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O tesouro do João

Ontem (10/06), João Gilberto, o gênio do canto e do violão, completou 85 anos, recluso em seu apartamento no Leblon, na Zona Sul carioca. Porém, a “festa” está acontecendo no exterior. A norte-americana Resonance Records, dos produtores Todd Barkan e Zev Feldman, mandou para as Getz Gilberto montagemlojas um tesouro: o disco Getz/Gilberto ‘76, que traz o brasileiro e o saxofonista Stan Getz em temporada na casa de jazz Keystone Korner, em São Francisco (EUA), em maio de 1976.

O álbum está disponível em lojas virtuais, nos formatos de CD e vinil, e também no iTunes. As versões físicas são luxuosas, com fotos dos shows e de bastidores. No Brasil, as comemorações do aniversário de João Gilberto foram marcadas pela discrição – do jeito que ele gosta. Avesso a entrevistas, o baiano subiu ao palco pela última vez em 2008. Em 2011, chegou a ser anunciada nova turnê, que acabou cancelada por problemas de sáude do artista. Não há previsão de lançamento de um novo álbum brasileiro.

Zev Feldman, que dirige a Resonance, vem tentando viabilizar uma edição brasileira do álbum Getz/Gilberto ‘76, mas as conversas emperraram por questões financeiras. É uma vergonha que as gravadoras no Brasil tenham de pagar impostos tão altos para lançar um disco. Continuamos tentando encontrar um parceiro, mas está difícil, explica.

Singular
O projeto traz entrevistas com Barkan e Carlos Lyra, além de depoimentos de integrantes da banda que acompanhou João e Getz naquelas noites em São Francisco. Doze faixas entraram na seleção final. “João Gilberto é o cantor mais singular de nosso tempo. Um verdadeiro criador. Sua curiosa habilidade de cantar sem vibratos e seu impecável senso rítmico o fazem único. Ele reluta muito em fazer aparições públicas”, afirma Getz no disco.

João e Getz eram velhos conhecidos. Em 1963, gravaram Getz/Gilberto, que seria lançado um ano depois. Com a participação de Astrud Gilberto, esposa de João, e de Tom Jobim, o álbum foi um sucesso comercial que globalizou a bossa nova. Durante as sessões de estúdio, ficaram célebres as discordâncias entre o cantor e o saxofonista. Apesar disso, os dois ocasionalmente trabalharam juntos.

Getz montou a temporada no Keystone. Ele havia acabado de gravar com João e sua então esposa, Miúcha, o álbum The best of two worlds. Stan afirmou várias vezes que o Keystone Korner era seu clube de jazz favorito e dizia a todos que era o melhor do mundo. Ele quis fazer algo bastante especial para nós e, durante os shows, dava para ver que ele e João se respeitavam acima de tudo. Os dois sabiam que o trabalho feito em conjunto havia sido um marco, conta Barkan. Joanne Brackeen (piano), Clint Houston (baixo) e Billy Hart (bateria), que já trabalhavam com o saxofonista, foram os músicos convocados para acompanhar a dupla.

Barkan ficou bem próximo a João durante aquela temporada. O cantor passou a chamá-lo nos bastidores de Toddynho e a ter conversas com membros da banda. O baterista Hart se mostrava especialmente interessado na diversidade dos ritmos brasileiros. Todos nós sabíamos do excesso de timidez de João, mas nesses dias ele estava muito extrovertido e animado, aberto a conversar, relembra.

Fora de catálogo
Infelizmente, João Gilberto não deve mais fazer shows. Com exceção do álbum João, voz e violão (2000), nenhum de seus 16 discos gravados com esmero está em catálogo nas lojas do Brasil. Enquanto seus advogados travam há anos na Justiça uma guerra contra a administração de seu material pela EMI, adquirida pela Universal, João segue sem previsão de lançar trabalhos de forma independente. É mais fácil encontrar seus álbuns reeditados no Japão ou na França.

Preço médio
US$ 9,49 (MP3), US$ 11,39 (CD) e US$ 32,95 (vinil).