‘Estar ao Redor’ de Paulo Francisco Paes
Paulo Francisco Paes – A minha relação com o piano começou desde cedo vendo minha tia Maria Haydée tocar Chopin e meu tio Ricardo Camargos tocar Pixinguinha. Foi então com 12 anos que eu disse ao meu pai que queria estudar piano e fui logo apaixonando-me pelo instrumento. Aos poucos, fui conhecendo o enorme repertório dos compositores para piano solo. Chopin, Villa Lobos e Rachmaninoff sempre foram meus prediletos; acho que a influência deles sobre mim será sempre gigante!
PFP – A minha paixão pelo cinema também foi algo da juventude, meu pai me mostrou todos os grandes clássicos do cinema, Fellini, Visconti, Kubrick etc… Como músico, sempre prestei atenção nas trilhas sonoras. Fui logo conhecendo a obra dos grandes trilheiros da história do cinema como Nino Rota, Ennio Morricone, Bernard Herrmann etc… Desde que comecei a compor, fui aos poucos inclinando-me também para as trilhas dos filmes do meu pai e do meu irmão (Pedro Antônio). Acho que foi um processo natural, pois minha família é toda do cinema.
PFP – O meu primeiro disco, Chão de Nuvens, foi um pouco uma mistura de todas as referências musicais que eu tinha na época. Realmente, uma mistura entre o clássico e o popular, e também algo do jazz, que eu adoro. Hoje, analisando o álbum vejo que muitas faixas do disco são na verdade canções, mas que não tinham letra. A repercussão foi bacana, sobretudo porque tive a participação de grandes músicos como Leo Gandelman e Paulo Sérgio Santos no disco.
PFP – O mais curioso sobre o meu trabalho como cancionista é que muitas das melodias dessas canções foram compostas em 2011, 2012 e 2013, mas não tinham letra. Eu era muito exigente comigo para escrever letras, e após algumas tentativas minhas e de amigos, desisti. Apenas uma canção dessa época teve letra de um amigo, Quinta Estação, do Guilherme Figueira.
A segunda canção Chão de Sol, eu entreguei a melodia pro Gustavo que logo teve a ideia de fazer uma letra inspirada em Graciliano Ramos. A letra tem muitas referências ao escritor.
A terceira faixa do disco é Baião de Nós, que compus em 2020 e Gustavo fez a letra logo em seguida. Esse baião é um pouco da síntese das minhas influências musicais, pelo fato de eu ter escutado e frequentado muitas rodas de forró e baião no Rio de Janeiro. Sempre adorei a levada do baião, que está presente numa peça para piano solo chamada “Valente”, que faz parte do repertório de Chão de Nuvens, meu primeiro disco instrumental. A letra do Gustavo é uma espécie de crônica da vida cotidiana do brasileiro; eu particularmente, adoro essa letra. Uma outra curiosidade dessa faixa é que foi o início da parceria com a cantora Luísa Lacerda. Foi a primeira música minha que ela escutou e quis gravar; fiquei muito feliz.
A faixa 5 Catarse, tem uma peculiaridade: pois foi a única faixa do disco que o Gustavo já tinha a letra pronta (eu musiquei depois). Acredito que seja a mais popular do disco. A música parece que foi feita para a Ilessi cantar; adoro o timbre dela na gravação.
A faixa 6 Dias Assim, junto com a primeira, são as duas canções do disco que eu fiz a letra e a música. A melodia, compus em 2013, durante um período difícil. Acho que a melodia carrega essa melancolia da fase que eu me encontrava. Decidi colocar letra nela no embalo da parceira com o Gustavo. A canção ficou pronta em 2019. Talvez seja a que eu mais me identifique musicalmente, pelas influências eruditas que tenho, por gostar dessas linhas melódicas longas.
PFP – Eu já conhecia a Luísa pelo Instagram e adorava o seu trabalho. O encontro se deu através de um amigo ao qual eu mandei as canções para que ela ouvisse. A Ilessi foi através da Luísa, que logo me impressionou por sua voz maravilhosa. Foi uma dádiva contar com essas duas brilhantes cantoras no disco, sobretudo para um compositor que está fazendo sua estreia como cancionista, uma felicidade enorme pra mim.
WG – Que músicos participaram das gravações? Quanto tempo demorou, desde o início até a mixagem?
PFP – Todos os músicos do disco eu já tinha trabalhado antes, todos espetaculares. Foi um prazer enorme contar com a presença desses músicos fantásticos: Pedro Franco, no vioão, Hugo Pilger no cello, Priscila Rato no violino, Marco Catto na viola, Rômulo Barbosa na flauta, Batista Jr no clarinete, Pablo Arruda no baixo, Ajurinã Swarg na percussão e Eduardo Sodré em ‘Longe’. As gravações foram feitas no meio da pandemia, então não obedeceram o padrão, tem faixas do disco que cada músico gravou de um lugar e num tempo diferente. Acho que desde a primeira gravação do Baião de Nós com a Luísa até o início da mixagem foram uns 4 meses. Gostaria de ressaltar também o incrível trbalho de Felipe Larrosa Moura na mixagem.
PFP – A ideia é de fazer shows quando tudo voltar ao normal; ainda não penso em fazer clip, talvez futuramente. A divulgação agora é muito pelas redes sociais e outros veículos de comunicação.
PFP – Acho que o meu momento agora está nas canções; tenho muitas outras prontas e pretendo gravá-las ano que vem. Tenho feito canções com outros letristas também, assim como tenho escrito letras para as minhas melodias. Tenho um projeto de um Single com a Leila Pinheiro que deve ser gravado em breve: uma honra enorme pra mim. São muitas portas se abrindo nesse universo maravilhoso das canções.