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O ‘Open Book’ de Fred Hersch

Luiz Orlando carneiro, Jornal do Brasil, 02/09/2017

 

Em 2015, por ocasião do seu 60º aniversário, Fred Hersch lançou o CD Solo, o 12º para o selo Palmetto. Os dois registros anteriores tinham sido Free Flying (2013), em duo com o guitarrista Julian Lage, e Floating, com o seu trio habitual (John Herbert, baixo; Eric McPherson, bateria).

A partir deste próximo dia 8 estará disponível nas lojas virtuais um novo álbum solo daquele que continua firme no atual pódio dos virtuoses do pianismo jazzístico, ao lado de Keith Jarrett e Brad Mehldau: Open Book (Palmetto), uma seleção de sete peças gravadas numa sala de concertos na Coreia do Sul, em ocasiões diferentes, com ou sem público, entre novembro de 2016 e abril deste ano.

Ao apresentar Open Book no site All About Jazz, Dan McClenaghan assim concluiu a review: “Este é um disco que nos dá a impressão de que Fred Hersch é o melhor pianista de jazz do mundo. Certamente, trata-se de uma afirmação impossível. Há uma dúzia de pianistas – talvez mais – que atingiram o mesmo nível de talento artístico. Mas, no momento, com Open Book, ele pode fazer uso desse título”.

Das sete faixas do álbum em lançamento, três são de autoria do pianista: Orb (6m25), de melodia romântica, ornada com delicados arpejos; a também meditativa Plain song (4m50); e a extensa Through the Forest, de quase 20 minutos, uma especulação sem rota pré-fixada, gravada ao vivo, e que pode ser melhor apreciada depois de lidas as seguintes notas que Fred Hersch escreveu para o seu Open Book:

“Tenho tocado jazz por mais de 40 anos. Hoje em dia, acho que o melhor estado de espírito quando sento ao piano é aquele do ‘vamos ver o que acontece’. Acabei descobrindo que o jazz não é tanto tocar o que você sabe, mas ir àqueles lugares nos quais você nunca esteve antes. Inicialmente fiquei assustado por pensar assim. Mas com a experiência acumulada, acabei me sentindo muito confortável com a liberdade que vem de se tocar, simplesmente, uma frase depois da outra.

Through the forest (a quarta faixa do CD) é um exemplo de improvisação sem rede de segurança ou ideias preconcebidas – eu simplesmente fui por onde me deixava levar até sentir que chegara a um destino musical e emocional. As outras seleções deste álbum têm estruturas: melodia, progressão harmônica e formas. Mas me delicio em obscurecer essas estruturas de forma que cada performance se torne uma expressão musical contínua de variação a variação – liberdade musical dentro de limites, com uma melodia (song) que eu gosto como meu assunto”.

Essas outras seleções a que Hersch se refere são Whisper not (6m25), aquela joia do book do saxofonista Benny Golson, que recebe um inusitado tratamento contrapontístico; Zingaro (7m55) de Tom Jobim, mais conhecida por aqui como Retrato em branco e preto; And so it goes(5m55), de Billy Joel; Eronel (5m40), de Thelonious Monk, a faixa mais eletrizante da setlist a nosso ver.

Vale anotar que Monk – o pontífice máximo do jazz como “o som da surpresa” – foi sempre um dos “santos do oratório” de Hersch que, em 1997, dedicou-lhe um álbum solo inteiro de 10 faixas (Thelonious: Fred Hersch Plays Monk, Nonesuch Records).

(A faixa Eronel do CD Open Book pode ser ouvida em: www.youtube.com/watch?v=yWspFW6DDOE )