Quinteto Urbano celebra 20 anos do primeiro CD
Fernando Ríos, site argentjazz.com.ar, 30/04/2020
Em novembro de 1999, o Quinteto Urbano entrou no estúdio Abasto al Pasto para gravar as 10 músicas que compunham seu primeiro álbum, todas com produção própria. O título do disco que seria publicado logo depois, era uma declaração de princípios: jazz contemporâneo argentino. Vinte anos depois desse trabalho, seguido por outros dois, o Quinteto Urbano continua na memória emocional como um dos melhores grupos que aconteceram no cenário argentino e uma referência indiscutível para as novas gerações de músicos do país.
Com pouco mais de cinco anos, cerca de 400 shows no país e no exterior, e apenas três álbuns, bastaram ao Quinteto Urbano para permanecer na história do jazz argentino. E embora a proposta estilística do grupo tenha sido um de seus pontos fortes, a criatividade e o virtuosismo de cada um de seus membros não foram menos notáveis: Juan Cruz de Urquiza (trompete), Rodrigo Domínguez (sax), Oscar Giunta (bateria), Diego Schissi (piano) e Guillermo Delgado (contrabaixo), agora músicos experientes e líderes de seus próprios grupos. E assim foi exposto desde o início, com o primeiro jazz contemporâneo argentino, no qual os ritmos e melodias do tango, milonga ou folclore naturalmente contribuem para dar uma nova aparência ao jazz em constante desenvolvimento.
Muitos anos depois, Oscar Giunta recordou diante de Marcelo Morales, do portal El Intruso, a primeira experiência do Quinteto nos estúdios:
“Este álbum representou para mim um momento muito difícil. Digo isso não apenas pensando na própria sessão de gravação, nem no álbum terminado, mas também por todo o ambiente que tínhamos naquele tempo como grupo e também uma certa ingenuidade e sinceridade que sentimos ao realizar este projeto. A sessão de gravação foi maravilhosa. Cheia de camaradagem, amizade, risadas e muitos sonhos para realizar esse álbum que estávamos cozinhando e vendo o projeto que estava sendo concluído. Eu tinha 23 anos na época da gravação do álbum e fiquei feliz por fazer parte de um projeto que sabíamos e tínhamos fé daria o que falar.”
Cronologicamente, pode-se dizer que esses jovens eram herdeiros estilísticos do bem conceituado grupo Quinteplus, uma combo sólido com um toque moderno, que alimentava suas músicas de componentes locais e apresentava músicos da geração anterior, como o trompetista Gustavo Bergalli, antes de sua experiência europeia. Mas a proposta do novo grupo tinha sua própria personalidade enraizada desde o começo.
E embora o estilo hardbop, nascido na década de 1950 na costa leste dos Estados Unidos, continuasse a incendiar a estética de grupo, os ritmos autóctones já começavam a predominar em seus próprios temas. Essa linha de composição não foi uma descoberta casual, mas claramente uma decisão madura, em torno da qual a personalidade do grupo começou a tomar forma e a se desenvolver.
Como lembra Rodrigo Domínguez, um de seus fundadores:
“Antes de formarmos o Quinteto, Juan Cruz e Oscar tinham uma ideia muito clara do que eles queriam fazer, da característica geral do grupo. Essa coisa de pegar ritmos daqui para fazer jazz foi desde o começo e é isso que distingue o Quinteto e uma das coisas pelas quais ele ainda é lembrado hoje”.
Mas, embora o Quinteto Urbano tenha começado a ser esboçado em pleno andamento do Jazz Club Buenos Aires, no Paseo La Plaza, na Avenida Corrientes, ele nunca tocou lá. Como antecedentes do Quinteto, iremos encontrar o trio que Rodrigo Domínguez possuía, com Guillermo Delgado e Oscar Giunta no ritmo, e no grupo similar que Giunta liderava na época, com Delgado e Facundo Bergalli na guitarra e que Juan Cruz de Urquiza às vezes se juntava como convidado. Domínguez, além disso, conhecia desde o colégio, Diego Schissi, que acabara de chegar dos Estados Unidos e com quem compartilhava diversos shows.
