O lado B (Blues) do Santa Jazz 2019
Dan Mendonça, dublê de médico e luthier, é também curador do Santa Jazz.
O festival inicialmente chamado Santa Teresa Jazz & Bossa, agora consagrado como Santa Jazz, em todas as suas edições procura trazer expoentes do Blues para esquentar seus finais de noite, dando ao público a oportunidade de entrar no swing para afugentar o frio das madrugadas teresenses.
TIA CARROLL
Esse ano não foi diferente. Na sexta-feira, a cantora americana Tia Carroll, fez bonito, cantando em seguida a dois ícones da bossa nova, Leila Pinheiro e João Bosco, conseguiu dentro do segmento que curte o Blues uma aprovação igual aos que curtem a bossa. O público de menos de 30 anos vibrou, e boa parte dele não hesitou em afirmar que foi a melhor atuação da noite.
Cantando blues e baladas que remetem ao melhor da soul music, com o apoio da excelente Just Groove, banda liderada pelo guitarrista paulista, o canhoto Igor Prado, veteranos acompanhantes de ídolos do Blues nas terras brasileiras. Dona de um vozeirão onipresente, a cantora é muito inteligente em escolher um repertório conhecido, de ritmo e assimilação fáceis pelo público e, abusando de sua empatia efetivamente levanta a plateia. Em “Let’s stay together”, mostrou o quanto temos saudades de Tina Turner…
LUCKY PETERSON
No sábado, o ponto alto foi Lucky Peterson, pianista, tecladista e guitarrista americano, com uma carreira que se iniciou aos cinco anos de idade, época de sua primeira gravação… Sob influência de tudo de bom que ouvia, junto ao pai que foi proprietário de um nightclub, onde se apresentavam os grandes nomes do Blues na época, sendo diretamente por eles influenciado. Tem dezenas de discos gravados…
Veio com sua banda original e a participação da patroa, Tamara Peterson, e com toda essa folha corrida, o cara não faz por menos. Dá um show nas interpretações do blues, e ainda traz um guitarrista que empolga quase tanto quanto ele. Lucky no final parte para o abraço, desce do palco de guitarra em punho e literalmente se joga nos braços do público para cantar e ser fotografado no melhor estilo dos Ícones do blues. Ele é sucesso garantido onde há ouvidos antenados com o blues e o rock.
BIG JAMES
Na lógica de um crescendo de emoções, Lucky deveria ter sido escalado para “fechar a noite”. O que acabou acontecendo ao trombonista e cantor, representante do “Blues de Chicago”, Big James Mongomery, que trouxe seu trombone, mas pouco tocou o instrumento, preferindo cantar a maior parte do tempo. O que faz com incríveis solos vocais. Acompanhado pelos competentes Simi brothers, que apesar do nome, são os guitarristas paulistas, irmãos e também produtores… Danilo e Nicolas Simi, deram conta do recado. Com essa noite predominantemente blueseira, O público jovem teve mais espaço para curtir e dançar até a madrugada.
Com uma programação crescendo em qualidade e equilíbrio a cada edição, esse evento de Santa Teresa, face ao investimento em uma estrutura e equipamento técnico primorosos , poderia ser desdobrado facilmente em dois ou três fins de semana. Com temáticas e dinâmicas diferentes, segmentaria assim programações para públicos distintos, que certamente ainda lotariam a capacidade de acolhimento da hotelaria e gastronomia da cidade.
Hoje já não há reservas de hotelaria praticamente para o Festival do ano que vem… como atrair assim o público de outros estados?
Se tivéssemos um Santa Bossa, um Santa Jazz, e um Santa Blues, a cidade então mereceria realmente o título que um dia foi conferido por um governador, “capital capixaba da música”.