Nova safra mineira: Gabriel Bruce e Áureo Lopes
Gabriel Bruce lança o EP ‘Low/Live’
Guilherme Augusto, Estado de Minas, 27/04/2022
Prestes a embarcar rumo à Europa para cumprir agenda de shows em junho e julho, o baterista e compositor mineiro Gabriel Bruce, integrante da banda Graveola, lança o EP “Low/ live” com versões instrumentais de músicas de seus projetos solo divulgadas nos últimos três anos. O trabalho chega às plataformas digitais nesta quarta-feira (27/4), por meio dos selos Sismo, Grão Discos e Mocloud.
Gravado no Estúdio Eiffe, o registro dá nova abordagem para músicas que antes foram gravadas como canções, caso de “Protetores”, “Cortina de fumaça” e “Lama”, faixas do primeiro disco solo do artista, “Afluir” (2020), e também do single “O que vi no seu olhar”, lançado em agosto de 2021, com participação do cantor e instrumentista paulistano Curumin.
“Esse trabalho surgiu a partir do convite da Sismo, coletivo de produção de conteúdo de música independente de São Paulo. Eles têm o projeto Low/ live, no qual os artistas são convidados a gravar canções em ‘sessions’ ao vivo. Quando surgiu o convite, escolhi as músicas e decidi gravar a versão instrumental delas em trio”, conta Bruce, que convidou Frederico Heliodoro (baixo) e Lucas de Moro (piano) para acompanhá-lo.
PROCESSO
Segundo ele, o processo de transformar canções em temas instrumentais foi simples, pois suas composições começam a nascer como melodias e só depois ganham letra, muitas vezes assinadas por parceiros, como Matéria Prima, que colaborou com ele em boa parte do disco “Afluir”.
“Minhas músicas são meio híbridas, comportam as letras ao mesmo tempo em que funcionam sem elas. Também as adaptamos para trio, o que nos deu mais liberdade na hora de tocar. Essa formação também ajuda a gente a circular com o show, por exemplo. Hoje, é muito mais fácil levar três pessoas para diferentes lugares do que uma banda grande”.
“Protetores”, a faixa de abertura do EP, além de ganhar abordagem instrumental, conta com a participação de Aílton Krenak. Na verdade, Bruce sampleou partes do famoso discurso que o escritor e líder indígena fez em 1987, durante a Assembleia Constituinte, no Congresso Nacional, em Brasília. A voz de Krenak surge em meio a programações eletrônicas e a instrumentos tocados pelos músicos.
“Entrei em contato com ele, pelo WhatsApp, perguntei se poderia usar a fala. Ele me respondeu dizendo que poderia usar sem o menor problema”. “A questão dos povos indígenas está muito enraizada nessa música, então não fazia muito sentido não ter ao menos um comentário sobre isso. De certa forma, funciona como agradecimento por toda a resistência que o Krenak representa. É muito importante ter, nesta canção, algo que seja propriamente dito”. Captada ao vivo em estúdio, a performance dos músicos rendeu registro em vídeo que será lançado no canal do selo Sismo no YouTube.
Para o artista, esse formato da gravação colaborou para que os músicos se sentissem mais à vontade para improvisar e, consequentemente, as músicas ganharam abordagem especial.
“Tem muita interação. A performance fica mais viva e livre. No disco, a captação da voz e da percussão foi feita separadamente, até mesmo para a gente eliminar ruídos que poderiam surgir. No EP, a gente não tinha muita escolha. O ruído foi incorporado à gravação final. A arte mora justamente nesse espaço de arriscar e ver como é que vai ser. Duas músicas do EP foram gravadas em só um take, por exemplo”.
EUROPA SOLO E ACOMPANHADO
O registro é uma espécie de cartão de visitas que Gabriel Bruce coloca nas plataformas antes de embarcar na turnê internacional que passará por Portugal, Espanha e Itália. O artista se apresentará sozinho, mas também com a banda Graveola e como músico do cantor e compositor Octavio Cardozzo. Em seu shows solo, ele estará acompanhado de PC Guimarães e Thiago Corrêa.
Antes disso, Gabriel Bruce se apresenta no Blue Note São Paulo, em 18 de maio, casa de shows paulistana voltada para o jazz. Curumin fará participação especial. “Vou conhecê-lo pessoalmente. Por conta da pandemia, a gente gravou toda a parceria à distância. Agora chegou a hora de tocar a nossa música juntos ao vivo”.
Áureo Lopes lança ‘Outras esquinas’
Augusto Pio, Estado de Minas, 25/04/2022
Estreando como compositor, o contrabaixista Áureo Lopes chega às plataformas digitais com o álbum “Outras esquinas”. Com nove faixas autorais, o disco ganhou também edição japonesa, distribuída pela gravadora Mocloud. Acompanhado por nomes reconhecidos, Áureo mostra habilidade na criação de melodias e harmonias e na interação com os outros instrumentistas, no modo discreto de atuar como baixista e bandleader.
