Argentina

Diana Arias: como um peixe na água

Fernando Ríos, 26/04/2024, www.argentjazz.com.ar

A gravadora Ears&eyes acaba de lançar o primeiro álbum de Diana Arias como líder, a contrabaixista colombiana que mora em Buenos Aires há 14 anos. Liderando seu próprio trio, completado por Ernesto Jodos (piano) e Sergio Verdinelli (bateria), Arias apresenta em Viaje del Peche um atraente repertório de músicas próprias, como um suporte óbvio para seu progresso artístico.

Tudo começou em 2010. Diana Arias chegou a Buenos Aires vinda de sua cidade natal, Cali, para estudar o primeiro ano da técnica de jazz no Conservatório Manuel de Falla. Com vasta experiência em salsa e ritmos latino, Diana chegou à cidade do tango procurando aprofundar sua abordagem jazzística na próspera cena local. O plano inicial era ficar apenas os três anos que a carreira exigia e depois voltar para a Colômbia. Mas o destino geralmente joga suas próprias cartas.

Agora no último ano, eles iniciam seus primeiros projetos com os colegas. Novas portas se abrirão em breve. As apresentações com o grupo de Andrés Boiarsky, o trio de Nicolás Boccanera, as formações de Ernesto Jodos, a obtenção de bolsa do Fundo Nacional para as Artes, as Jazz Ladies de Yamile Burich, o Festival Internacional de Buenos Aires, os shows e as turnês. A vertigem do pequeno mundo do jazz. E os anos que se sucedem e condenam o planejado retorno à gaveta das pendências.

Hoje o lançamento do primeiro álbum do trio próprio abre um novo horizonte na vida profissional de Diana Arias. E ela vive isso com o mesmo entusiasmo com que imaginou uma vida de pura música. Quando aquelas melodias tradicionais invadiram sua casa e sua infância.

diana arias 3


Você tocou jazz na Colômbia antes de vir para a Argentina?
Tinha começado. Mas não havia escola de jazz como aqui. Meus professores eram mais cantores de salsa do que músicos de jazz. Sim, fizemos músicas do American Real Book. Também houve um congestionamento na minha cidade. Mas sempre senti que não era um contato real com essa música. É por isso que vim aqui para Buenos Aires. Estudar em Falla. Essa foi a minha ideia. A graduação durou três anos e esse era o tempo que originalmente planejava passar na Argentina.

Mas já se passaram 14 anos, o que aconteceu então?
Bem, comecei a ter projetos com colegas estudantes. Aí, quando terminei a graduação, me chamaram de alguns grupos. Comecei a interagir, a ter trabalho, a ganhar experiência. Tudo isso me motivou. Então pensei em ficar mais alguns anos, pelo menos até terminar de gravar um álbum que estávamos fazendo com alguns amigos. E foi assim que fiquei. Pouco a pouco. E aí, quando estava pensando em voltar novamente, conheci a pessoa que hoje é minha companheira e que me decidiu ficar aqui.

E quando surgiu a ideia de ter seu próprio grupo e gravar suas composições?
Eu tinha meu próprio grupo antes desse trio com Ernesto e Sergio. Fiz algumas apresentações, mas não continuei. O respeito que eu tinha pelas pessoas que lideravam os seus próprios grupos era tal que me impediu de aprofundar no meu projeto. A mesma coisa aconteceu comigo com minhas próprias composições. Embora não me considere um compositor propriamente dito, gosto de compor e já tenho músicas próprias há muito tempo. Tocamos algumas delas com o Devenir del Rio, grupo que tinha com Camila Nebbia e outros amigos. Mas não lhes mostrei mais do que isso. Depois, ao longo desses anos que toquei com o Ernesto, tocamos várias vezes músicas minhas e isso finalmente me incentivou a gravá-las.

Ou seja, vocês tinham músicas anteriores a esse trio e depois compuseram outras pensando nessa formação…
Sim. Alguns tópicos são anteriores e outros foram elaborados para este trabalho. Tem algumas composições que gravamos em dueto com o Ernesto e também com o trio que montamos com o Johannes Bockholt para uma turnê pela Colômbia. Mas a grande maioria das músicas foram compostas para essa turnê.

Há aqui uma composição: Desbaratá, que segundo as informações é baseada em um tema tradicional do Pacífico colombiano. Essa música tem alguma relação com o jazz, dialoga de alguma forma?
Deriva da África, como o jazz, como toda música de origem negra; mas não tem relação com o que conhecemos como jazz. Os instrumentos com os quais isso é feito também são diferentes. Toca-se com chonta marimba, com tambores, com cantadoras, com guasá. É uma música que ouço desde pequena. E aquela melodia original do Disrupted Guitar sempre me acompanhou. Por isso quis fazer algo com ele, embora o arranjo não tenha relação com o tema original. A música do Pacífico colombiano é muito bonita, você deveria ouvi-la. Você vai ficar animado.

