Back to ‘Beatles Brasil’ com Felipe Avila
Em 2005, o guitarrista e violonista Felipe Avila deixou de lado suas aventuras no território da música experimental e jazzística e lançou ‘Beatles Brasil’. Nele, amalgamou belas canções do Fab Four com rítmos brasileiros, como o samba, bossa, caipira, forró…Treze anos depois, Felipe revisita essa temática com o mesmo ímpeto de realizar um trabalho criativo e suingante. Nessa entrevista, ele nos como foi produzido e um pouco do conteúdo desse instigante CD.
Wilson Garzon – Em 2005, você lança “Beatles Brasil” pelo selo Editio Princeps. O seu conceito para esse trabalho foi reunir duas vertentes importantes na sua formação: o rock e a música instrumental brasileira?
Felipe Avila – São duas vertentes muito importantes pra mim sim. Mas, eu não penso a música dos Beatles, apenas como um grupo de rock embora eu saiba que o rock está contido no som deles. Para mim, o trabalho que eles desenvolveram é bastante eclético com muita diversidade rítmica e em graus distintos de complexidade, de estruturas harmônicas e bons arranjos do George Martin.
E, eu tenho muita admiração e influencia da música instrumental brasileira no meu trabalho o que me dá espaço pra me divertir e ter prazer em tocar desta forma. Naquele momento, em 2005, quis trabalhar a música dos Beatles com a intenção e a pegada rítmica brasileira, estava num momento de trabalho bastante intenso aqui em SP, tocando muito instrumental como pesquisa e estudo. E o resultado foi a música dos Beatles com uma “roupa” de música instrumental brasileira.
WG – Treze anos depois, você lança o segundo volume desse projeto. Ele continua dentro do mesmo propósito inicial ou você fez algumas mudanças conceituais durante o percurso?
FA – Penso que desta vez, fiquei mais a vontade e me permiti trabalhar com outros elementos da world music. Não tive a intenção em gravar este CD só com ritmos da nossa música. O fato de eu ser músico de longa estrada da nossa música e de gostar de tocar a música da nossa terra já dá, naturalmente, um “sabor” bem brasileiro ao som que eu faço dos Beatles.
WG – Em se falando de Beatles, a escolha do repertório é sempre um grande ‘problema’. Quanto tempo levou para chegar a essas dez músicas?
FA – Ah, este é realmente um “problema” difícil, mas bom de resolver. Tive mesmo que escolher 10 músicas depois de muitas idas e vindas e de várias versões da lista e de muitas audições. Foi necessário deixar outras tantas músicas lindas de lado e que eu gostaria de gravar – e já estão em uma lista reserva, rs… Talvez, eu tenha demorado uns 6 meses para escolher estas músicas. Meu processo é integrado, enquanto eu vou trabalhando numa música, na sua concepção de arranjo, eu já vou ouvindo e tocando outras para ganhar corpo e amadurecer as idéias.
WG – Como foi o processo de gravação? Tempo de estúdio, arranjos, mixagem e masterização?
FA – Primeiro, desenvolvi o conceito dos arranjos, pensando nos instrumentos que iria usar durante as gravações como: violão com cordas de nylon, cordas de aço, guitarra acústica ou maciça com pedais de efeitos. Acabou prevalecendo o som acústico dos violões e da guitarra acústica.
Depois, gravei as bases no meu estúdio, com apoio de algumas baterias e percussões eletrônicas, para proporcionar um clima mais gostoso com swing. Com as bases definidas, gravei as melodias e os solos de improviso. Neste ponto, já dava pra curtir o som e ter uma noção melhor de como ficaria o produto final e em quais músicas seria legal colocar o Baixo.
Ao mesmo tempo, decidi gravar com percussão e sem bateria o que me daria um som mais leve, com muita dinâmica e sutilezas. Diferente de outros CD’s meus. A partir daí, encaminhei os áudios pro Robertinho Carvalho gravar Baixo, na sequência o Caito Marcondes gravou a percussão.
A princípio, este seria o formato final do CD com violões, guitarra acústica, baixo e percussão. Então, convidei o Lelo Nazario para cuidar da mixagem e da masterização. Alguns dias depois, o Lelo me liga e pede algumas partituras. Eu pensei que ele precisasse das partes pra “editar” alguns sons. E, pra minha surpresa, ele me disse “Pô, Felipão, não resisti. Tinha que tocar em algumas músicas! rs…” A participação do Lelo com os teclados foi um presente especial pra mim.
