De braços abertos para a música de Vagner Faria
Quando cursava economia em BH, em minha primeira ida Divinópolis acabei conhecendo o pianista Túlio Mourão. Amizade essa que me propiciou conhecer a nova geração instrumental da cidade: o violonista Renato Saldanha, o baterista Edvaldo Ilzo e é claro, o baixista Vagner Faria. Desde 2010, quando lançou seu primeiro trabalho, “Além do Olhar”, comecei a divulgá-lo aqui no site. Agora, Vagner está lançando seu terceiro trabalho “De braços abertos e Olhos no infinito”. Abaixo, segue a entrevista onde Vagner nos conta um pouco sobre a sua carreira, o novo disco e projetos.
Wilson Garzon – Quando e como foi a sua escolha pelo contrabaixo? Foi sempre o elétrico? E o jazz, apareceu ao mesmo tempo desse escolha ou foi depois?
Vagner Faria – Comecei tocando violão aos 13 anos de idade, nessa mesma época comecei a frequentar as aulas de música na escola municipal de música de Divinópolis. A descoberta do contrabaixo aconteceu aos 14 anos,quando me apresentaram o trio canadense Rush; o violão foi então aposentado. Já me aventurei pelo baixo acústico, mas a sonoridade que busco nas minhas músicas é a sonoridade do baixo elétrico, quem sabe um dia volta a me arriscar no “gigante”!
O jazz apareceu mais tarde na minha vida. Por algum tempo cultivei cabelos longos, brincos nas orelhas, enfim, era um típico roqueiro. Aos 18 anos conheci o Renato Saldanha, que me apresentou uma outra música, era a música instrumental. Impossível não se apaixonar pela liberdade e possibilidades que a música instrumental oferecia. Foi paixão à primeira tocada.
WG – Em 2010 você lança seu primeiro trabalho, “Além do Olhar” e em 2014 você nos apresenta seu segundo, “Enquanto as folhas caem“. Em ambos, o repertório é autoral. Mas as formações não foram as mesmas. Os cds seguem o mesmo conceito ou são diferentes?
VF – Até hoje quando escuto o ‘Além do olhar’ e me surpreendo com as músicas. São músicas onde em momento algum me preocupei em ser “O instrumentista”, a centralidade das ideias. O importante era a valorização das melodias. Foi um disco embalado pelo prêmio BDMG Instrumental, do qual fui um dos vencedores em 2009.
‘Enquanto as folhas caem’ nasceu 4 anos depois. Nestes quatro anos entre um trabalho e outro, compus de maneira mais madura, pensando além da formação de quarteto que era a formação tradicional do meu primeiro trabalho. Alguns rascunhos de músicas que não entraram em ‘Além do olhar’ foram repaginadas para este novo trabalho. Nele contei com as participações de muitos amigos músicos: Bill Lucas (percussão), Célio Balona (acordeom), Fernando Sodré (viola caipira), Guilherme Fonseca e Wilson Sideral (guitarras), Enéias Xavier (teclados) e Edvaldo Ilzo (bateria), além da banda de apoio composta por Arthur Rezende (bateria), Christiano Caldas (piano/teclado) e Renato Saldanha (violão/guitarra).
Este álbum foi um trabalho mais experimental, com várias formações diferentes, várias sonoridades, assim com no ‘Além do olhar’, o repertório de ‘Enquanto as folhas caem’ é totalmente autoral, com exceção de 7×0 que é do Renato Saldanha.
WG – Em 2019, você lança seu terceiro CD. Passados cinco anos, o que há de novidade em “De braços abertos e Olhos no infinito“?