E por que você escolheu o formato trio para sua primeira experiência como líder de grupo?
Sempre gostei do som de um trio. É cálido. Íntimo. Além disso, como contrabaixista, é muito desafiador. Mas nem sempre pensei nesse formato. Em algumas composições imaginei um trompete ou um sax, mas finalmente resolvi unificar tudo no formato trio.

Falando em desafios, você procurou Jodos e Verdinelli para esse grupo, dois músicos muito experientes, inclusive com carreira internacional.
Sim, totalmente. Para mim é uma sorte estar com o Ernesto e o Sergio, que são grandes músicos e grandes pessoas. Eles gravaram muito. Eles se apresentaram em muitos lugares. Eles têm uma experiência enorme e eu sabia que tudo isso iria beneficiar a minha música. Muitas vezes durante os ensaios me fizeram perguntas que me obrigaram a repensar a música. Isso não acontece quando você faz música, quando você compõe. Você faz isso e é assim que é. Mas eles me perguntaram o que eu sentia sobre aquela música. Que ritmo eu imaginei? Onde senti o sotaque. Uma infinidade de coisas que me fizeram pensar como nunca havia feito antes. E tudo isso foi muito exigente para mim, mas enriquecedor.

Durante esse tempo você tocou com músicos de diversas propostas. Do grupo de Andrés Boiarsky, mais enraizado na tradição jazzística, à improvisação livre de Camila Nebbia e Pia Hernández ou às formações duo ou trio com Adrián Iaies. Em qual deles você se sente mais confortável?
Se falarmos de conforto como sinônimo de gosto pessoal, diria que gosto de música em geral e que aproveitei cada uma das oportunidades que me foram dadas. Agora se você se refere ao conforto como situações menos exigentes, bom: é sempre mais desafiador fazer parte de um pequeno grupo, trio ou dupla, onde você está mais exposto. Mas como te digo, gosto de jogar e aproveito todas as oportunidades que me são dadas.

Voltando ao álbum, é curioso o nome, que por sua vez é retirado de uma das composições: Viaje del Pez. Tem algum significado especial?
Geralmente compõe-se primeiro a música e depois procura-se um nome. Às vezes, pelo menos, acontece o contrário. Você ouve uma frase, alguma palavra e pensa que tem que fazer uma música que reflita aquele texto. Neste caso a música apareceu primeiro e depois o nome. Quando tocamos com o Ernesto para fazer o upload para o streaming, ele me disse que era preciso dar um nome. Lembro que tivemos um longo trecho de improvisação na hora de gravar e aí senti que, de alguma forma, era uma viagem e que estávamos imersos naquele som, como peixes. Daí o nome. E eu gostei, por isso depois mudei para o nome do álbum. E a Carola Nebbia, irmã da Camila, fez um trabalho lindo na arte da capa com essa ideia.

E faz parte de um catálogo com propostas muito criativas e variadas, como as Ears&eyes Records de Matthew Golombisky.
Sim. Estou muito feliz com isso. É uma gravadora linda com ótimos músicos. E Matthew continua muito próximo e muito interessado em tudo o que acontece aqui, mesmo tendo retornado aos Estados Unidos. Ele está sempre disposto a lhe dar respostas, a buscar soluções. Estou-lhe muito grato, como também estou à Argentina e a Buenos Aires em particular. Sempre fui muito bem tratado e fiz muitos amigos em um ambiente saudável e acolhedor.

Viaje del Pez. Diana Árias Trio.Diana Arias A Jornada do Peixe CAPA

  1. Pacífico
  2. Trigridia
  3. Don de la Noche
  4. Mango
  5. Viaje del pez
  6. La espera
  7. Desbaratá
  8. Salida
  9. E la Lluvia

Diana Arias , contrabaixo / Ernesto Jodos , piano / Sergio Verdinelli , bateria.  

Todas as músicas são compostas por Diana Arias, exceto “Desbarata”, uma canção tradicional colombiana.
Selo Ears&eyes Records / Gravado na Ideo Music.
Gravado e mixado por Mariano Miguez /
Design gráfico de Carola Nebbia a partir de foto de Ana Isabel Andrade Arias

Links:

BandCamp: https://dianaarias.bandcamp.com/album/viaje-del-pez

Soundcloud: soundcloud.com/diana-arias-21 

Instagram:  www.instagram.com/diana.arias.b/?hl=es

Facebook: www.facebook.com/Diana.Maria.Arias

Registros de ouvidos e olhos:  www.earsandeyesrecords.com ,