Adriano Grineberg e Dori Caymmi
Dorival Caymmi em versão blues em álbum de Adriano Grineberg
Artista paulistano lança “Eufótico”, disco com nove releituras do cancioneiro praieiro do compositor baiano
Augusto Pio, Estado de Minas,24/04/2024
Nome respeitado do blues brasileiro, o pianista e tecladista Adriano Grineberg chega a seu quinto álbum com “Eufótico”, que traz nove canções do compositor baiano Dorival Caymmi (1914/2008). O disco conta com a participação especial da cantora Badi Assad em “O vento”. Como trabalho autoral, o músico paulistano já lançou quatro discos.
Antes de o disco sair na íntegra, o cantor e compositor lançou os singles “É doce morrer no mar”, “Promessa de pescador” e “Canoeiro”.
“Gravamos o álbum no final do ano passado, são canções praieiras de Dorival Caymmi, da primeira fase dele. Fiz uma lista há cerca de 10 anos, quando me apaixonei pela obra dele. E fui desenvolvendo dentro de mim o sonho, o impulso e a vontade de transformar isso em disco. Cheguei a essas músicas que traduzem melhor meu sentimento e a minha conexão com elas também”, afirma.
O músico explica que as canções praieiras, embora tenham significado enorme dentro da música brasileira, foram pouco visitadas pelos compositores.
“Também pela própria assinatura que Caymmi colocou nelas. Foi um desafio colocar essas canções em outras vertentes, outros ritmos. Fizemos um trabalho rítmico das levadas, respeitando as melodias, porque não tem muito o que mexer nelas. Mexi pouco nas harmonias também.”
Cultura africana
Grineberg afirma que por ter uma história de 30 anos ligada ao blues no Brasil sempre via uma ponte de ligação com as canções do baiano.
“O próprio Caymmi falava sobre blues nas suas entrevistas. Ele ouvia muito e tinha até uma coleção de discos de blues. Portanto, sabia bem a diferença entre jazz e blues. As melodias de Caymmi me levaram por caminhos de harmonias diferentes.”
Ele conta que Caymmi foi um compositor com o qual se sentiu à vontade para abraçar tudo aquilo que fez em seus outros discos.
“É curioso isso, você pega um compositor de fora que abraça todas essas partes. Então, a minha ligação com a cultura africana, que já fiz no ‘Blues for Africa’, está presente também nesse disco e nas outras linguagens ancestrais da pesquisa que faço com a música de vários países. E foi uma alegria cantar em português, coisa que fiz pela primeira vez.”
Dori Caymmi festeja seus 80 anos, ao lado dos amigos, com novo álbum
Cantor e compositor lança o disco “Prosa e papo” com Mônica Salmaso, Joyce, MPB4, João Cavalcanti, Zé Renato e Renato Braz
Augusto Pio, 23/04/2024
Com o objetivo de celebrar seus 80 anos, completados em agosto de 2023, o cantor, compositor, violonista e produtor Dori Caymmi lança o álbum “Prosa e papo” (Biscoito Fino), com 11 faixas. Mônica Salmaso, João Cavalcanti, Joyce Moreno, Renato Braz, MPB4 e Zé Renato são os convidados dele.
“Mônica me convidou para gravar com ela ainda na época da pandemia. Já as inéditas são mais recentes, compostas há cerca de um ano”, explica Dori. Como havia lançado o disco “Sonetos sentimentais para violão e orquestra” (Tangará) em 2022, para o qual musicou sonetos de Paulo César Pinheiro, o projeto “Prosa e papo” ficou para agora.
Oitenta anos são sinônimo de trabalho para o filho de Dorival Caymmi (1914-2008):
“Continuo exercitando a minha cabeça, estou com 80, mas acredito que posso fazer muita música. A safra nova que compus em parceria com o Paulinho começou de uma ideia de meu pai. Ele tinha tiradas muito engraçadas, uma delas virou a música ‘Chato’.
Ele dizia: ‘Entre por onde saiu e faça de conta que nunca me viu’. Papai falava muito isso. Então, Paulinho fez a letra e eu a melodia. Convidamos o João Cavalcanti para cantar esta canção.”
Carrapicho e carrapato
Há outra lembrança de Caymmi, de quando Dori era criança. “Ele falava: ‘Carrapicho é mato, carrapato é bicho’. Aí o Paulinho fez a letra de ‘Prosa e papo’.”
Já Roberto Didio escreveu sobre Mercedes Sosa (1935-2009).
“É homenagem a ela, cantora com quem trabalhei na Argentina, no mesmo show com minha irmã Nana Caymmi”, comenta Dori. “Eu a adorava, era fantástica, conhecida como a cantora dos Andes, representante máxima daquele repertório. Convidei o Renato Braz para cantar.”
Dori também compôs “Evoé, Nação!” com Didio. “É o Brasil de Verger e Carybé”, diz ele, referindo-se a Pierre Verger (1902-1996), etnólogo e fotógrafo francês radicado na Bahia, e ao pintor Carybé (1911-1997), artista plástico argentino naturalizado brasileiro.
Saudades de Brant
“Estou musicando letras, pois a minha imaginação musical funciona muito bem quando gosto do que foi escrito por meus parceiros, que são poucos. Na verdade, meu parceiro é o poeta Paulo César Pinheiro, meu compadre, uma maravilha de pessoa. Já comemos muito leitão à pururuca em BH, batendo papo com Fernando Brant, bons tempos aqueles. Brant era um amigo muito querido, pena que foi embora tão cedo”, lamenta Dori. O letrista mineiro, pioneiro do Clube da Esquina, morreu em 2015, aos 68 anos.
Por falar em Minas, outra faixa, “Água do Rio Doce”, remete à tragédia ambiental em Mariana, ocorrida em 2015 após o rompimento da barragem do Fundão. “Ficamos muito chateados com aquele desastre”, diz Dori.
O cantor e compositor conta que decidiu retomar músicas já registradas no álbum de Mônica Salmaso porque não havia gravado sua própria versão delas. “Enfim, é um disco que, para os meus 80 anos, mostra que ainda estou funcionando bem”, comenta.