante são os comentários sinceros de músicos que eu admiro.
WG – Quais serão seus próximos projetos? Estão dentro do intercâmbio Argentina/Brasil?
PP – O projeto é tocar com outros grupos por agora. Estou viajando pra Holanda em abril com o grupo do Martin Sued (Tatadios). Tem a música de Fred Selva que será apresentada em Buenos Aires. Talvez a gravação de um disco novo. Estou participando de dois duos: um com Anita Arquetti, onde tocaremos músicas latinoamericanas e o outro com Ines Maddio, cantora com uma sensibilidade extrema, o repertório será com versões de clássicos argentinos e standards. Brasil sempre será parte do meu itinerário, eu me sinto em casa. Obrigado Wilson.
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