VF – ‘De Braços abertos e olhos no infinito’ é o meu disco mais pessoal, pois retrata uma fase da minha vida onde estou aberto a novas ideias, novas sonoridades, mas ao mesmo tempo olhando cada vez mais pra dentro em busca do meu infinito. Optei por uma formação de trio, não a formação tradicional de power trio, baixo-guitarra-bateria. Optei por ter o teclado no lugar da guitarra, pelas possibilidades harmônicas que o teclado oferece. A formação de trio sempre me fascinou, com essa formação me distancio um pouco das formações tradicionais dos trios de jazz, que são guitarra-baixo-bateria, ou piano-baixo-bateria; o som ficou mais visceral, mais orgânico, e eu posso executá-la assim como foi gravado.
WG – O repertório é composto por oito músicas autorais. Conte-nos um pouco sobre o seu processo de criação.
VF – No meu processo criativo não há regras; sempre que estou tocando buscando novos caminhos e me deparo com alguma boa ideia, paro, registro e depois de algum tempo volto a escutar esses rascunhos pra ter certeza que não era só um “paixão de verão”. Se a ideia continua a me emocionar, trabalho a composição. Nunca compus uma música de uma vez, sempre trabalho as partes, as sonoridades, a forma. Os temas deste disco refletem muito o meu momento atual.
WG – Dessa vez você gravou o cd dentro do formato de trio, tendo ao lado, Arthur Rezende e Christiano Caldas. Quando se decidiu por esse formato?
A ideia de gravar em trio foi uma maneira de buscar uma sonoridade mais orgânica e ao mesmo tempo mais moderna, exploramos muito os timbres, pads flutuantes, pianos com distorção, bateria sem esteira na caixa, baixo com alguns delas e reverbers. A princípio o disco seria em quarteto, mas de certa maneira ficaria muito parecido com o primeiro disco, por isso a escolha pelo trio com teclado-baixo-bateria, com gravações ao vivo.
06 – Você também lançou o DVD, “Enquanto as folhas caem.doc“. Quando ele ficou pronto? Fale um pouco sobre e a proposta em gravar um documentário.
VF – O dvd ‘Enquanto as folhas caem.doc’ registra o processo de composição, arranjos, gravação mixagem e masterização do disco. O making off sempre foi a parte dos dvd’s de música que mais gostava de assistir, assistia antes mesmo de ver o show. ‘Enquanto as folhas caem.doc’ foi basicamente arranjado em estúdio. Cheguei com as músicas escritas e as ideias na cabeça e não houve ensaios antes das gravações. Fomos tocando e adaptando os instrumentos as ideias pré-concebidas que eu tinha para cada música, trabalhávamos uma música por dia.
WG – Como é a luta de um jazzista em Divinópolis?
VF – Costumo me auto intitular como um roqueiro que faz música instrumental; não me considero um jazzista. Há muito que evoluir na cena da música instrumental no país. Morar no interior tem suas vantagens, você tem mais tempo pra viver, quase não uso carro, tenho tempo pra leitura que é uma das minhas paixões. Como direciono meu trabalho para uma carreira artística e não para um músico free lancer, acredito que com as ferramentas que temos hoje, Facebook, Instagram, Spotfy, Youtube, posso me conectar com o mundo independentemente de onde esteja morando. Mas, mudanças nunca são descartadas.
08 – Pelos títulos de seus trabalhos, você tem uma atração pela poesia. Também rascunha uns poemas?
O saber me seduz, não só o saber musical. Adoro a Literatura, Física, Biologia, Matemática, História, Política, Religião. Não quero me permitir ser apenas um músico virtuoso, até porque essa não é a minha busca artística. Nos livros de teoria a música é composta por melodia, ritmo e harmonia: a melodia é o meu grande alvo, a harmonia é apenas um complemento. Podemos verificar isso nas músicas de domínio público, sem a melodia, é impossível rearmonizá-las. Quanto a escrever, nunca me aventurei por este caminho, quem sabe um dia!
WG – Quais são seus próximos projetos?
VF – Meus próximos projetos é a divulgação do meu trabalho pelo país afora. Para isso apresentarei projetos nas leis estadual de cultura e na lei Rouanet, para viabilizar turnês pelo estado e pelo país.
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