Savassi Festival volta às ruas de BH: 20 anos de muito jazz!
Daniel Barbosa, Estado de Minas, 14/08/22
Realizado pela primeira vez em 2003, o Savassi Festival nasceu, segundo seu idealizador, Bruno Golgher, com uma ideia relativamente simples: levar para o espaço público shows que as pessoas estavam habituadas a assistir em locais privados, cuidando para que fossem tão bons ao ar livre quanto no ambiente fechado. “O mundo mudou, a cidade mudou, mas essa faísca permanece”, ele diz.
Ao chegar à 20ª edição – depois de um 2021 sem a presença da plateia, devido à pandemia –, o festival volta a seu lugar de origem, marcando presença na cidade e retomando algumas tradições, como o período de realização, a multiplicidade de ações e a diversidade curatorial.
Desta segunda-feira (15/8) até o próximo dia 22, o evento ocupará ruas, bares, restaurantes, teatros e equipamentos públicos com shows, lançamentos, palestras e workshops, além de novidades, como a estreia do Clube de Jazz do Café com Letras.
Aposta na diversidade
Os shows gratuitos ocorrerão na Praça Floriano Peixoto, no bairro Santa Efigênia, e na Savassi, entre sexta-feira (19/8) e domingo que vem (21/8). Estão escalados Glaw Nader, Dani Gurgel, Lívia Mattos, Hércules Gomes Trio, Gaia Wilmer e Sexteto Sucupira, além da dinamarquesa Kathrine Windfeld, acompanhada da Big Band do Clube de Jazz, e da cantora Enji Erkham, da Mongólia.
“Voltar a ocupar o espaço público no ano em que o festival chega à 20ª edição representa muita coisa. É algo que está no nosso DNA por uma razão muito forte: a ideia de que ter música e cultura ao ar livre faz bem para as pessoas, torna a cidade melhor. É muito bom voltar a ter vários palcos simultâneos, porque você consegue abarcar uma diversidade maior, as pessoas conhecem coisas novas. É muito estimulante”, aponta Golgher.
Diversidade e novidade são marcas registradas do evento, que tem o foco no jazz e na música instrumental, mas não se limita a eles. Montar a vasta programação é um exercício de organização que passa por várias camadas.
Golgher destaca que vários flancos, como se fossem subprojetos do festival, servem de baliza para a programação. Ele cita o Palco UFMG, que contará com quatro alunos e alunas da Escola de Música da universidade e seus grupos, e o Novos Talentos do Jazz, que selecionou, por meio de edital, artistas emergentes.
“Penso a programação com artistas que gostaria de trazer ou que as pessoas indicam. O Sexteto Sucupira, por exemplo, veio de um amigo que disse que eu tinha de ouvir, porque era muito bom. Ouvi e achei incrível. Já o Leandro Cabral foi uma sugestão do Rafael Martini”, conta Bruno Golgher.
“Primeiro, sempre tem aquele monte de coisas que você sempre quis fazer e nunca conseguiu, os desejos curatoriais não realizados. Wagner Tiso é um deles. Nesses 20 anos, ele nunca tinha tocado no festival”, diz o produtor. O pioneiro do Clube da Esquina vai fazer show na próxima sexta-feira (19/8), no CCBB.
Mulheres e crianças ganham destaque
Somam-se a isso recortes que apontam caminhos curatoriais. A Praça Floriano Peixoto receberá dois deles, no próximo fim de semana: Mulheres na Música Instrumental e Jazzinho – Jazz para Crianças.
“A gente explora esses recortes com atenção às efemérides”, diz Golgher, aludindo a duas atrações do Jazzinho: “Caetano Veloso para crianças e outras brincadeiras”, show dos paulistas Décio Gioielli e André Perine, que celebra os 80 anos do baiano; e a homenagem aos 50 anos do Clube da Esquina que será feita por Luísa Mitre, Alexandre Andrés e Lucas Telles, em “O Clube da Esquina para crianças”, show dirigido por Rodrigo Borges, sobrinho de Lô e Marcio Borges.
