Toninho Horta venceu Grammy com ‘melodias montanhosas de Minas’
Pedro Galvão, jornal Estado de Minas, 21/11/2020
Em Belo estão canções consagradas, como Durango Kid, Saguin e Beijo Partido. Em Horizonte, por sua vez, concentra nove faixas inéditas. As duas partes juntas tornam o disco duplo Belo Horizonte simbólico para os 50 anos de carreira de Toninho Horta.
Além de relembrar os sucessos do passado, destacar a criatividade do presente e homenagear a cidade natal, o trabalho gravado com a Orquestra Fantasma foi escolhido na noite da última quinta-feira (19) como Melhor Álbum de MPB em Língua Portuguesa, na edição 2020 do Grammy Latino. Prêmio inédito para o artista de 71 anos e longa trajetória internacional.
Lançado em maio do ano passado, Belo Horizonte venceu uma concorrência de peso. Estavam indicados O amor no caos – Volume 2, de Zeca Baleiro, Bloco na rua , de Ney Matrogrosso, Planeta fome, de Elza Soares, e Caetano Veloso & Ivan Sacerdote.
Para o instrumentista e compositor mineiro, o reconhecimento nessa que é uma das maiores premiações da música pop mundial, “retrata a batalha de 50 anos de carreira e uma vida dedicada à música“. Na opinião dele, “premiaram por duas coisas, pelo conjunto da minha obra e pela qualidade do disco, que tem um ótimo trabalho de concepção, de gravação, conteúdo e performance da Orquestra Fantasma, que é minha banda oficial há 40 anos. É o resultado de tudo“.
Como a cerimônia foi realizada a distância, com transmissão pela internet, em virtude da pandemia do novo coronavírus, Horta acompanhou a premiação em seu apartamento, na Região Centro-Sul de BH, e festejou bastante. “Já estávamos muito felizes com a indicação, há alguns meses. Muita gente me falava que eu ia ganhar e isso me gerou uma ansiedade, um frio na barriga. Nós nos vestimos como se estivéssemos em um teatro chique, em Los Angeles, e acompanhamos. Quando ouvimos Belo Horizonte já começamos a gritar”, conta o músico, que estava acompanhado pelas irmãs, que trabalham com ele.
Para Toninho Horta, o reconhecimento no Grammy Latino premia também suas raízes mineiras. “Essa categoria era sempre entregue a um cantor ou intérprete. Eu sou mais instrumentista e guitarrista, então escolheram um representante da música instrumental”, comenta.
A característica do álbum premiado é outro motivo de alegria para ele. “Isso teve uma validade muito especial para mim, pois é um disco legal, alegre, interativo, nada de complicado, tudo do coração.”
Trata-se de um álbum, segundo seu autor, “muito influenciado pelas melodias montanhosas de Minas, com intervalos distantes, notas altas e baixas, que fazem o contorno das montanhas. Temos essa característica aqui, cada um com sua influência”.
E ele enumera as influências que marcaram o Clube da Esquina, movimento musical ao qual pertence: “O Beto Guedes tem o chorinho; o Lô tem a Bossa Nova; o Milton, o canto gregoriano; e eu tenho a minha (influência), que é o jazz. Rodei o mundo tocando e chegou a hora de o prêmio ser meu. Só tenho a agradecer“.
No embalo do Grammy Latino, Toninho Horta promete novidades para o público em breve. Está previsto para dezembro o lançamento de um livro, uma espécie de encarte ampliado, sobre o disco Belo Horizonte, contando a história da Orquestra Fantasma e detalhando a produção.
O próximo álbum também está delineado. Mas Toninho Horta aguarda um momento mais favorável no controle da crise sanitária para ir aos Estados Unidos finalizar Standards and Stories, com repertório de canções populares.