Argentina

O vibrante Jazz de Mariano Loiacono

Em minhas andanças por Buenos Aires, acabei conhecendo o trompetista Mariano Loiacono, que na época tinha lançado seu primeiro trabalho, “I knew it“. Já era reconhecido, tanto pelos críticos quanto pelos músicos, como uma das maiores revelações da cena do jazz na Argentina. Ao longo do tempo, pude acompanhar a sua trajetória, tanto no formato de quinteto quanto nos trabalhos de duo ou trio com o pianista Adrián Iaies. Mas o seu ‘giant step’ hardbopeano se deu quando gravou três trabalhos para a RivoRecords. No final de 2018, Mariano lançou seu trabalho mais ambicioso, “Vibrations“. E é em cima desse projeto que o Clube de Jazz realiza essa entrevista com o propósito de divulgar a grande arte desse músico.

Wilson Garzon – Você nasceu dentro de uma família musical? O trompete foi seu primeiro instrumento?
Mariano Loiacono Meus pais sempre foram fãs de música. Meu pai toca um pouco de trompete, desde que ele era um menino e minha mãe, toca um pouco de violão. Sempre de maneira amadora. Meu primeiro instrumento foi o violão, quando eu era muito jovem; depois estudei piano e aos 12, comecei com o trompete.

WG – E quanto ao jazz, quando você decidiu por ele? Que professores/músicos foram decisivos na sua formação?
ML – Eu decidi estudar Jazz quando tinha 23 anos. Antes, eu só tocava música clássica. Eu tive muitos professores que me ensinaram; entre eles, destaco Julio Kobryn, Ernesto Jodós, George Garzone e  Scott Whendholt.

WG – Em 2008, você lança pela BAU seu primeiro cd, “I Knew it”. Seis das sete músicas são de sua autoria. Esse trabalho representava uma síntese da sua trajetória ou apenas uma etapa?
ML – “I Knew it” é um reflexo do que eu era naquele tempo como músico. Meu ambiente, naquela época, me ajudou a fazer esse registro e nessa direção. É um disco que eu gosto muito, embora eu ache que mudei bastante a minha maneira de tocar, acho que foi um primeiro passo importante na minha carreira.

WG – Pela RivoRecords, você lança três trabalhos: “What’s Knew” (2011),  “Warm Valley” (2012) com a pianista Paula Shocron e”Hot House” (2013) em formato de noneto. São trabalhos realizados dentro do clima hardbop e com o repertório baseado em Standards do gênero. Além do êxito artístico alcançado por esses trabalhos, foi o amadurecimento para se tornar um jazzman mais completo.
ML –Trabalhar para o selo RivoRecords fez de mim, sem dúvida, um músico de jazz mais completo. Eu estava começando a explorar mais seriamente a tradição do Jazz e a ideia do produtor (Justo Lo Prete) era gravar principalmente os standards. Isso me motivou a gravar minha visão de temas que já são clássicos do repertório de jazz, o que é um grande desafio muito grande. Desde então, mudei-me principalmente para o estilo do Hard Bop. Cada um desses álbuns tem algo de especial, incluindo “Black Soul“, o disco que foi gravado ao vivo no Thelonious, foi também um desafio.


WG –Você lança “Vibrations” na Argentina fevereiro de 2019, cd que foi gravado em NY.  Qual é o conceito de “Vibrations”? Ele sintetiza a sua caminhada em se tornar um músico de jazz em NY?
ML – Vibrations é o meu projeto mais ambicioso. É o resultado de ir vários anos a Nova Iorque para estudar, ouvir música, e pouco a pouco a tocar com músicos importantes de lá, como Vincent Herring, David Williams, Willie Jones III, George Garzone e outros que me ensinaram muito e me exigiram ao máximo.

Eu tive sorte que George, Anthony, David e Rudy concordaram em tocar no meu álbum, e isso fez dele um álbum muito especial. Espero continuar visitando NY e a tocar com esses gigantes do jazz muitas vezes. É sempre um sonho!

WG – Em relação aos músicos (Antonio Hart, Ron McClure, Anthony Wonsey e Rudy Roiston), a partir de quando eles começaram a fazer parte do seu projeto de formar um quinteto e gravar um cd?
ML – Antonio veio no lugar de George Garzone para a apresentação do álbum. Em relação a Antonio, nos encontramos em 2017 e quando eu liguei para ele (porque George não poderia vir em fevereiro) ele concordou em fazer uma turnê na Argentina. Conheci David e Wonsey quando tocamos com o sexteto de Vincent Herring em 2016 e conheci Rudy Royston quando tocamos com o quinteto de Luis Perdomo.


WG – O repertório é composto por seis músicas. Gostaria que você fizesse uma análise de cada uma delas. Tirando as suas autorais, como se deu as escolhas dos standards.
ML – Bem, o Bluescycle é um Blues com uma parte B, forma típica de Blues composto. A melodia é como um ciclo e é daí que vem o título; sempre gostei do Blues com a parte B, acho interessante o descanso que dá à forma.

Waltz for my Hero é dedicado ao meu pai. Eu a escrevi há um tempo atrás. Foi usado na música de um filme e agora a gravei nesta versão para quinteto. Eu acho que o solo de Wonsey nessa música é lindo!

Vibrations é uma música que escrevi pensando na sonoridade do jazz de NY, que tem aquela energia tão especial, tão Nova York.

You don´t know what love is é uma das minhas baladas favoritas nos últimos tempos. Eu sempre vou trocando as baladas, de tempos em tempos.

Dear John é minha homenagem a Freddie (Hubbard); tocar um tema dele, pode ser ao mesmo tempo uma homenagem a Trane. A melodia parece maravilhosa em cima dos acordes de Giant Steps, e além disso, David Williams gravou a versão original no álbum “Bolivia” de Freddie e agora gravou esta versão para mim. Muito emocionante!

O último tema é To Michael Brecker, que é uma composição de G. Garzone. É uma linda melodia que George escreveu quando Michael morreu. Sobre uma base rubato fomos tocando a melodia e os solos sempre perto do tema. Tem uma energia muito especial tocar este tempo de música com o Garzone. Ele sabe muito bem onde levar a música nestes casos.

WG – Quais são as próximas etapas na divulgação de “Vibrations”? E quanto a seu trabalho com a Big Orquesta, pretende levar adiante?
ML – Agora, no dia 25 de julho, vou jogar no Porto Alegre! Mais tarde tenho mais concertos em clubes onde tocarei a música de Vibrations. Vou tentar ir a NY antes do final do ano. Eu também tenho alguns compromissos com músicos de NY vindo para a Argentina.

Com relação à Big Orchestra, acho que é um projeto lindo, que mostra um resultado muito interessante. Nós sempre tocamos com a sala cheia no Centro Cultural Kirschner, para mais de 1000 pessoas em cada show. Recentemente fomos para o interior da província de Corrientes e pretendemos continuar levando o Jazz para o interior do país e trazer músicos de NY para continuar aprendendo, como aconteceu quando trouxemos Antonio Hart.