“A primeira vez que tocamos juntos foi em um lugar que não existe mais: o Spell Café, em Puerto Madero. Foi uma data do meu trio e Diego e Juan Cruz se juntaram ao show. Lembro que fizemos uma música de Schissi, que mais tarde incluímos no repertório do Quinteto Urbano, alguns standards e algumas das minhas músicas”, lembra Domínguez.
Com a ideia do quinteto em mente e alguns meses de ensaio, De Urquiza e Giunta começaram a procurar um lugar que lhes garanta uma data semanal, para começar a desenvolver um repertório e a fortalecer o entrosamento do grupo. Devido a coincidências estéticas, o Jazz Club era o lugar certo, mas a programadora Berenice Corti não podia garantir a constância que eles procuravam.
Finalmente, a estreia esperada do Quinteto aconteceu casualmente a poucos metros dali: no Bar Celta, declarado um dos bares mais notáveis da cidade e que ainda abre suas portas em Sarmiento às 1700, no coração de Buenos Aires. “Queríamos uma data semanal fixa. Queríamos um ciclo e isso era algo que na época não existia em nenhum jazzclub“, lembra Juan Cruz de Urquiza.
“Oscar tinha um contato no Celta, um bar que não programava jazz, e lá fomos nós. Começamos a ensaiar em março e estreamos em maio de 1999. Tocamos por oito meses toda quinta-feira como o Quinteto Urbano. E então nós gravamos o primeiro álbum. Depois disso, em 2000, fizemos um ciclo semelhante no Notorious e, no final daquele ano, gravamos o segundo álbum, que teve uma parte ao vivo que gravamos mais tarde, em 2001, também no Notorious”, lembra o trompetista.
Em maio de 2002, em um artigo no jornal de Buenos Aires Página / 12, o crítico Diego Fischerman mostrou em poucas linhas o espírito do grupo:
“Não há músico de jazz que não fale sobre seu próprio som. Algo, no entanto, está se tornando menos comum. Em um universo em que a imitação com o passado é abundante e com uma tradição que, pelo menos para os americanos, é muito opressiva, o Urban Quintet alcança o que poucos no mundo alcançam atualmente: soam diferentes.”
Essa é precisamente a proposta que o Quinteto manteve ao longo de seus seis anos de atividade, nos quais forjou seu estilo vigoroso em mais de 400 shows, alguns deles nos festivais mais importantes do mundo, junto com figuras como Dave Holland, Michael Brecker, Brad Mehldau e Wayne Shorter e em três álbuns que ainda permanecem hoje entre os melhores que a mudança produziu. Jazz contemporâneo argentino I e II e o último Em ascensão, lançado em 2003 na Europa pela prestigiada gravadora Fresh Sound e que não tinha edição argentina.
Em 2005, ano de despedida, o Quinteto Urbano recebeu o Konex Platinum Award pelo melhor grupo de jazz da década. A partir de então, seus membros fundadores iniciaram diferentes carreiras solo, o que lhes permitiu liderar seus próprios grupos e continuar sendo protagonistas da linha de frente na cena local.
Discografía
Quinteto Urbano. Jazz Contemporáneo Argentino. Indep. 2000
Quinteto Urbano. Jazz Contemporáneo Argentino II. Acqua Records. 2001
Quinteto Urbano. En Subida. Fresh Sound. 2003.
Juan Cruz de Urquiza (tp, composic),
Rodrigo Domínguez (st, composic),
Diego Schissi (pn, composic),
Guillermo Delgado (ctb) e
Oscar Giunta (bat)
NOTA (Oscar Giunta)
Também seria bom esclarecer no texto da nota, que recentemente, o selo “Club del Disco” (www.clubdeldisco.com) fez uma reedição em formato digital dos dois primeiros álbuns do Quinteto Urbano para todas as plataformas digitais:
“Quinteto Urbano – Jazz Contemporaneo Argentino” (gravado em 1999 e lançado no início de 2000). O primeiro álbum foi gravado e produzido pelo Quinteto Urbano, e originalmente distribuído pela gravadora Acqua Records.