Nicolas Krassik – Dedicação ao Brasil
Kiko Ferreira, jornal Estado de Minas, 11/06/2017
O país que teve, durante décadas, uma portuguesa, Carmem Miranda, como maior representante de sua identidade para o resto do mundo, tem num
instrumentista francês um de seus mais originais músicos contemporâneos. O violinista Nicolas Krassik, nascido na periferia de Paris, comemora sua perfeita adaptação ao solo, à gente e à música brasileira com o CD Antologia Nicolas Krassik – 15 anos de Brasil, reunindo 13 faixas de seus cinco discos cariocas.
O interesse do intérprete começou ainda na França, onde passou a frequentar festas de música do Brasil. Com formação em jazz e música erudita, teve certeza que aqui era, literalmente até, sua praia, quando conheceu a Lapa, em 2001. “O dia em que eu decidi me mudar para cá foi o dia em que eu tomei uma das decisões mais sérias e mais certas da minha vida.”, conta Krassik na apresentação do disco. “Foi aqui que eu encontrei minha música, os músicos com quem aprender, trocar e tocar. Foi no Brasil que eu me encontrei”, conclui.
Em menos de duas décadas, ele construiu uma carreira brasileiríssima, de dar inveja em muito artista nascido por aqui. Começando em 2004 com o álbum Na Lapa, que reflete a convivência com a cena musical do bairro carioca, ele fez o segundo, Caçua (2006) com releituras de clássicos do samba, do choro e do forró. Aí já arriscava os primeiros temas autorais. Três estão na atual coletânea.
Na sequência, o Nordeste é tema de Cordestinos (2008), seguido do impecável Odilê, odilá dedicado ao repertório de João Bosco. O lado compositor aparece mais no mais recente, Nordeste de Paris, segundo trabalho ao lado do projeto Cordestinos, desta vez com flertes com o rock e a eletricidade.
Aberto com a festeira Krassik de Ramos (Eduardo Neves), o CD prova que sua adaptação ao Brasil ultrapassa tempos históricos e musicais e revela uma personalidade forte, aliada a técnica precisa. De choros de autores clássicos, como Jacob do Bandolim (A ginga do mané) e Fon Fon (Murmurando, com Mário Rossi) a temas de ícones da MPB como Gil e Dominguinhos (Lamento sertanejo), João Bosco (Corsário, Linha de passe) e Chico Buarque (Deixa a menina), Krassik mescla respeito e naturalidade sem perder a energia ou o humor que nossa melhor música carrega e que nem muitos conterrâneos nossos conseguem assimilar. A cinematográfica e climática Nordeste de Paris (Krassik) e a alucinada Jimi’s galop (Krassik e Marcelo Caldi), que encerram o álbum, deixam no ar a pergunta do violonista e produtor Luis Felipe Lima: “Cá pra nós, estou é curioso em saber o que ele vai aprontar nos próximos 15 anos”.