WG – Relacione as músicas dos Beatles com os estilos musicais brasileiros presentes nesse disco.
FA –
Faixa 1: Help – samba moderado com swing.
Faixa 2: She Came in Through the Bathroom Window – Baião com violões com cordas de aço fazendo o tema, com sabor de música caipira, em 2 vozes. E, com uma proposta rítmica diferente do Caito que tocou percussão em 6/8 na apresentação do tema que esta em 4/4.
Faixa 3: Hey Jude – Swing Pop.
Faixa 4: The Long and Winding Road – A música original é em 4/4, uma balada. Fiz o arranjo para violão solo em 3/4, uma balada/Valsa.
Faixa 5: Mother Nature’s Son – dentro do lado mais acústico e leve do CD, esta é uma balada/canção com um violão solo, de sabor nordestino, no final da música..
Faixa 6: Michelle – Bossa Jazz.
Faixa 7: Your Mother Should Know – Uma introdução mezzo latina e samba mezzo sapeca.
Faixa 8: Eleanor Rigby – ganhou sabor um pouco oriental em função das tablas que o Caito usou, mas tem uma pegada de um Blues espanhol rs.
Faixa 9: Honey Pie – procurei conservar o clima original e acrescentei um sabor do som do Django Reinhardt. Jazz Manochee, ou o Jazz Cigano, como é mais conhecido.
Faixa 10: Sun King – é quase uma versão new age de poucas notas, bem relax.
WG – Em relação ao primeiro trabalho, você só manteve o Lelo Nazario. Conte-nos sobre as presenças de Caito Marcondes e Robertinho Carvalho.
FA – Lelo Nazario é um amigo muito querido, um músico e profissional maravilhoso que espero poder sempre ter ao meu lado.
Robertinho Carvalho, também é grande músico, virtuose do baixo e arranjador, já fez diversos trabalhos comigo gravando em CD’s e realizando shows. Particularmente, gosto muito da sonoridade e criatividade dele.
Caito Marcondes, embora eu não o conhecesse pessoalmente, já curtia o som que ele faz e construi uma admiração pela música dele. Quando o som deste CD tomou forma e identidade foi espontâneo vê-lo neste projeto comigo na percussão. O trabalho ganhou, com ele, a dinâmica, a diversidade de timbres e a leveza que resultou no CD. E, ele fez isso com equilíbrio e bom senso.
WG – Como está preparando a divulgação do “Beatles Brasil Vol II?
FA – Fazer o CD foi pura inspiração, já a divulgação é muita transpiração. Como tantos músicos, eu bato o escanteio e vou correndo na área cabecear. Envio o release e o CD através de emails, telefono pessoalmente para diversos jornalistas e outros veículos da mídia em geral, na busca do interesse pelo CD, pelo som, pelo trabalho, pelos músicos, pelas músicas, ou pelos Beatles e, assim ganhar um espaço, marcar entrevistas, tocar em algum programa, programar uma apresentação, um show.
Ai, depois de muitas horas de contatos e muito trabalho árduo, é ESPERAR, ESPERAR, ESPERAR. Esperar por um contato e pela atenção. Esperar por um simples retorno. Esperar na esperança de tocar a sensibilidade e ganhar um pequeno espaço e um mínimo tempo daqueles que são responsáveis pelas agendas, pelas programações. E, esperar na esperança de que vão ouvir o material e de que surjam as oportunidades para tocar ao vivo. Para nós músicos, compartilhar o trabalho ao vivo é muito gratificante.
WG – Em termos autorais, você tem engatilhado um novo projeto? Já pensou em revisitar a música caipira?
FA – Projetos são um processo cíclico para mim. Acabo um e já estou pronto pra um outro. Em 2010 eu gravei um CD autoral chamado Amazônia, com a participação de grandes músicos, mas não coloquei no mercado, não foi lançado. Considero estas composições especiais e vou regravar todo este trabalho. Todo o material já esta escrito e vai facilitar muito a produção. Estou iniciando o desenho para viabilizar a produção.
E, gosto muito da sua sugestão de revisitar a música caipira. Aliás, acho que este CD Beatles Brasil Vol II, tem um pouco deste tempero também.
O Rolando Boldrin, que escreveu um texto de apresentação no encarte do CD, tem composições lindas e, mora bem pertinho daqui. Quem sabe rola uma parceria, não é mesmo? Acho que vou lá falar com o meu “cúmpadi” contador de causo.
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