Além dos palcos montados na Savassi e na Praça Floriano Peixoto – em parcerias com o Festival Verbo Gentileza –, outros locais abrigam a programação: Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, Conservatório UFMG e Café com Letras, onde tudo começou, além do CCBB e do Clube de Jazz do Café com Letras.
A Juvenal Dias receberá Rafael Dutra (nesta segunda, 15/8), Vanessa Moreno e Salomão Soares (17/8), Marcelo Magalhães Quarteto (18/8), Marcos Ruffato (19/8) e O Grivo (20/8). Rafael Martini (17/8), André Mehmari e Maria João (18/8) e Enji Erkhan (20/8), além do Wagner Tiso Trio, são as atrações do CCBB.
Golgher hesita, mas acaba entregando, de “bate-pronto”, alguns destaques desta edição. “O Tiso, sem dúvida, é um deles, por ser um monumento da nossa cultura. O trabalho de composição e gravação que o Martini fez com ‘Martelo’ (novo álbum do artista) é uma coisa importante dentro do festival, porque é muito elaborado, muito especial”, aponta.
O Sexteto Sucupira, segundo ele, “consegue juntar duas coisas difíceis: a trama da música instrumental com a festa; é um negócio para cima, uma espécie de celebração da música brasileira”, diz.
Atrações internacionais
Golgher chama a atenção para as atrações internacionais – Enji Erkham e Kathrine Windfeld. “Kathrine é uma compositora europeia que tem alcançado proeminência com seu trabalho focado nas big bands. A Enji vem da tradição do canto gutural da Mongólia. Nesse sentido, seu show se conecta com o Congresso Acadêmico Pensar Música, que tem como tema ‘A improvisação nas margens’, driblando a ligação estrita do jazz só com os Estados Unidos”, ressalta.
Ações educacionais ampliam agenda
Ações conexas ampliam a abrangência do Savassi Festival. Uma delas é o Estúdio de Portas Abertas – fruto da parceria com os principais estúdios de gravação da capital mineira. O objetivo é aproximar o público da rotina de cinco estúdios para conhecer o que ele tem produzido.
O Espaço Cultural do Livro de Música é uma feira, organizada em parceria com a Tipografia Musical, com livros de outras editoras especializadas, como Vitale, MusiMed, Cobogó, Fino Traço e Neutra. Será montada na praça da Savassi, no próximo domingo, das 9h às 20h.
A educação também ganhou destaque. Workshop sobre técnicas vocais do canto gutural tradicional da Mongólia será ministrada por Enji Erkhem, na quarta-feira (17/8), às 15h, no Conservatório UFMG.
Masterclass no Conservatório
No dia 19, a partir das 10h, também no Conservatório, haverá masterclass de composição, piano e arranjos com Kathrine Windfeld. Por fim, no dia 20, às 11h, no Clube de Jazz do Café com Letras, acontece o workshop ministrado por Henrik Hansen, baterista que acompanha Windfeld.
O desejo é criar ambiente propício para que novos talentos, projetos e colaborações surjam. “É o caso da Enji Erkham. Poderia trazê-la só para o show e ela ir embora, mas se ela participa do congresso e oferece masterclass, isso amplifica sua presença aqui. Projetos novos saem é na hora do cafezinho. O modelo OVNI, que vem, aterrissa, toca e vai embora deixa um rastro muito ralo. A ideia é engrossar esse caldo”, conclui Bruno Golgher.
SAVASSI FESTIVAL 2022
De amanhã (15/8) até a próxima segunda-feira (22/8) nas ruas, praças, teatros e restaurantes de BH. Apresentações ao ar livre têm entrada franca. Ingressos custarão até R$ 25 (inteira) para eventos em espaços fechados. Programação completa: www.savassifestival.com.br