‘Tribute to Don Alias’ por Alfredo Dias Gomes
Gustavo Cunha, 03/08/2017 para https://gustavoccunha.blogspot.com.br/
Don Alias foi um do grandes percussionistas da era do jazz-rock. Esteve presentes em sessões históricas de registros de Miles Davis, Weather Report, Carla Bley, Joni Mitchel, Jaco, Santana, entre outros; e colocou a percussão em primeiro plano, em um universo em que a descarga elétrica era a principal protagonista. Don Alias nos deixou em 2006, mas ficou seu legado e sua influência para as gerações seguintes.
O baterista Alfredo Dias Gomes celebra a memória do percussionista Charles “Don” Alias em Tribute to Don Alias, resgatando seu repertório ao longo de sua trajetória em composições como “Sweetie-Pie”, “Samba De Negro”, “Uncle Jemima” e “Vaya Mulatto” e “On the Foot Peg”, registros do grupo Stone Alliance, esta última composta pelo trompetista Marcio Montarroyos; e “Creepin”, clássico tema de Stevie Wonder (Fulfillingness’ First Finale, 1974), também gravado pelo grupo. Para fechar o disco, um registro solo de Alfredo Dias Gomes em homenagem a quem teve o privilégio de conhecer e ter aulas de bateria quando Don Alias estava no Brasil.
“Don Alias foi o meu grande professor de jazz e jazz fusion. A pegada forte e a maneira de tocar aprendi com ele, foi uma grande inspiração e um grande incentivador do meu trabalho”, diz Alfredo Dias Gomes, que tem ao seu lado nesta sessão Widor Santiago no sax tenor, Yuval Ben Lior na guitarra, Lulu Martin nos teclados, Berval Moraes no baixo e a participação do percussionista Marco Lobo.
Entrevista
Gustavo Cunha – Don Alias esteve presente em formações pioneiras do jazz-rock. Foi o grande precursor da percussão no estilo?
Alfredo Dias Gomes – Sim, junto com outros grandes percussionistas como os brasileiros Airto Moreira e Don Um Romão.
Don Alias participou do álbum marco do jazz fusion “Bitches Brew” do Miles Davis, não só como percussionista mas também dividindo as baterias com Jack deJohnette.
GC – O grupo Stone Alliance foi um marco importante na carreira de Don Alias como líder e compositor. Como deu-se a escolha do repertório para este tributo?
ADG – Eu dei preferência para as músicas que assisti eles tocando ao vivo, eu queria muito gravá-las. E inclui duas músicas do álbum Heads Up de 1980 – “Uncle Jemima” e “Georgia O”.
GC – Você teve a oportunidade de tocar com o “general” Marcio Montarroyos, que inclusive protagonizou um disco ao lado de Don Alias. Foi nessa época que você teve o encontro com Don Alias? Como foi essa experiência?
ADG – Profissionalmente eu só toquei com o Márcio mais tarde, mas o conheci com 14 anos de idade quando ele era professor de trompete do meu irmão Guilherme. Eu virei um seguidor do Márcio, andava de cima e para baixo com ele, fazíamos jam sessions na minha casa, gravações experimentais e conhecia todo o repertório dele.
Quando o ‘Stone Alliance‘ veio ao Brasil pela primeira vez eu tinha 16 anos, e foi por intermédio do Márcio que eu comecei a ter aulas de bateria com o Don Alias. A primeira levada que o Don Alias me ensinou foi da música “Miles Runs the Voodoo Down” do álbum “Bitches Brew”. Eu me saí muito bem porque tinha o disco em casa.
Foram muitas vindas do Stone Alliance ao Brasil que eu nem lembro mais quantas foram. Numa dessas vindas eles estavam ensaiando na casa da família do Márcio, no Recreio dos Bandeirantes, meus pais também tinham casa lá, nós éramos vizinhos e nessa época uma casa no Recreio era como uma casa de campo. Alguma coisa aconteceu, faltou água ou luz na casa do Márcio e eles não podiam ensaiar, então o Márcio me perguntou se eles podiam continuar os ensaios na minha casa. Não posso descrever a minha felicidade.
Um dia, os ensaios já rolando na minha casa, o Don Alias ainda não tinha chegado e estavam ensaiando somente o Gene Perla, Steve Grossman e o Márcio. Certa hora o Márcio vira pra mim e fala: “Alfredo, vamos ensaiar a minha música On the Foot Peg! Essa você sabe, toca aí!”. Quando acabou a música todos me cumprimentaram e eu nunca esqueci este momento. Dei uma canja no ensaio com o Stone Alliance!
GC – Ao seu lado nesse tributo está a mesma formação base dos últimos trabalhos – “Looking Back” e “Pulse”. Como é essa sinergia do grupo no resgate do movimento jazz-rock?
ADG – Na verdade são músicos que tiveram, de uma forma ou de outra, uma passagem pelo fusion. Todos tem seus trabalhos, outros estilos, mas todos conhecem a onda muito bem.
O Widor também viveu essa época e sempre tocou comigo ao vivo e nos meus discos; o Yuval é de outra geração, mas estudou em Los Angeles com o Scott Henderson; o Lulu Martin nos conhecemos há tanto tempo que nesse disco chegamos ao ponto de dividir a mesma música nos teclados; e tem ainda a participação do Marco Lobo que, assim como o Widor, tocam com o Billy Cobham.
Você pode adquirir o disco nas principais plataformas digitais – iTunes, Spotify e CDBaby.
“Tributo to Don Alias” tem a produção de Alfredo Dias Gomes, foi gravado e mixado no ADG Studio por Thiago Kropf e masterizado em Magic Master por Ricardo Garcia. O design gráfico é da REC Design. Assessoria de Imprensa é da Tempo3 Comunicação.
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