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Luisa Mitre nos oferece seu engenho e arte

Luisa se tornou um dos raros talentos do piano mineiro a ser revelado durante essa década. Primeiro destacou a sua capacidade de instrumentista no quarteto Toca de Tatu, ao lado de Lucas Telles (violão), Lucas Ladeia (cavaquinho) e Abel Borges (percussão). Depois com o Trio Mitre, ao lado de sua irmã Natália e do seu tio Kiko, apresentando trabalhos solo e com o Trio vocal Amaranto. A partir do ano passado, Luisa começou a desenvolver o seu projeto autoral “Oferenda”, no formato de quinteto, que acaba de ser lançado pelo selo do Savassi Festival durante a edição de 2018. Nessa entrevista, ela nos conta sobre esse processo todo e seus futuros projetos.

 

 

Luisa Mitre, só, com Lucas Telles, Toca de Tatu e Quinteto. Foto: Leandro Couri (1 e 5), Sté Frateschi (3) e Fabiano Campbell (2).

Wilson Garzon – Nascida dentro de uma família com músicos, a escolha pelo piano foi amor à primeira vista?
Luisa Mitre – A música sempre foi presente na minha família, e na casa da minha avó materna tinha um piano de armário. Talvez por causa dele eu, aos 3 anos de idade, pedi ao “Papai Noel” um pianinho de brinquedo. Nele brinquei e toquei por muitos anos. Aos 7 anos, pedi aos meus pais para me colocarem em uma aula de piano, pois queria aprender a tocar “com as duas mãos’, e daí em diante não parei mais. Não lembro da minha vida sem o piano.

WG – Durante a sua formação, quando se deu a escolha pela música popular?
LM – Sempre ouvi e gostei de música popular desde pequena, apesar do meu estudo, desde pequena até a época da faculdade, ter sido mais direcionado para a música erudita. Paralelamente sempre tocava com amigos e fazia algumas aulas esporádicas sobre música popular. Mas só quando troquei meu curso de graduação em piano erudito para a graduação em música popular (na UFMG) que me dediquei mais a esse universo.

WG – Quando foi formado o “Toca de Tatu”? O encontro com Telles, Abel e Ladeia  se deu nos bancos de escola ou nas rodas de choro?
LM – Formamos o grupo em 2009, a partir de uma amizade que surgiu na Escola de Música da UFMG. Frequentamos também algumas rodas de choro juntos, mas o primeiro encontro se deu na faculdade.

WG – Em 2013, o quarteto lança “Meu Amigo Radamés”, contendo um repertório ousado, inclusive com a ‘Suite Retratos’. Essa ousadia junto com o desafio fazem parte do ‘Toca de Tatu’?
LM – Montamos o grupo sem uma intenção estética muito clara, que foi se formando aos poucos e acabou se tornando uma abordagem um pouco diferente da mais tradicional para o choro. Misturamos influências que todos os integrantes carregam, compartilhamos o gosto por arranjos diferentes e mais elaborados e por uma nuance mais camerística pra música brasileira. Foi uma construção natural, a partir do gosto musical dos integrantes.

A escolha das músicas do Radamés Gnattali para o primeiro disco, por exemplo, segue bem esse pensamento. Mas sempre buscamos repertórios novos, compositores menos tocados, e tentamos adaptar músicas de outras formações para o nosso quarteto. Pensamos que a música brasileira é muito rica e diversificada e temos a oportunidade de desvelar muita coisa boa, não tão conhecida, a partir do nosso trabalho.

WG – Em 2017, é a vez de “Afinidade”, que propõe o encontro do quarteto com várias gerações da música instrumental mineira. A proposta futura será sair da ‘toca’ e buscar encontros com outros estilos e rítmos musicais?
LM – Talvez… Ainda não temos uma ideia definida para o próximo disco. Pensamos em talvez investir mais nas nossas músicas autorais num próximo projeto.

WG – Quando recebeu a proposta de Bruno Golgher para preparar um material próprio para ser lançado no selo do Savassi Festival, como andava você em termos de produção autoral? Um artista precisa de um desafio como esses para crescer?
LM – Estava praticamente parada, sem compor há um tempo. Foi um super incentivo e também um grande desafio, e realmente sinto que cresci muito como artista e fiquei mais motivada e confiante no meu próprio trabalho. Sou muito grata por esse convite e posso dizer que mudou muito a minha vida musical desde então.

WG – Trabalhar dentro do formato de quinteto sendo a maioria mulheres, já existia ou era um desejo?
Nunca foi um desejo e nem foi intencional. Convidei as meninas simplesmente por serem excelentes instrumentistas e musicistas com um estilo de tocar que, ao meu ver, combinava com o som que eu queria fazer. Por coincidência, ficamos quatro mulheres e um homem no grupo, o que sempre causa estranhamento.

Confesso que tenho um certo receio com “bandas femininas”, pois já vi casos em que foi algo muito bacana e outros em que, ao invés de valorizar, desvalorizou a atuação das mulheres como musicistas. É uma questão muito complexa, daria assunto pra uma entrevista à parte…

WG – As músicas de “Oferenda” foram todas criadas para esse projeto ou algumas foram ‘trans-criadas’?
LM – Foram todas criadas especialmente pra esse projeto, na mesma época.

WG – Como foi todo o processo de produção (tempo de criação, gravação e mixagem)?
LM – Tive pouco menos de três meses para compor, arranjar e ensaiar as músicas com o quinteto antes da primeira apresentação, em 2017. Depois, até a gravação, tivemos um período de quatro meses onde pude lapidar algumas coisas e deixar tudo mais bem acabado para o registro. O disco foi gravado ao vivo em três dias, em dezembro de 2018. Depois, para a mixagem e masterização, mais um mês. O disco estava finalizado no inicio de 2018, mas esperamos o Savassi Festival para o lançamento, aproximadamente um ano depois da primeira apresentação das obras.

WG – Como está sendo a repercussão do lançamento de ‘Oferenda’? Onde pretende levar esse trabalho?
LM – Até agora, muito bom! Ouvi coisas sobre o disco que me deixaram realmente muito feliz e satisfeita. Pretendo levar o trabalho agora para outras cidades e festivais. O difícil é por ser uma produção complexa, logística complicada por conta dos instrumentos. Mas vamos tentando…

WG – Tem sonhos (projetos) engavetados para os próximos anos?
LM – Sim! Muitos! Que por falta de tempo nunca consegui concretizar. Tenho várias coisas que gostaria de estudar mais e me aprofundar, como arranjo e orquestração… E projetos musicais que ainda não saíram do papel. Um deles é um disco em duo com meu companheiro e super violonista Lucas Telles, pra registrar a parceria musical que já temos há alguns anos. Em breve vai sair… Além de muitos outros! Muito obrigada, grande abraço!

https://www.luisamitre.com/