Lançamentos

Gustavo Figueiredo lança ‘Antes do Fim’

Conheço há um bocado de tempo a carreira do virtuoso pianista e compositor Gustavo Figueiredo, tendo acompanhado a sua carreira, desde a sua participação no BDMG Instrumental e os lançamentos de seu cd Trio (2014) e dvd Trio’ (2015). Agora, Gustavo acaba de lançar seu segundo disco, ‘Antes do Fim‘, em formato de trio, com Felipe Continentino (bateria) e Adriano Campagnani (baixo elétrico), contando com as participações especiais de Kadu Vianna e Marcelo Dai.

Wilson Garzon – Descobriu o piano desde cedo na sua vida? Como foi a sua formação (escolas/professores)? E o jazz, quando apareceu na sua história? Que músicos foram importantes no seu desenvolvimento?
Gustavo Figueiredo – Não descobri o piano muito cedo. Comecei a estudar teclado aos 13 anos de idade e o piano só veio mais tarde. Tive vários professores no início dos meus estudos, depois estudei na Pró-Music escola de música em BH, fiz teoria musical com o Lúcio Martins, harmonia e improvisação com Enéias Xavier e Irio Júnior.

Meu primeiro contato com o jazz foi o jazz-fusion do Chick Corea Electric Band. Quando ouvi o álbum “Light Years” pela primeira vez fiquei muito impactado e a partir daí comecei a comprar cds do gênero. Encontrava com alguns amigos pra ouvirmos juntos e trocar álbuns. Me lembro que as fitas de VHS com esses shows eram ouro! Nessa época não era tão fácil conseguir ouvir muita coisa (os discos não eram baratos), mas nós degustávamos muito mais cada um disco. Eu também frequentava os bares de BH a procura de jazz ao vivo. Ia atrás do Enéias Xavier, Magno Alexandre, Irio Júnior, Neném, Limão…. Eles me influenciaram muito e mais tarde tive a oportunidade de tocar com todos eles.

WG – Em 2014, você lança ‘Trio‘, seu primeiro disco, com oito músicas autorais e uma do Milton. As músicas foram compostas para esse trabalho ou foram criadas em vários momentos da sua carreira? Esse trabalho de uma certa forma resume a sua trajetória até esse momento?
GF – A maioria das músicas foi composta já pensando nesse álbum. Uma ou duas já existiam a mais tempo. Acredito que nesse trabalho eu consegui me encontrar e criar uma identidade para a minha música. Consegui misturar a música brasileira e o jazz de uma forma mais pessoal e isso foi se desenvolvendo com o passar do tempo. A música do Milton Nascimento que gravei foi um ponta pé pra eu seguir trabalhando arranjos de outros compositores brasileiros e colocar minha cara nelas.

 

 

WG – Em 2021, você lança ‘Antes do Fim‘, seu segundo disco, com oito composições autorais e uma do Gil. Existia um conceito formado para esse trabalho? Até que ponto a pandemia foi (ou não) importante para o desenvolvimento desse projeto?
GF – Na verdade são 7 autorais, uma do Gil e uma do Djavan. A maioria dessas músicas foram compostas em 2020 e início de 2021, então o trabalho mostra bem minha cara atual como compositor e arranjador. E o conceito em termos de linguagem é uma mistura do jazz contemporâneo com diversas influências que carrego, tem até um jazz-rock que é a música que dá título ao álbum. Uma coisa que quis inserir nesse álbum e que difere dos meus outros trabalhos são os vocais que entraram em 4 músicas.
Não considero a pandemia um fator relevante para o conceito do trabalho, a não ser o recurso que veio por meio da Lei Aldir Blanc no Estado de Minas Gerais e que foi criada nesse momento como um apoio emergencial aos artistas.

WG – Uma das mudanças em relação ao primeiro disco foi a inclusão de Felipe e Adriano no novo trio. Como se deram essas escolhas?
GF – O Adriano Campagnani, que já tocou no meu trabalho bem no início (2005), voltou a tocar acho que em 2016 ou 2017, quando eu resolvi a voltar o baixo elétrico. No trabalho anterior era acústico. Ele deu muito certo no meu som. O Felipe Continentino foi logo quando o Marcio Bahia voltou a morar no Rio. Em 2018 fiz um trabalho homenageando importantes compositores brasileiros e ele entrou nessa. É um baterista que admiro muito e tem tudo a ver com meu som. Também se encaixou como uma luva no trabalho.

