Pipi Piazzolla Trio apresenta Stick Shot
Fernando Ríos, www.argentjazz.com.ar, 15/12/2022
O Pipi Piazzolla Trio reivindica sua história com Stick Shot, o quarto trabalho do grupo com nove músicas originais e um standard de Thelonious Monk. O grupo, completado por Lucio Balduini e Damián Fogiel, volta a exibir uma singular solidez coletiva, em sintonia com um indiscutível amadurecimento criativo.
Existem grupos que seguem sempre um caminho original de criação. Há novos discos que se alimentam de velhas experiências, para desafiar a escuta inspirada. E também há momentos únicos de encontro, em que esses grupos produzem esses registros. Como em Stick Shot, do Pipi Piazzolla Trio; o quarto recorde alcançado do grupo com Lucio Balduini e Damián Fogiel.
Depois de seus três discos anteriores, Arca Rusa de 2013, com sua música inspirada no filme plano – sequência do russo Alejandro Sokurov, que tem o mesmo nome; Transmutación, vencedor do Gardel al Jazz em 2016 e Rata, que ganhou aquela estatueta em 2020; era crescente a expectativa para o próximo trabalho do trio do baterista, pouco propenso a adiantar indicações sobre seus próximos passos.
Mas a verdade é que aqui o trio volta a surpreender e fá-lo com as suas já conhecidas armas: músicas inéditas dos seus três componentes, uma solidez de grupo invejável, melodias fortes e inspiradoras passagens de improvisação para o brilhantismo individual.
“Em cada um dos materiais do trio foram feitos trabalhos diferentes. No primeiro cd, era tocar todo o repertório sem parar. No segundo, nós tentamos um monte de coisas ritmicamente estranhas. Na terceiro, a ênfase estava na improvisação. E agora o nosso trabalho é como uma síntese. Talvez seja conceitualmente menos ambicioso. Mais tranquilo. Mais “cool”, diz Pipi.
Como nas três obras anteriores, aqui Piazzolla volta a exibir a sua veia de compositor (pouco evidente em Escalandrum, por opção) e aqui ele apresenta seis músicas. A primeira delas abre o álbum: Polacos, dedicada ao amigo Mariano Sivori, com uma melodia sutil que percorre a canção com uma leveza efetiva. Seguem-se Caudillo, destaque para a apresentação especial de Balduini, e os Nuevo Ciclo Motivos 1, 2 e 3, todos com pouco mais de um minuto, mas muito além do que um ouvinte leve poderia supor como exercícios estilísticos. Para Pata de Lana, as suas mudanças de ritmo emolduram o pungente diálogo entre sax e violão, que já desde o início denota a maturidade do conjunto.
Fogiel acrescenta duas composições de sua autoria, Gaita, a canção mais longa do álbum, viaja por diferentes climas, destacando a versatilidade do tenor enquadrado no ritmo de Piazzolla (aqui com extenso solo) e nos toques agudos de Balduini e Mientra estás dormida, onde o sax e a guitarra alternam com a bateria, que enfatiza cada momento.
En el Fondo del Mar, o único tema de Balduini e sua bem sucedida alternância entre a calma e a tensão a ponto de transbordar, antecede o único standard do disco: o monkiano tema Brilliant Corners, gravada pelo pianista norte-americano em 1956 para a Riverside e que já desde então se tornou um de seus temas emblemáticos.
Seria justo dizer que a versão do trio homenageia o original. E neste caso, aliás, bem acompanhado por um punhado de composições originais de sucesso. Daqueles que exigem ouvidos atentos e ouvintes sem preconceitos. Aqui a recompensa é garantida.
Pipi Piazzola Trio (2022)
Pipi Piazzolla , bateria e composição / Lucio Balduini, violão e composição / Damián Fogiel, sax tenor e composição.