Argentina

A luz própria de Sebastián de Urquiza

Nascido à sombra de um Gigante apresenta a sua própria voz. Filho de Juan Cruz de Urquiza, um dos fundadores do jazz contemporâneo argentino, Sebástian nos apresenta o seu segundo trabalho, “Fulgura”. Nessa entrevista ele conta sobre a formação musical, o contrabaixo, suas experiências iniciais, seus álbuns e seus projetos.

Wilson Garzon – Nascido dentro de uma família musical, ficou difícil fugir à carreira de músico. Como chegou até o contrabaixo? Quem foram seus mestres no instrumento?

Sebástian de Urquiza – Viver em um ambiente musical (meu pai Juan Cruz de Urquiza e minha mãe Valentina, professora de música) fez todo o caminho percorrer por si só, para não pensar muito. Eu sempre amo música e escolhi fazer isso. Desde o começo foi uma maneira de viver e curtir através da música, as outras coisas da vida. O contrabaixo sempre me atraiu, mas só quando cresci, aos 18 anos, é que comecei a tocá-lo. Meu primeiro professor foi Mariano Otero, de quem sempre me lembro com carinho. Também Jerónimo Carmona, Pastor Mora e Daniel Falasca.

WG – No começo, foi um pouco difícil trabalhar nos combos de teu pai, Juan Cruz, ou tudo fluiu naturalmente?

SdeU – A verdade é que nunca foi difícil para mim, embora não seja nada fácil tocar com uma referência de jazz como meu pai, mas tudo aconteceu naturalmente. A música foi o grande ponto de união entre nós; essa vontade de penetrar mais profundamente na busca estética foi o que me fez crescer muito, sem dúvida.

 

 

WG – Quando começou a liderar seus próprios projetos? Que músicos que pertencem à sua geração você destacaria?

SdeU – Em 2015, comecei a liderar meu primeiro grupo, com o qual no ano seguinte eu gravaria meu primeiro álbum. Eu acho que o jazz na Argentina está crescendo muito, e que há mais e mais músicos, mais música, mais desejo de fazer as coisas, e isso é sempre inspirador. Essa foi uma das coisas que me levou a criar meu próprio projeto e contribuir com um grão de areia para a cena local.

WG – Em 2016, você lança seu primeiro trabalho autoral. ‘Fuera de Línea’. Esse cd representa uma síntese do seu trabalho ou há um outro conceito envolvido? Os músicos já faziam parte do seu grupo?

SdeU – O primeiro álbum foi uma síntese de muitas coisas: influências, trabalho, amizades, aprendizagem que tento mesclar musicalmente. Esse grupo foi o primeiro, e eu escolhi os músicos que eu sabia que iriam ler melhor minha maneira de ver a música e foi assim que foi, o resultado para mim foi muito bom e sou muito grato a eles: Guillermo Harriague (bateria) e Francisco Lo Vuolo (piano) na seção rítmica, e Juan Cruz de Urquiza (trompete) e Pablo Moser (sax) os sopros.

WG – Em 2019. você lança seu segundo trabalho autoral, “Fulgura’. Que diferenças há entre um trabalho e outro? O projeto ‘Fulgura’ já existia antes ou foi desenvolvido em cima da hora?

SdeU – Acho que o segundo trabalho é muito diferente do primeiro. O primeiro foi mais uma compilação de muitas experiências, ideias. No segundo, procurei expressar o que aconteceu nos meus últimos anos. É um álbum de coração aberto, sem preconceitos de nada, e onde a música me mostrou mais uma vez por que a escolhi: expressão, diversão, cura, ser mais eu mesmo através da arte, com liberdade. Ousei cantar algumas músicas minhas, tocar piano e convidar Mariano Otero para tocar, um músico que admiro profundamente.

 

 

WG – No grupo escolhido, você trocou o pianista por um guitarrista. O que isso representou de ganho na sua proposta para o cd?

SdeU – A única mudança que ocorreu no grupo foi a do piano para a guitarra. Como eu disse, é um disco com muito sentimento, por isso o violão é importante, para interpretar a música que eu ouvia quando menino, para os meus gostos musicais. E me sinto muito identificado com a maneira de tocar de Pato Carpossi, por isso não hesitei em trocar de instrumento. Embora não tenha sido uma decisão fácil, foi a música que fez a escolha e daí optei pela guitarra.

WG – O repertório é composto por nove composições. São todas de sua autoria? Conte-nos um pouco sobre o processo de criação delas.

SdeU – As composições são todas minhas. O álbum é dividido em duas partes: 1 – as três primeiras músicas são mais intelectuais, pensadas e nas quais a mesma sonoridade se junta a elas. Através dos separadores que introduzem e fecham o álbum (“Los Días más claros” e “Die Klarsten Tage”, que é o mesmo tema interpretado de maneira diferente), abro com o que para mim foi um download emocional, não tão pensado, mas o que senti, eu tive que dizer. Por isso também escrevi letras, porque precisava me expressar de maneira diferente. 2 – “La Tobiana” é dedicado ao meu irmão, “Naufrágio” e “A saída” são duas maneiras de dizer a mesma coisa, e “Fulgura” é o que cobre todo o álbum e faz sentido na minha busca pessoal.

WG – Como está o lançamento e a divulgação de ‘Fulgura’? E quanto à repercussão da mídia?

SdeU – Sabendo que eu iria morar na Suíça por um tempo, gravei o cd antes de ir, mas com meu pessoal, com quem convivi ultimamente e sempre souberam como moldar minha música. Fiz algumas apresentações, talvez no meu retorno continuamos ou não; estamos sempre em movimento, procurando coisas novas.

WG – Que projetos você está nos reservando para os próximos anos?

SdeU – Neste momento, estou procurando novas maneiras de me expressar, fazer música e compartilhar com muitas pessoas que têm a mesma busca, coisas que sempre motivem e inspirem. Certamente fazer mais a minha música, escrevendo mais letras, procurando construir meu próprio mundo, no qual eu expresse o que mais me identifica. Embora não tenha um projeto claro, ele é e sempre será a minha maior pesquisa, então como ela será apresentada … haha,  dirá o tempo.