WG – Queridão‘ você compôs em homenagem ao baterista Márcio Bahia, seu antigo parceiro. Conte-nos um pouco sobre a música e o amigo.
GF – O Marcio é realmente um Queridão. Já tive oportunidade vê-lo tocando algumas vezes com o Hermeto Pascoal e Hamilton de Holanda, sempre me impressionou pela técnica aliada a musicalidade. Ele realmente tem um forma única no jeito de tocar. Incrível! O conheci através da Dani Rennó que foi a causa da mudança dele pra BH, mas infelizmente nos deixou. Logo que ele chegou aqui começamos a tocar em alguns bares e pra mim foi uma fase de muita aprendizagem, logo ele me convidou a tocar em seu trabalho e aí realmente foram momentos muito valiosos em que tive que me preparar muito. Em 2013 começou a tocar no meu trabalho também e foi uma grande alegria quando topou gravar meu disco “Trio” em 2014 e DVD em 2015. Ele realmente conseguiu pegar minhas músicas e elevar da melhor forma possível. Fizemos muitos shows juntos e além da música que nos uniu, nos tornamos grandes amigos.

WG – Antes do Fim‘ tem um sentido filosófico e/ou musical? E a ‘Velha Boipeba‘ é uma praia que você frequenta com a família? E em relação à ‘Miragem‘, você se lembra do que viu?
GF – O nome “Antes do fim” veio por um motivo mais simples. Eu comecei a compor no fim de 2020 e como não queria deixar de terminar antes do fim do ano, finalizei no último dia do ano. Mas veio uma reflexão mais profunda também, sobre as coisas que não podemos deixar de fazer antes do fim da vida ou de algum momento da vida. Muitas vezes esperamos o momento certo pra fazer alguma coisa importante, mas esse momento pode nunca chegar.
Velha Boipeba” foi inspirada na ilha de Boipeba. Estive lá com a família uma vez e realmente o lugar me surpreendeu pelas belezas e tranquilidade. Ainda quero voltar!
Em relação a “Miragem” eu não fui inspirado por nada antes. O nome veio depois, a música me fez viajar nisso.

 

 

WG – Três composições, ‘Nova‘, ‘My Feelings‘ e ‘Pássaro‘, você trabalha com os vocais de Marcelo Dai e Kadu Vianna. Como se deram esses encontros? Porque optou pela inclusão de scats e letra nesse seu disco?
GF – Já usei vocal em alguns shows meus com a participação do Kadu Vianna, com scats e letras. Então isso é uma coisa que eu já tinha vontade de incluir em meu álbum a algum tempo.

Conheci o Marcelo Dai como baterista. Tocamos em alguns trabalhos juntos e quando o ouvir cantar percebi o tamanho do talento que ele é. Então quando eu estava idealizando o conceito do álbum e pensando nos vocais, queria músicos que além de simplesmente cantar bem, pudessem contribuir com algo mais, que pudessem improvisar e sugerir coisas novas. Não pensei muito e logo me veio esses dois nomes na cabeça. Kadu Vianna e Marcelo Dai. O Kadu gravou My feelings e Pássaro e o Marcelo, Nova e Miragem. Realmente eles superaram as expectativas e fiquei muito satisfeito com o resultado.

WG – E quanto à escolha de ‘Lamento Sertanejo‘, foi difícil a escolha ou ja era um ‘standard‘ que fazia parte do seu repertório?
GF – Essa é uma música que gosto muito, mas nunca fez parte do meu repertório. Quando pensei em fazer uma releitura de alguma música essa veio na minha cabeça, e como sou muito fã do Dominguinhos, achei legal fazer uma arranjo pra uma música desse músico genial e que sou muito fã.

 

 

WG – E em relação ao lançamento de ‘Antes do Fim‘ no Savassi Festival, como foi a produção do show? E a repercussão?
GF – Foi muito interessante porque quando falei com o Bruno Golgher (Savassi Festival) sobre o lançamento que seria em outubro nas plataformas digitais, coincidiu com o mês do festival, então ele ouviu algumas música e gostou muito da ideia de lançarmos lá. Fiz a direção musical e pude contar com todos os músicos que participaram do álbum. Esse show foi realmente muito especial! A escolha do teatro foi muito adequada para o show e os profissionais fizeram um ótimo trabalho na sonorização e luz. Apesar de ter uma limitação de público, tive um feedback muito positivo das pessoas que foram ao show.

WG – Que projetos está pensando para os próximos anos? Você acredita que a mídia (streaming) irá dividir o espaço para shows/eventos com o público ao vivo no futuro?
GF – Eu quero fazer mais projetos com convidados especiais. Isso é legal porque cada um trás uma particularidade ao show e fica ainda mais interessante para a plateia.
Acho que o streaming não vai dividir, mas vai ser algo a mais. Estar presente no show é insubstituível. A sensação do show realmente ao vivo, com som, luz e o calor do momento é muito melhor, mas o streaming é legal pelo registro. Muitas pessoas podem ter o acesso futuro. Só temos que tomar cuidado, pois como isso tá muito comum, não pode ser deixado de lado a qualidade da transmissão, que muitas vezes ficam muito aquém do ao vivo.

 

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