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Rio das Ostras: o Festival de volta à Corpus Christi

Dan Mendonça, luthier e jornalista bissexto, em matéria exclusiva para o Clube de Jazz.

Escrever sobre música em festivais, traz aquele sentimento de dejavu, gostoso, instigado ao rever as fotografias e relembrar as emoções de ter ouvido música de tão boa qualidade. A qualidade do som colocada à disposição dos nossos ouvidos nesta edição de Rio das Ostras, mais uma vez sob a competente operação d técnico Gerubal nos PA’s.

Desta vez contando com reforços de médias e altas frequências para trás da Mix House, proporcionando então um volume bem mais uniforme em toda a cidade do blues do jazz. Assim Stênio Matos, produtor do festival, batizou já há alguns anos este grande espaço que acolhe o maior palco de Rio das Ostras.

Esse ano, foi denominado Palco Sesc. Em razão da grande e decisiva importância que a entidade teve em apoiar essa edição do evento. Os palcos da Praça São Pedro e da Lagoa de Iriry, também tiveram som de qualidade excelente, bem como o local onde se apresentavam as bandas novatas de forma bastante independente. Elas agora contam com horários mais rígidos e principalmente excelente equipamento de sonorização e técnicos de primeira linha.

A estrutura de fornecimento de bebida e alimentação, esteve como sempre, muito bem feita, e este ano o espaço de restaurantes além do piso elevado, teve um aumento significativo no número de mesas, trazendo conforto e principalmente garantia de espetáculo em caso de chuva, que aliás praticamente não deu as caras no evento desse ano.

O espaço, da antiga casa do blues, agora rebatizada espaço Arthur Maia, apresentou muitas boas atuações, de bandas que ainda não tem um nome estabelecido no circuito musical tradicional do país. Mas não lhes falta, aliás sobra, muito vigor, personalidade e vontade de estar em breve nos grandes palcos dos festivais brasileiros e internacionais.

Principais Shows

Vamos então às atrações que mais me encantaram aos ouvidos nessa bem-vinda e renovada edição do melhor festival do gênero na América do Sul. A atração que abriu o palco da praça São Pedro esse ano, e no sábado voltou a se apresentar no palco principal, foi uma banda de jazz:

1 – Mo’Zar jazz band
Formada por jovens, oriundos de projetos sociais das Ilhas Mauricio. Diminuto país insular, localizado a leste do continente africano. É emocionante ver uma banda inteiramente formada de afro descendentes, jovens e crianças, tocando com perfeição, todo tipo de instrumentos de cordas, sopro, teclados e percussão.
Interpretando principalmente composições próprias , alguma coisa do Jazz tradicional, com o destaque para um contrabaixista de cerca de 12 anos.

O menino toca pulsando o tempo todo seu contrabaixo, guiando os companheiros de swing, numa jornada incrível de bom jazz, com direito a vários solos, de bateria, sopros, violino e guitarras. Certamente a maioria dos membros dessa banda se tornarão músicos profissionais, numa trajetória que certamente modificará o futuro de suas vidas. Tomara que apareçam mais vezes pelo Brasil. Assisti ambas apresentações, e foram impecáveis. Ao final da segunda, no palco principal, não resisti e pedi uma foto com parte da banda.

2 – Macahíba Jazz
Na abertura oficial do evento, na quinta-feira à noite, no palco Sesc, a Macahíba Jazz, com integrantes de Macaé e Rio das Ostras, fez uma apresentação, com direito a muito solos do contrabaixista, um profundo admirador do homenageado da noite, o contrabaixista de Niterói, Arthur Maia.

3 – Chico Chagas
cidadão do mundo, nascido acreano e atualmente habitando a ilha de Vitória, no Espírito Santo, de onde sai para suas atividades nacionais e internacionais, apresentando -se nos melhores festivais e, gravando com a nata da música brasileira. Acompanhado do baixo de Alexandre Cavallo e a bateria de Cristiano Galvão, Chico pode mostrar todo seu virtuosismo, sempre apoiado na absoluta competência de seus parceiros. Tocou composições populares brasileiras, standards de jazz e composições próprias, como um comovente tango de sua autoria. E em alguns momentos ainda levou o público a cantar. Sivuca, Dominguinhos, e outros grandes acordeonista brasileiros, inspiram Chico, que lhes fez as devidas homenagens.

