Argentina

Cobián segundo Juan Pablo Navarro

Um dos maiores inovadores do tango contemporâneo,  Juan Pablo Navarro recebeu a incumbência e o ‘presente’ de fazer a releitura de um dos maiores compositores do tando durante a primeira metade do século XX. O disco acaba de ser lançado e recebeu o título oportuno e merecido de ‘Los Dopados‘.

Juan Carlos Cobián (1896-1953), além de um excelente compositor, maestro, pianista e letrista de tango argentino, foi um inovador como intérprete e compositor. Entra suas composições, se destacam Los Dopados (mais tarde renomeado Los Mareados, com letras de Enrique Cadícamo), La casita de mis viejos, Nieblas del Riachuelo, Nostalgias, Rubi, El Motivo e Almita Herita.

Wilson Garzon – Depois de gravar o vigoroso e atual ‘Tangos de la Posverdad‘, você recebe o convite de Iaies (Usina del Arte) para recriar a obra de Cobián. Foi uma surpresa?

Juan Pablo Navarro – A verdade é que foi uma surpresa e uma honra, especialmente considerando que o primeiro a realizar essa série de shows foi Diego Schissi Quinteto, com um trabalho formidável sobre a obra de Mariano Mores, intitulada Tanguera, editado por el Club del Disco* al igual que Los Dopados.

WG –
Como foi o processo de mergulhar na obra de Cobián e fazer a seleção do repertório? Quanto tempo levou para chegar a essas nove músicas?

JPN – Juan Carlos Cobián é um compositor muito importante na História do Tango; para mim, um músico à altura de Cole Porter ou George Gershwin. Seu trabalho é vasto e influenciou a década de ouro do Tango, especialmente o Sexteto  Julio De Caro, os pioneiros do Tango Moderno. A maioria de seus tangos são todos hits. Ele é um compositor que venho estudando há muito tempo.

 

 

WG – O processo de ‘reler‘ a obra de Cobián para o septeto foi demorado? Ou já sabia que conceito iria utilizar quando recebeu o convite?

JPN – A verdade é que queríamos fazer uma leitura do trabalho dele, mas não encontramos tempo ou local apropriado para fazê-lo. Demorou alguns meses para selecionar o material a ser desenvolvido e encarar os arranjos para obter as texturas e instrumentação adequadas para a personalidade de cada música. Em seguida, houve 2 meses de reuniões semanais para ensaios e em maio do ano passado conseguimos gravar na Usina del Arte.

WG – Conte-nos um pouco sobre a ‘leitura‘ que fez de cada uma dessas canções.

JPN – Em geral, tentei combinar arranjos específicos para septetos, como My bunker-Mi Refugio, Shusheta, El motivo, Nostalgias e duos para criar uma variedade timbrística como My Little House para violino e guitarra elétrica, Ruby para Bandoneon e contrabaixo e Almita Wounded para voz e baixo elétrico de 6 cordas. No caso das músicas em que Fito Paez participa, o septeto funciona como uma orquestra baseada no solista.

 

 

WG – E quanto às escolhas de Noelia Moncada e Fito Paez, foram feitas desde o começo?

JPN – O desafio foi convocar cantores de diferentes gêneros, como Fito Páez, associado ao pop-rock e Noelia Moncada, que é do Tango, e que deram suas versões a essas músicas.

WG – Quanto aos ensaios, onde foram realizados?  E a gravação ao vivo, como foi a experiência?

JPN – Os ensaios foram realizados em nossa sala de ensaios e foram realizados semanalmente por 2 meses. É a nossa primeira gravação ao vivo e estamos muito felizes com o resultado. Os técnicos de som da Usina fizeram um ótimo trabalho. Depois mixei com o técnico que me acompanhou do meu primeiro trabalho, Contratangos, que foi dirigido por  Javier Mazzarol no estúdio CA. A masterização foi realizada por outro herói da música argentina: Jorge Português da Silva, no Estudio Bombay.

 

 

WG – Como está sendo planejada a divulgação de “Los Dopados’? E quanto à repercussão crítica?

JPN – Estamos planejando a apresentação para o final de fevereiro ou início de março, possivelmente em La Usina del Arte e em outros teatros de várias províncias da Argentina. Quanto aos críticos, os álbuns serão distribuídos para a maior parte da imprensa em Janeiro de 2020. Mas aqueles que já têm o CD em mãos fizeram ótimos comentários sobre a música.

WG – Quanto à sua obra autoral, pretende apresentar um novo trabalho? Tem levado o teu trabalho para o exterior? E quanto ao Brasil, algum convite para tocar?

JPN – Em maio passado, fizemos nossa primeira turnê europeia, com grandes críticas e ótima recepção do público. Também fizemos recentemente a estreia mundial do Concierto Avalancha, um trabalho para Septeto tanguero e Orquestra. Apresentamos com a Orquestra de Música Argentina Juan de Dios Filiberto, sob a direção do maestro Javier Mas.

A ideia para o próximo ano é apresentar Los Dopados e o Concierto Avalancha para a Argentina e países vizinhos. Ainda não há uma apresentação confirmada no Brasil, mas gostaríamos de poder mostrar nossa música por aí…

* https://www.clubdeldisco.com/