O núcleo de “Outras esquinas” é formado pelos músicos Gustavo Figueiredo (piano, teclado e arranjos), Lincoln Cheib (bateria), Amauri Ângelo (violão e guitarra), além do próprio Áureo Lopes (baixo e vocal). O álbum contou ainda com as participações do cantor Tadeu Franco (“Chão de Minas”), da cantora Camilla Leonel (“Marítimo”), do saxofonista e compositor Chico Amaral (“77”). O percussionista Bill Lucas participou de “Guima” – homenagem ao músico Renato Guima, do grupo Lombinho Com Cachaça, morto em 2018 em acidente na BR-262 – e também na faixa “Jobi”.
Ele revela que quis fazer um disco de compositor, e não de baixista. “Quem ouvir ‘Outras esquinas’ perceberá que não há nenhum baixo em primeiro plano, ofuscando os outros instrumentos, pois nesse trabalho quis privilegiar as composições, os arranjos e as sonoridades que o grupo produziria.”
As faixas de “Outras esquinas” mostram gêneros como bossa nova, jazz soul e música mineira, ao mesmo tempo em que recriam a sonoridade da música instrumental do final dos anos 1960 e início de 1970, por meio do uso de um piano elétrico Fender Rhodes.
“Uma das minhas intenções nesse trabalho foi buscar recriar a sonoridade daquela época, que gosto e estudei recentemente. O swing está no nosso DNA”, garante Áureo.
Para compor, o artista trabalha utilizando o violão e o baixo. “Algumas das músicas, como ‘Chão de Minas’ e ‘Casa branca’, fiz ao violão, desenvolvendo harmonia e temas; outras, como ‘R2D2’ e ‘77’ surgiram primeiro como linhas de baixo, com a melodia sendo feita depois.”
INSTRUMENTAL
O músico revela que esse trabalho foi todo composto durante o período pandêmico, entre 2020 e 2021.
“Na verdade, foi gravado em março de 2021, no Estúdio Ultra. Todas as composições são 100% minhas e 100% instrumentais. Tem também instrumental/vocal junto, como na participação de Camilla Leonel em ‘Marítimo’ e duas que eu canto também, mas sem letras.”
Áureo conta que tem uma carreira longa, acompanhando outros artistas.
“Depois, atuei também como empresário no setor de eventos artísticos, mas com a pandemia resolvi retomar a minha carreira de forma autoral, lançando meu nome como artista mesmo. Embora também faça canções, resolvi sair pela tangente instrumental, porque estava estudando bastante e isso resultou nesse álbum, que é influenciado pelas coisas que ouço, desde o jazz tradicional, passando pelo fusion e, principalmente, pela música brasileira de uma forma geral.”
O baixista diz que tem a pretensão de lançar também o CD físico em breve.
“Teve um lançamento no Japão, feito pela gravadora MoCloud, e o pessoal falou que quer distribuir o disco lá. Confesso que não iria fazer inicialmente, porque não está compensando, mas, para o Japão, acredito que valha a pena. Com isso, aproveito também para vender aqui no Brasil”.
CAPA
O músico relembra que fez show de lançamento do disco, mas que o material ainda não está editado. “Devo transformá-lo em videoclipes de algumas músicas. ‘Outras esquinas’ foi arranjado e produzido por mim e pelo pianista Gustavo Figueiredo”, revela. Áureo conta que a capa do disco está sendo muito elogiada e foi feita pelo Jean Barberi, artista gráfico de São Paulo.
“Ele já fez capas para Ed Motta e Fernanda Abreu, entre outros, e está entre os 150 maiores ilustradores do mundo, eleitos por uma publicação especializada do exterior. Esse é um dos motivos pelos quais os japoneses gostaram, pois não é só a música, é a embalagem também. Sou um colecionador de disco, então dou muito valor a esta arte.”
INFLUÊNCIAS
Nascido em Itabirito, Áureo Lopes iniciou carreira musical em 1997. Em 1999/2000, gravou o disco da banda Moog Magoo, no qual foi o principal compositor. O músico já tocou e gravou com vários artistas, entre os quais Leoni, Patrícia Ahmaral, Ricardo Koctus (Pato Fu) e Tino Gomes.
Suas primeiras influências foram baixistas do pop rock brasileiro, principalmente Liminha, Arnaldo Brandão e Leoni (Kid Abelha, Heróis da Resistência), com quem chegou a tocar. Mais tarde, buscando aprofundar seus conhecimentos e aprimorar sua técnica, passou a ouvir instrumentistas brasileiros e mestres do jazz, como Arthur Maia, Nico Assumpção, Jaco Pastorius, Miles Davis e John Coltrane.