4 – Romero Lubambo e Diane Reeves
Lubambo é, muito provavelmente, hoje o nosso violonista e guitarrista mais inserido no conceito do jazz internacional, trouxe a sensacional cantora Diane Reeves. Já entrosados por muitas apresentações em festivais pelo mundo e casas de show dos Estados Unidos, a dupla, acompanhada de, Marcelo Mariano, Ivo Senra e Cláudio Félix, fez uma apresentação impecável, contando com um repertório do melhor do jazz e da bossa, que tanto encanta a cantora americana.

5 – Bob Francischini
que já havia pisado o palco de Rio das Ostras em edições anteriores, temperando com seus sax apresentações de outros bambas do jazz americano. E veio nesta edição com sua própria banda. Com destaque para Rodney Holmes, sem dúvida nenhuma o baterista que mais aplausos amealhou neste festival, com seus solos furiosos, conjugando ritmo e harmonia, a encantar o público. Não precisava do patrão ter revelado sua participação como baterista dos mais famosos discos de Carlos Santana. O cara é pura majestade….

Francischini é um enorme saxofonista em todos os sentidos. Tocando com o excelente baixista Lincoln Goines e mais uma vez Ivo Senra. Não bastasse essa formação, Ainda agregaram Romero Lubambo para uma participação especial. Foi uma viagem à parte.

6 – Lucky Peterson
também não é estreante no Brasil, já havia vindo ao evento anos atrás, fez memorável apresentação Em Rio das Ostras. Enfim voltou acompanhado da esposa e do fera da guitarra, Shawn Kellerman, grupo complementado pelos brasileiros Bruno Falcão, Fred Barley e Flavio Naves, também veteranos em acompanhar blueseiros internacionais que nos visitam.

Pilotando os teclados — piano e um hammond e cantando com grande energia, esse monstro do blues que começou aos cinco anos de idade, seguindo o exemplo dos ídolos do Blues de então, que se apresentavam num night club que seu pai possuía, tem a música nas veias, empolga a plateia e se rende a ela, indo tocar no piso, de guitarra em punho, solando com maestria e posando para fotos em close e selfies com o público. É inesquecível sua performance.

7 – Roy Rogers
guitarrista californiano, que já pode ser considerado um veterano desse festival, parece um vinho! Refina-se com o tempo, está cada vez melhor! Mantém-se com grande energia, abusando do Slide, a técnica em que vai se consagrando como mestre. Referência viva maior, de muitos guitarristas internacionais. Ele usa instrumentos pessoais, pequenas guitarras feitas para ele, além de um antigo violão, com captação humbucking simples e toca absolutamente sem pedais! O resultado é de arrepiar.

Faz uma apresentação até longa em termos de festival, mas o tempo todo mantendo um pique incrível, longos solos e, baixo cheio e aveludado, contrastando com a pegada da nervosa e incisiva slide guitar. Roy, conseguiu agregar o excelente baterista Kevin Hayes, mantendo o amigo baixista Steve Ehrmann, outro gentleman. Lembraram com carinho do primeiro Santa Jazz e querem voltar.

8 – The Jig
A banda holandesa The Jig, nessa sua terceira incursão brasileira, se mostra mais madura, São grandes instrumentistas, trabalhando majoritariamente na Europa e com grandes influências do jazz mundial e claro, do rock, blues e também do bom funk americano, sendo então uma legítima Jazz fusion Band.
Muito interessante a atitude dos holandeses, com sua alegria contagiante, mostrando que tem a fórmula de levar o público ao balanço.

9 – Jonathan Ferr
pianista carioca, apresentou um belo espetáculo, mostrando grande domínio dos teclados e uma sonoridade diferente em termos do universo da música internacional brasileira. Vale o destaque para os instrumentistas que os acompanham também. Alex Sá, Fecundo Estrfanell e Caio Oica. Certamente terão uma grande carreira.
Enfim, foi muito bom ver Rio das Ostras ter o seu festival de volta na data tradicional do feriado de Corpus Christi, em grande estilo. Que os bons ventos de um festival tecnicamente perfeito, com um dos melhores elencos musicais de todos os tempos, voltem a animar as autoridades, o comércio e a hotelaria da cidade.

 

Parabéns a Stênio Mattos e equipe por mais esse evento.