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As inventivas Impressões de Bruno Santos

 

Há músicos que são como vinho. Só quando já possuem uma larga experiência e uma estrada bem pavimentada é que entram no estúdio para gravar o seu primeiro disco solo. Esse é o caso do trompetista Bruno Santos. Depois de desenvolver seu talento como compositor e arranjador e como instrumentista por várias bandas e grupos musicais, Bruno nos apresenta a sua joia rara: “Impressões Brasileiras”, que acaba de ser lançado nesse agosto de 2018. Conheçam um pouco desse talentoso artesão.

Bruno Santos, só e no Brasilidade Geral.

Wilson Garzon – Quando você fez a escolha pelo trompete? A escolha pelo jazz foi ao mesmo tempo ou depois?  Que músicos destacaria como maiores influências?
Bruno Santos – Aos 9 anos, comecei a tocar na banda de música da igreja, mas antes disso, iniciei-me no violão aos 6 anos incentivado pelos pais Jeiel Lima dos Santos e Marilza Leão dos Santos. Fui para a escola de música aos 14 anos (música erudita); depois comecei a frequentar a banda da escola técnica: lá o maestro Célio estava fazendo uma transição com o repertório de banda marcial para a música popular. Assim tive o primeiro contato com o som das grandes big bands: Glenn Miller, Benny Goodman, Count Basie, Frank Sinatra… e os grandes solistas de meu instrumento:  Miles Davis, Chet Baker, Freddie Hubbard. Foi nesse momento que comecei a me encaminhar para a área da música popular;
Influências: Antônio Marcos (professor), Arthur Maia, Marcelo Martins, Jessé Sadoc, Marcio Montarroyos e  Serginho Trombone. Graças a Deus tive a oportunidade de trabalhar com todos.

WG – Depois de trabalhar e gravar com grandes cantores e instrumentistas, você funda com o trombonista Rafael Rocha o grupo ‘Brasilidade Geral‘. Foi nesse projeto que você se consolida compositor e arranjador?
BS – Não me considero um fundador e sim um incentivador, porque o grupo só precisava de um empurrãozinho para aparecer. Como arranjador eu já vinha fazendo alguns trabalhos importantes, mas sim como compositor, minha primeira aparição.

WG – Em 2018, lança seu primeiro cd autoral, ‘Impressões Brasileiras’. Como foi o processo de gravação (estúdio, tempo, edição, mixagem)?
BS – Processo longo, um disco com várias formações, e não muito bem planejado acaba levando muito tempo. Comecei o trabalho em 2016 quando juntei uns amigos de São Paulo para gravarmos a faixa que dá título ao disco. Nos conhecemos no show da Bibi Ferreira em Vitória; eles aceitaram o convite e foi muito bom.

Depois marquei uma seção no Rio de Janeiro com os amigos que conquistei trabalhando nessa cidade maravilhosa, gravamos três musicas ao vivo na companhia dos técnicos: Mr. Blanc, Tardes de Domingo e Honrar a Vida, que é uma composição de Bernardo Ramos. As cordas foram gravadas depois em Vitória. As cordas têm uma grande importância na minha carreira. Além de ter me casado com uma super violinista Adriana Vinand, sempre me procuram para escrever arranjos com essa formação. Por fim, fiz algumas seções em Vitória no RBStudio no qual sou sócio com meu amigo Roger Rocha para finalizar o disco.

WG – ‘Impressões Brasileiras’ é composto por sete obras autorais, mais uma de Tom Harrell e outra do MIlton Nascimento. Existia um conceito inicial sobre esse trabalho ou você resolveu fazer uma síntese da sua obra?
BS – Costumo dizer que é um disco de arranjador, nós gostamos de escrever para várias formações, por isso a variedade.
.Em relação aos músicos, você já tinha trabalhado com todos? Houve novidades?
A novidade foram os amigos de Sampa, só tinha trabalho uma única vez, os outros são de longa data.

WG – Gostaria que você detalhasse um pouco sobre o processo de criação (quando foi composta, se foi dedicada a alguém e escolha da formação):
BSTenteto:
‘Mr. Blanc’ é uma das composições mais novas do disco, compus às vésperas das sessões marcadas no Rio
‘Tardes de Domingo’ é a composição mais velha autoral, da época que morei no Rio e participava do grupo Bamboo, por volta de 2005.
Noneto:
‘Velejar’ essa é uma composição do grande trompetista Tom Harrell (‘Sail Away’) e foi numa virada de ano que ouvi a versão dele com a participação da Esperanza Spalding cantando essa letra em português e decidi que queria gravá-la um dia, pensei nessa formação para dar uma sonoridade diferente e brasileira.
Sexteto:
Honrar a Vida’ é uma composição linda do Bernardo Ramos, grande compositor e guitarrista carioca. Lembro de ouvi-la ainda sem mix/master numa demo do segundo disco do grupo Bamboo e eu simplesmente pirei. É uma composição lindíssima e aqui no disco contou com o arranjo do Josué.
Quinteto:
‘Impressões Brasileiras’, compus para o concurso de composição da jazz sinfônica de sp no qual fiquei em 3o lugar. Originalmente ela tem 5 partes interligadas, nessa versão do Quinteto escolhi apenas duas partes, Gélidas Impressões que é a parte inicial e Litoral, o samba que vem em seguida.
Quarteto:
‘Soninho da Bru’, essa é uma bossinha em homenagem a minha filha. Tentei compor e tocar da melhor forma, linda como ela é, Brunella.
Trio:
Adams A4’, essas duas em seguida funcionam como uma espécie de vinhetas, de caráter distintos: uma rápida e outra lenta.  ADAMS 4 é em homenagem a marca e modelo do trompete que uso e represento há dois anos. Não é bem um trio porque tem outras vozes gravadas em overdub por mim mesmo, seriam seis trompetes, baixo e bateria.
Solo:
‘To Bê’ é para o meu filho Bernardo, também conta com overdubs de Trompetes, flugelhorns e um synth grave com ajuda digital, quando mostrei a gravação para o homenageado, ele se emocionou tanto, fiquei muito feliz.
Porque a escolha de ‘Encontros e Despedidas’?
É uma música linda, escolhi para fazer um concurso de arranjador de big band voltado às composições do Milton, mas não deu tempo de participar, com isso finalizei o arranjo e gravei.


WG –
Como você está preparando o lançamento a divulgação de ‘Impressões Brasileiras’?
BS – Pretendo lançar inicialmente aqui na cidade que moro e depois nas cidades onde também gravei, com os amigos que participaram desse projeto, Rio e São Paulo.

WG – Nesse mesmo ano você acaba de lançar com o saxofonista Josué Lopez o ‘JB Quinteto‘. Qual foi a formação? Das nove músicas que compõem o repertório, quais foram de sua autoria? E em relação aos arranjos?
BS – Contamos com André Vasconcellos no baixo, Eduardo Farias no Piano e Dedê Silva na bateria;
Minhas composições são: Transição, Vida que vai e Vem e A Ilha. Ainda temos Cinco que é do grande Daniel Santiago, De Ton pra Tom do Toninho Horta e as outras são composições do Josué.
Os arranjos foram meus e do Josué.

WG – Como você analisa a atual cena do jazz capixaba?
BS – Bom, penso que a cena da música instrumental é bem complicada no Brasil. Aqui não é diferente, quem quer fazer algo é preciso se “movimentar“, senão fica “parado“.

WG – Que projetos ou desafios você está preparando para os próximos anos?
BS – Pretendo gravar um segundo disco, com uma única formação. Quero continuar investindo em novas composições para formações grandes, orquestras, big bands, tentando entrar no campo da música erudita também.