‘Religare’ de Matheus & Abjaud, segundo Matheus Barbosa
Pelo fato de viver de BH, estou sempre presente perante o jazz e o instrumental mineiros. Entre eles, dois grandes instrumentistas se reuniram para gravarem o primeiro trabalho autoral. O guitarrista Matheus Barbosa o conheço desde quando lançou o primeiro cd solo no Festival de Jazz de Ipatinga em 2008. Logo em seguida, mudou para BH, onde desenvolveu sua técnica e capacidade criativa. O pianista e tecladista Marcus Abjaud já milita dentro da cena instrumental há um bom tempo, tendo participado de trabalhos com Fred Heliodoro, Thiago Nunnes, Felipe Continentino e Matheus Barbosa, é claro. Desse projeto, participaam das gravações o contrabaixista Bruno Velloso e o baterista Felipe Continentino.
Para divulgar “Religare’, convoquei Matheus para uma entrevista, o qual aquiesceu e nos concedeu as suas respostas, que estão abaixo:
Wilson Garzon – Como você avalia hoje “Naturalmente“, lançado em 2008, aos 16 anos? Um misto de coragem com criatividade?
Matheus Barbosa – Hoje em dia esse disco não faz parte teoricamente dos discos que eu considero “de carreira“. Entretanto foi muito importante realizá-lo, uma vez que serviu para me inserir no contexto da música instrumental na capital, experimentar, conhecer pessoas e “estreiar” minha discreta carreira de músico instrumentista. Mas sim, foi um trabalho de muita coragem, porque eu ainda não tinha definido a sonoridade que eu queria, em todos os sentidos: som da guitarra, estética do trabalho, músicos, etc. Mesmo assim o disco foi lançado e me proporcionou contatos muito especiais.
WG – O que você aprendeu e desenvolveu aqui em BH, tanto na escola quanto tocando nos bares, teatros e festivais?
MB – Acho que a maior lição até hoje é que a gente não pode parar e temos que amar de verdade o que fazemos. O músico não é chefe de si mesmo, nós somos é empregados de nós mesmos. rsrsrs. Principalmente na música instrumental aqui no Brasil, onde nosso público é um nicho modesto, é necessário um esforço(digno) para estar sempre trabalhando.
WG – Como e quando você conheceu Marcus Abjaud? Antes de “Religare“, que trabalhos desenvolveram juntos?
MB – Nos conhecemos há uns 5 anos atrás, numa gig em que tocamos juntos. Já havia escutado a respeito dele, mas na época ele estava saindo de um trabalho que o deixou fora do circuito instrumental. E então, felizmente, a partir desse dia, passei a tentar integrá-lo nos meus trabalhos e vice-versa. O Religare foi o primeiro trabalho exclusivamente nosso que fizemos, mas anteriormente, gravamos o disco solo dele, e por um curto período participamos da IEX. Um conjunto formado por mim, ele, Frederico Heliodoro, Felipe Continentino, Breno Mendonça e Wagner Souza.
WG – Qual foi o conceito de “Religare“? As músicas foram compostas em conjunto com Abjaud ou cada um apresentava um tema, que depois seria selecionado?
MB – Religare pra gente, é um termo que reflete como vemos nossa posição em relação a música, a beleza e a arte de maneira geral. Parafraseando um amigo “...a religião(religare) é antes de tudo um fato da experiência humana. Sempre serviu pra registrar o contato humano com o sagrado, dando significado a sua ação com valores e objetivos…”
O disco é um misto de músicas minhas e do Marcus, então não compomos em conjunto. Entretanto, reunimos nossas músicas que tinham a ver com a estética final que imaginamos.
WG – Conte-nos um pouco sobre o conceito de cada música de “Religare“.
MB – Eu diria que o conceito das músicas é unificado. As melodias e harmonias são bem desenhadas e ao mesmo tempo espontâneas. A performance em si da composição e até mesmo dos solos não são voltadas para o próprio instrumentista e sim para o trabalho como um todo, para a estética branda e terna sem perder atitude e atividade na improvisação. Isso, teoricamente resumo cada música. Prefiro deixar pra quem tiver curiosidade tirar as próprias conclusões.
WG – Como estão divulgando o novo CD? Vai haver discos à venda? E shows?
MB – A divulgação desse trabalho está sendo feita quase que inteiramente digital. Lançamos o disco nas plataformas de streaming e fizemos alguns vídeos tocando ao vivo com o Felipe e Bruno. Fizemos uma tiragem discreta pra ter um registro físico, mas a distribuição mesmo é digital. Sobre shows, tivemos um retorno interessante, já nos apresentamos várias vezes, em festivais, feiras, etc e ainda temos alguma agenda até o final do ano. O próximo será essa semana, dia 29 em Ipatinga, minha cidade no bar Avesso.
WG – Quais serão seus próximos passos e projetos?
MB – Já está nos planos fazer uma segunda edição do Religare, então estamos numa fase laboratorial, pensando na estética e na sonoridade que queremos, assim como fizemos com esse primeiro disco. E pessoalmente, pretendo gravar um EP em trio, no início de 2018.